Israelitas em protesto à porta de “gentil” Guterres pedem mais pela libertação de reféns

A residência de António Guterres em Nova Iorque é há 15 semanas local de concentração de manifestantes, maioritariamente israelitas, que elogiam a “gentileza” do líder da ONU, mas lhe pedem mais pela libertação dos reféns do Hamas.

©Facebook.com/antonioguterres

Tal como tem acontecido todas as sextas-feiras há quase quatro meses, dezenas de israelitas, incluindo familiares dos reféns, reuniram-se em Sutton Place, à porta de Guterres, para lhe fazer ouvir as suas reivindicações antes de seguir para os escritórios das Nações Unidas.

Com bandeiras de Israel penduradas nas costas e segurando cartazes com o rosto de reféns do movimento islamita palestiniano Hamas, os manifestantes gritavam, emocionados: “traga-os para casa, agora!”, “traga-os para casa, agora!”.

Às 09h00 em ponto (hora local, 14h00 em Lisboa), Guterres saía de casa, rodeado pelos seus seguranças, e, após cumprimentar alguns dos manifestantes, a organizadora do protesto interrompeu-o para perguntar: “O que faria para recuperar 136 reféns portugueses, se ainda fosse primeiro-ministro de Portugal?”

Tomando o megafone da manifestante, Guterres respondeu: “Posso dizer-lhe que, como primeiro-ministro de Portugal, ou se fosse primeiro-ministro de Israel, a minha primeira prioridade seria a libertação dos reféns”.

“Primeiro, quero dizer-vos que tenho o maior respeito pela vossa dor e pela vossa preocupação. Já me encontrei e falei com vários reféns (…) O que eu posso dizer é que se eu fosse primeiro-ministro hoje, nomeadamente de Israel, a minha principal prioridade seria a libertação de reféns”, insistiu, numa interação testemunhada pela Lusa.

Após tentar tranquilizar os presentes, assegurando-lhes estar a fazer “muita pressão” para que todos os reféns sejam libertados imediata e incondicionalmente, o ex-primeiro-ministro português deixou o local, embora os manifestantes tenham permanecido ali por mais meia hora.

No local, cantaram-se os parabéns ao jovem refém Alon Ohel, que completará 23 anos no sábado, sob cativeiro do grupo islamita Hamas.

À Lusa, Shany Granot-Lubaton, membro do Fórum de Famílias dos Reféns em Nova Iorque, elogiou a “gentileza” de Guterres para com os familiares das vítimas, mas criticou ao líder da ONU o “falar a duas vozes”: “fala connosco numa voz e com o mundo noutra”.

“Já estamos aqui há cerca de 15 semanas, todas as sextas-feiras, e o secretário Guterres é sempre muito gentil connosco, ao contrário da maioria dos líderes com quem nos temos encontrado, incluindo israelitas”, disse Granot-Lubaton.

“Ele vem sempre falar connosco e eu respeito isso. Ele tem-se encontrado com todos os reféns libertados que vêm aqui, tem recebido as suas famílias, e respeitamo-lo por isso. Acredito também que ele está a pressionar por um acordo para a libertação dos reféns”, adiantou.

“Mas, por outro lado, quando Guterres fala para líderes mundiais, quando fala em conferências de imprensa, ele poderia usar o seu cargo de secretário-geral da ONU para exigir apoio à libertação destas pessoas. Ele precisa de enviar um sinal para os líderes mundiais de que o Hamas é o responsável, que o Hamas está a usar pessoas como escudos humanos e que os reféns são a prioridade número um”, defendeu a ativista.

A jovem, que durante o protesto, entre orações e cânticos, disse o nome de todas as pessoas – vivas e mortas – raptadas pelo Hamas, admitiu ser “duro” para os israelitas não ver o mundo colocar a libertação dos reféns como prioridade.

“O que queremos, em termos concretos, é que a libertação dos reféns seja a prioridade. E Guterres não está a fazer isso. Fá-lo em frente a nós, mas não o faz em frente ao mundo. Vemos o antissemitismo crescer (…) e fico perplexa como é que líderes liberais e progressistas não conseguem encontrar as palavras para, de forma clara e audível, falar sobre os reféns, apesar de terem todas as palavras possíveis para falarem de Gaza”, lamentou.

“Eu preocupo-me com Gaza, com os civis e com a vida daquelas pessoas, mas é incompreensível para mim como é que o secretário-geral da ONU não pressiona os líderes mundiais para falarem sobre os reféns. É duro para nós. Ele fala connosco numa voz e com o mundo noutra”, avaliou, em declarações à Lusa.

A porta-voz do protesto considerou ainda as declarações do Guterres, de que “se fosse primeiro-ministro de Israel a sua primeira prioridade seria a libertação dos reféns”, a “mensagem mais forte” que alguma vez ouviu o chefe da ONU direcionar ao líder de Governo israelita, Benjamin Netanyahu.

“Espero que os líderes mundiais não estejam a fazer uma luta de egos em cima da vida dos reféns. Espero também que o meu primeiro-ministro, que o Presidente dos Estados Unidos, o Qatar e todos os envolvidos nas negociações façam tudo para trazer estas pessoas de volta a casa”, disse a ativista à Lusa.

“Guterres tem um papel importante neste ‘puzzle’, ele é a cola que une todos e ele deve trabalhar para ser essa cola e fazer as pessoas trabalharem juntas. Não ouvimos a voz dele o suficiente”, concluiu Shany Granot-Lubaton.

Últimas do Mundo

Metade dos casos de atendimento ao cliente em Portugal deverão ser tratados por inteligência artificial (IA) até 2027, de acordo com as principais conclusões da sétima edição do State of Service, da Salesforce, hoje divulgado.
A Comissão Europeia desembolsou hoje 1,06 mil milhões de euros em subvenções a Portugal, na sequência do seu sétimo pedido de pagamento ao abrigo do Mecanismo de Recuperação e Resiliência.
Pelo menos 13 pessoas, incluindo várias crianças, morreram devido às fortes inundações na província de Sumatra do Norte, no oeste da Indonésia, onde também ocorreram deslizamentos de terra, declararam, esta quarta-feira, as autoridades locais.
O governo francês anunciou hoje que vai apresentar uma ação judicial contra as plataformas de vendas ‘online’ AliExpress e Joom, como já fez com a Shein, por venderem bonecas sexuais com aparência infantil.
O Conselho da União Europeia (UE) aprovou hoje legislação destinada a prevenir e combater o abuso sexual de crianças 'online', podendo agora negociar com o Parlamento Europeu um texto final.
O combate global ao VIH, vírus da imunodeficiência humana que causa a SIDA, está a colapsar por falta de financiamento, alertou hoje a ONU, adiantando que a situação deverá resultar em mais 3,3 milhões de pessoas infetadas até 2030.
As autoridades da capital indonésia, Jacarta, proibíram hoje o abate e venda de carne de cão, gato e outros animais para alimentação humana por serem transmissores da raiva, embora estes consumos sejam minoritários naquele país.
A Google nega algumas notícias recentes que afirmam que a empresa mudou as suas políticas para usar as mensagens e anexos dos 'emails' dos utilizadores para treinar os seus modelos de Inteligência Artificial (IA).
O Parlamento Europeu vai discutir um relatório que recomenda a proibição da utilização das redes sociais a menores de 13 anos e um limite mínimo de 16 anos, ainda que esta limitação esteja longe de reunir consenso.
Um professor galego condenado por abusar de forma sádica de uma aluna de 12 anos fugiu de Espanha e entrou em Cuba após atravessar Portugal, Brasil e Peru. A Polícia espanhola já o colocou na lista dos dez mais procurados e alerta para a sua alta perigosidade.