Muito do percurso democrático da Região Autónoma da Madeira tem sido, no que à governação diz respeito, um percurso de conflito, pautado por confrontos incitados e alimentados pelas pessoas que lideraram o executivo regional. Numa primeira fase, marcadamente pós-revolucinária, a animosidade foi (justificadamente) dirigida às forças da extrema-esquerda, que, no país e no arquipélago, procuravam usar as tão celebradas ‘conquistas de Abril’ como plataforma para a criação de um Estado declaradamente marxista, estrategicamente alinhado com a União Soviética e com a República de Cuba. Depois, o alvo governativo, já então controlado pelo PSD-Madeira, orientou-se para o Partido Socialista, entendido como o herdeiro de alguns dos mais inquietantes ideais comunistas, assim como a principal ameaça à hegemonia social-democrata. Uma vez solidificado o domínio laranja nos mais diversos níveis da vida cívica regional, desde a mais humilde casa do povo à presidência do governo, passando pelas associações culturais e recreativas, juntas de freguesia e câmaras municipais, a liderança do PSD-Madeira olhou mais longe, fazendo do governo da República, independentemente da sua cor partidária o alvo de muitas das suas mais vorazes críticas, com Lisboa a vestir a pele do metafórico lobo que, movido por um centralismo anacrónico, conspirava sem temor contra o bem-estar dos madeirenses e portosantenses. E, de luta em luta, de guerrilha em guerrilha e de inimigo em inimigo, a social-democracia conseguiu fixar os olhos do eleitorado cada vez mais longe da sua própria governação, evitando qualquer tipo de escrutínio incómodo do qual pudessem emergir as conclusões que, hoje, são a todos evidentes e assumem a expressão de décadas de verdadeira negligência política.
Efectivamente, na Madeira, como noutras zonas do país, há um enorme défice de responsabilidade governativa, e se, à custa de toda a espécie de jogadas políticas e, mais recentemente, da subserviência do CDS, o PSD local tem enriquecido as contas de certos grupos económicos, perfeitamente identificados e com ligações claras aos detentores do poder, a verdade é que os número não chegam ao bolso de quem trabalha, que tem visto, com natural desespero e desilusão, a insistência em obras inúteis, os concursos públicos com vencedores antecipados, os ajustes directos aos mesmos de sempre, o enriquecimento (em tempo recorde!) de certos detentores de cargos públicos, o agravamento da criminalidade, a perda significativa dos salários e do poder de compra, o aumento da precaridade laboral e a solidificação do compadrio como instrumento de ascensão social e profissional. Quando consideramos tudo isto, é inegável que o maior condicionalismo à afirmação e ao desenvolvimento equilibrado da Região em vários domínios não é o inimigo externo que Alberto João Jardim, Miguel Albuquerque e os seus acólitos partidários e em certa comunicação social tanto crucificam, mas sim um conjunto de inabilidades domésticas, incompetências governativas e subserviências inexplicáveis aos fomentadores de redes perniciosas e asfixiantes de interesses, cuja própria existência constitui um escárnio na cara da Democracia.
A cada dia que passa, os madeirenses e o portosantenses veem a sua condição cívica e a própria dignidade das suas vidas serem reduzidas ao papel de pagadores da longa factura de benesses, mordomias e vícios que se instalaram tragicamente nos corredores do poder. Todavia, em vez de verem os seus sacrifícios compensados com o correcto funcionamento das instituições em prol do Bem Comum, têm recebido a ignorância atrevida de gente que não mexe uma palha, a anestesia de discussões estéreis, a falta de rigor, a ausência de seriedade e entretenimentos de mau gosto patrocinados ao desbarate com dinheiros público e, usados para campanhas partidárias. Será a isto que a Madeira e o Porto santo estão perpetuamente condenados?
O CHEGA pensa que não e é exactamente porque acreditamos que os madeirenses merecem melhor, que os portosantenses merecem melhor e que é bem possível edificar uma Região na qual os políticos e as pessoas sintam, com igual seriedade, atenção e determinação, os problemas e os desafios do país real, que queremos fazer diferente e ser diferente. Não nos seduzimos pelo poder, nem por posições, nem, tão pouco, pela política feita de palpites insensatos e desculpas incoerentes. Porque percebemos bem a urgência do momento, estamos prontos para ajudar a escrever uma página nova e mais digna na política da Região Autónoma da Madeira.