Dando sinais de desconforto físico ao erguer-se, e mais encurvado do que habitual, o Papa Francisco despediu-se hoje de Bento XVI, na primeira missa fúnebre celebrada por um sumo pontífice ao seu antecessor em dois séculos.
“Bento, fiel amigo do Esposo [Cristo], que a vossa alegria seja perfeita em ouvir a Sua voz definitivamente e para sempre”, disse o Papa Francisco ao concluir a sua homilia, centrada nas qualidades do Papa Bento XVI, e depois de ler uma passagem do Evangelho de Lucas que fala da crucificação de Cristo.
Esta foi a primeira homilia fúnebre de um Papa ao seu antecessor desde 1802, quando Pio VII celebrou o funeral de Pio VI, segundo a Vatican News.
Hoje no adro da Praça São Pedro, os sinos fúnebres receberam o caixão de Bento XVI, tal como bandeiras de diversos países e até da região alemã da Baviera; em algumas tarjas lia-se “Santo já”, num apelo à beatificação do papa emérito, que morreu sábado aos 95 anos.
Durante toda a missa – celebrada em vários idiomas, incluindo português e alemão – a praça parecia refletir a compostura que Bento XVI teve em vida.
Duas telas gigantes transmitiram imagens do interior da basílica para as cerca de 50.000 pessoas que, segundo a Santa Sé, vieram assistir presencialmente ao funeral do papa emérito e que acompanharam as celebrações por um livro de cerimónias distribuído pelo Vaticano.
A despedida de Bento XVI juntou também chefes de Estado de todo o mundo, incluindo o Presidente italiano, Sergio Mattarella e a primeira-ministra Giorgia Meloni e os seus homólogos Frank-Walter Steinmeier e Olfa Scholz. De Portugal veio o Presidente Marcelo Rebelo de Sousa e de Espanha a rainha emérita Sofia.
Muitos rostos estavam cobertos de lágrimas no final, quando o Papa Francisco abençoou o caixão, antes de este ser levado para longe do olhar dos fiéis.
Entre aplausos, ergueram-se bandeiras, incluindo da Alemanha, país natal do papa emérito, e tarjas que, em alemão, tinham inscrito “obrigado Bento XVI”.
Em lágrimas estava Joanna Koerber, de 54 anos, veio de perto da cidade alemã de Nuremberga, de onde saiu às 16:00 de quarta-feira para estar presente às 09:00 de hoje na Praça de São Pedro.
“O Papa Bento XVI foi um papa extraordinário. Conheci-o quando era pequena e ele veio como cardeal para nossa região. Foi um Papa justo, que não foi bem compreendido apesar de sua fortíssima mensagem de fé”, disse a fiel católica à Lusa, visivelmente emocionada.
Mietta Mentana, 64 anos, italiana de Roma, conta que não veio à Praça de São Pedro para assistir ao funeral do Papa João Paulo II, para “dar lugar” a milhões de pessoas que vieram de todo o mundo, mas hoje fez questão de marcar presença.
“O Papa Bento mereceu todo o nosso carinho e amor. Ele foi um ótimo guia”, disse à Lusa.
Entre os fiéis, Carlos Zorrilla, peruano de 64 anos, disse à Lusa ter interrompido as férias em Espanha para estar presente no funeral, um dia triste para a Igreja.
“Eu sou católico e ele é nosso representante, dos melhores”, afirmou.
Ao longe assistia ao vai-vem de fiéis enlutados o estudante português Hugo Semedo, 24 anos, às portas do café onde trabalha próximo da Praça de São Pedro, hoje vazio dos habituais turistas.
“Foi um dia muito triste, muito cinzento, muito silencioso”, observou à Lusa.