O primeiro-ministro vai hoje ao parlamento para mais um debate sobre política geral, no qual procurará destacar a evolução da economia portuguesa para contrapor ao foco da oposição na série de incidentes que envolvem o ministro João Galamba.
Numa altura em que a polémica em torno do ministro das Infraestruturas domina o espaço mediático, António Costa deverá voltar a apresentar os dados do crescimento económico e da reduzida taxa de desemprego para desviar o foco do debate político do caso Galamba.
O ministro das Infraestruturas está envolvido em várias polémicas, nomeadamente a sua eventual responsabilidade na marcação de uma reunião entre deputados do PS e a ex-presidente executiva da TAP antes de a gestora francesa ir à comissão parlamentar de economia.
No âmbito da comissão parlamentar de inquérito sobre a TAP, foram conhecidos episódios considerados mais graves e insólitos: Agressões no gabinete do ministro; um computador levado do ministério com informação classificada por um ex-adjunto (Frederico Pinheiro) que pouco antes tinha sido demitido; e recurso ao Serviço de Informações e Segurança (SIS) para a recuperação desse computador.
O debate de hoje acontece num momento de distanciamento do Presidente da República em relação a Costa e quando a oposição exige não apenas a demissão de João Galamba, como o conhecimento pormenorizado da intervenção de membros do Governo sobre o envolvimento do SIS.
António Costa tem afirmado que não teve conhecimento prévio da comunicação ao SIS do incidente com o computador e, perante os pedidos para a demissão da secretária-geral do Sistema de Informações da República Portuguesa (SIRP), Graça Mira Gomes, designadamente por parte do PSD, defende a legalidade da atuação do SIS num caso que caracteriza como corriqueiro.
O primeiro-ministro tem sustentado a tese da existência de uma diferença entre o plano mediático e as “reais preocupações” dos cidadãos com as condições de vida, contrapondo com dados sobre a evolução da economia, como o crescimento de 2,4% no primeiro trimestre – um dos maiores da União Europeia -, a par de perspetivas de redução gradual da inflação e da dívida.
Tem também acentuado a ideia de que “a direita” quer precipitar uma crise política “artificial” antes de os benefícios económicos chegarem à vida da generalidade dos cidadãos.
CHEGA e Iniciativa Liberal defendem a dissolução do parlamento e a convocação de eleições antecipadas.
O PSD não foi tão longe, mas no encerramento das Jornadas Parlamentares do PSD, no Funchal, o presidente do partido, Luís Montenegro, defendeu que o atual ciclo político dominado pelo PS está a chegar ao fim.
No BE, o debate parlamentar com António Costa será o último de Catarina Martins como coordenadora do partido, função em que será substituída por Mariana Mortágua.
Tal como as bancadas à direita do PS, o BE defende a audição do primeiro-ministro, “de preferência presencialmente”, na comissão de inquérito à TAP e entende que João Galamba não possui a indispensável credibilidade para continuar como ministro.
O PCP assume uma linha de oposição diferente, procurando centrar a sua intervenção nas críticas à degradação dos serviços públicos e na exigência de uma resposta mais efetiva contra o aumento do custo de vida, secundarizando os casos em torno de João Galamba.