Durão Barroso diz que UE não está preparada para adesão de país em guerra

O ex-presidente da Comissão Europeia diz que integrar a Ucrânia seria trazer a guerra para dentro da União Europeia e acredita ser essencial chegar a um acordo para a guerra não se estender.

@ Site Oficial da Comissão Europeia

O ex-presidente da Comissão Europeia Durão Barroso alertou esta terça-feira que a Europa não está preparada para integrar um país em guerra, defendendo um eventual entendimento que evite alastrar o conflito na Ucrânia.

“A questão mais difícil é a seguinte: a União Europeia (UE) não está preparada para integrar um país em guerra como a guerra na Ucrânia porque isso seria trazer a guerra para dentro da União Europeia. Mais cedo ou mais tarde, temos de nos preparar para um possível acordo de entendimento“, disse Durão Barroso.

“Há um agressor (Rússia) e um país agredido (Ucrânia) – não é uma situação simétrica e, sendo assim, o que precisamos é de paz. Ainda não chegámos a essa posição mas isto é muito importante. Caso contrário, estamos a dar a (Vladimir) Putin motivos para prolongar a guerra anos e anos”, defendeu o ex-presidente da Comissão Europeia, que ocupou o cargo entre 2004 e 2014.

Durão Barroso abriu a conferência sobre o processo de adesão da Ucrânia à UE: “Accession of Ukraine to the European Union – what do we need for a successful enlargement?” (Adesão da Ucrânia à União Europeia – o que é necessário para um alargamento bem sucedido?), organizada pela Associação Portuguesa de Direito Europeu e pelo Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica Portuguesa, em colaboração com a Embaixada da Ucrânia em Portugal.

Na conferência que decorre na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, Durão Barroso, que falou em inglês, vincou a importância de novas abordagens políticas e diplomáticas.

“O problema é europeu, porque se Putin vencer a guerra na Ucrânia, não é só uma derrota para os ucranianos. É também uma derrota para nós (europeus)“, afirmou.

“Quando me perguntam onde está o ‘Exército Europeu’ eu digo é o ucraniano. O Exército Ucraniano é o ‘Exército Europeu’”, declarou, salientando que falava “em nome pessoal”.

No ano passado, o Conselho Europeu decidiu aceitar as candidaturas e as negociações sobre a adesão da Ucrânia e da Moldova.

Barroso recordou que a Ucrânia queria fazer parte da UE depois da “Revolução Laranja” (2004/2005), mas que não havia consenso entre os estados-membros e, por isso, foi proposto um acordo de associação.

“Durante esse período mantive contactos com o Presidente Putin. Nunca se opôs ao facto de a Ucrânia estabelecer um acordo de associação ou mesmo fazer parte da União Europeia. Deixou bem claro que não aceitava a adesão da Ucrânia à NATO, como sublinhou em Bucareste em 2008″, recordou.

Mas em 2014, na altura da assinatura de um acordo de associação, o Presidente ucraniano prórusso Viktor Yanukovych disse que não podia assinar porque a Rússia não permitia.

“Tudo teria sido diferente. Houve muitas pressões e não apenas da Rússia, mas ainda é cedo para falar disso”, frisou.

“Em 2014, quando se deu a invasão russa da Crimeia, eu contactei Putin e perguntei-lhe porque é que estavam a invadir a Crimeia. Ele disse que não era uma invasão, que não eram as Forças Armadas da Rússia e que eram cidadãos russos próximos da península que tinham amigos do outro lado da fronteira”, relatou.

“Putin acrescentou que se tivessem sido as forças regulares da Rússia, Kiev ‘seria tomada em menos de duas semanas’”, contou Barroso.

“Sete dias depois, relatei na Comissão a conversa e depois houve uma fuga de informação. O Kremlin não gostou. Não negou, mas afirmou que eu me referi às palavras de Putin fora de contexto”, contou.

A ameaça contra Kiev “foi uma manifestação de um desejo secreto de que o que queria não era apenas a Crimeia mas toda a Ucrânia”, considerou.

“Para mim, foi claro que Putin, emocionalmente e politicamente, não aceitava a realidade ucraniana, tal como a Bielorrússia, país controlado por Moscovo”, disse.

“Putin não é maluco, é perigoso e um autocrata, mas não é irracional. Cometeu um grande erro. Não contou com a determinação do povo ucraniano e com o apoio do bloco europeu e dos Estados Unidos. É neste ponto onde nos encontramos. Uma guerra de grande escala no meio da Europa”, concluiu.

Últimas de Política Internacional

Os ministros da Agricultura e Pescas da União Europeia (UE) iniciam hoje, em Bruxelas, as discussões sobre as possibilidades de pesca para 2025, negociações que, na terça-feira, se deverão prolongar noite dentro.
O Kremlin acusou hoje o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, de "recusar negociar" com Vladimir Putin o fim do conflito na Ucrânia, exigindo mais uma vez que Kiev tenha em conta "as realidades no terreno".
O Presidente eleito dos EUA, Donald Trump, anunciou hoje que não vai envolver o seu país na crise na Síria - com a ofensiva lançada por rebeldes contra o regime - e culpou o ex-Presidente Barack Obama pela situação.
O líder da maior contestação aos resultados eleitorais em Moçambique é um pastor evangélico que passou pelos principais partidos de oposição, mas se rebelou para abrir uma “frente independente” contra a “máquina” que governa Moçambique há meio século.
Uma manifestação contra o Presidente sul-coreano, Yoon Suk-yeol, começou hoje em Seul defronte da Assembleia Nacional da Coreia do Sul, antes da sessão parlamentar destinada a aprovar a demissão do chefe de Estado pela aplicação da lei marcial.
O ministro do interior da Jordânia anunciou hoje o encerramento do posto fronteiriço de Jaber com a Síria, devido às "condições de segurança" no país após a ofensiva contra o governo de Bashar al-Assad, informaram fontes oficiais.
O primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán, voltou hoje a exigir a Bruxelas que desbloqueie fundos europeus e ameaçou com um eventual travão ao próximo grande orçamento da União Europeia.
Sete em cada dez sul-coreanos apoiam a moção parlamentar de destituição do Presidente Yoon Suk-yeol, apresentada pela oposição, depois de o dirigente ter decretado lei marcial, indica hoje uma sondagem do Realmeter.
O Governo francês, liderado por Michel Barnier, foi hoje destituído por uma moção de censura com 331 votos favoráveis da coligação de esquerda Nova Frente Popular e da direita radical, União Nacional.
O Governo francês, liderado pelo conservador Michel Barnier, enfrenta hoje no parlamento duas moções de censura, apresentadas pela esquerda e pela direita radical.