“Os europeus consideram que a China não está a usar a sua forte influência para persuadir a Rússia a parar com a agressão”, afirmou Borrell, num discurso proferido na Universidade de Pequim, parte de uma visita de três dias à China.
“É difícil de compreender [a posição da China]”, observou, perante centenas de estudantes chineses. “Aquilo que está a acontecer é simplesmente a agressão por um país mais forte contra um país mais fraco”, apontou.
O responsável máximo pela política externa europeia afirmou: “Precisamos que a China convença os europeus de que não está aliada à Rússia nesta guerra”.
As relações sino-europeias atravessam um período difícil desde que a Rússia invadiu a Ucrânia em fevereiro de 2022.
A China afirmou ser neutra no conflito, mas mantém uma relação “sem limites” com a Rússia e recusou-se a criticar a invasão da Ucrânia. Pequim acusou o Ocidente de provocar o conflito e “alimentar as chamas” ao fornecer à Ucrânia armas defensivas.
Borrell explicou que a guerra fez da UE uma “potência geopolítica”.
“Isto significa que, na nossa visão do mundo, temos muito mais em consideração o poder militar e estratégico”, realçou.
O responsável europeu disse que a UE não teme um mundo multipolar e congratula-se com o facto de hoje a riqueza estar mais distribuída.
“O verdadeiro problema é que há mais atores, mas as regras estão ser menos observadas”, notou.
Borrell disse compreender a vontade das potências emergentes em reformar as instituições e agências internacionais, mas advertiu: “Se quisermos mudar estas instituições, temos de explicar porque razão queremos mudá-las e, mais importante, como as queremos mudar”.
“Sabemos que tem de haver reformas, porque muitas das regras foram adotadas quando muitos países ainda eram colónias, mas temos que trabalhar nas bases em que foram construídas”, frisou.
O responsável pela política externa europeia admitiu que a UE “não está em sintonia” com China em questões de Direitos Humanos.
“A China afirma que cada sociedade tem os seus próprios valores, mas também é verdade que os valores universais são válidos para todos os países”, disse.
“No Conselho dos Direitos Humanos da ONU, a China procura promover a ideia de que os direitos económicos são mais importantes do que os direitos políticos. Esta visão diferente leva-nos a uma rivalidade, que tem origem na falta de compatibilidade dos nossos valores, mas não significa hostilidade nem deve impedir-nos de trabalhar em conjunto”, descreveu.
Os ideólogos chineses acreditam que os valores liberais, em particular os Direitos Humanos fundamentais, permanecem proeminentes não porque sejam moralmente superiores, mas porque refletem o poder do Ocidente, que consideram estar em declínio. Segundo a sua visão, foi o poder dos Estados Unidos que permitiu a Washington ditar as regras que formam a base da ordem internacional e criar instituições internacionais que refletem e propagam valores “ocidentais”.
A questão dos Direitos Humanos é fonte frequente de tensão entre o Governo chinês e os países ocidentais. A ênfase em liberdades políticas individuais choca diretamente com a organização do poder político na China.
Para Pequim, “o direito ao desenvolvimento é o mais importante dos Direitos Humanos”.
O contrato social na China reflete essa premissa: o Partido mantém uma autoridade indisputada e os privilégios da elite dominante e, em troca, assegura a melhoria dos padrões de vida e elevação do estatuto global do país.
“Nós temos uma ideia diferente: pensamos que direitos políticos e económicos são igualmente importantes”, apontou Borrell.
Situada no norte da capital da China, a Universidade de Pequim é considerada uma das melhores instituições de ensino superior do país asiático.