Há dois anos, assistimos à invasão em grande escala da Ucrânia. Para alguns, este é um problema longínquo. Para outros, é uma tragédia muito próxima que nos afeta diariamente. Minha esposa é da Ucrânia. Nestes dois anos, acolhemos em nossa casa familiares, afilhados e vizinhos, recebendo-os do melhor modo possível. Alguns ficaram. Outros retornaram. Outros, para evitar longos cortes de eletricidade ou horas intermináveis na cave esperando o fim do alerta antiaéreo, passam os invernos connosco.
Não vou falar sobre a guerra. Porém, depois de dois anos, o que a nossa sociedade aprendeu? Por trás do folclore televisivo e da propaganda do PS, como respondeu Portugal? Houve coisas boas; há coisas más.
Desenvolveu-se rapidamente uma plataforma de registo para refugiados ucranianos. Basta inserir os elementos da plataforma e cada refugiado recebe os números da Segurança Social, do NIF e acesso ao Sistema Nacional de Saúde através do Título de Proteção Temporária. Permite às pessoas terem os seus documentos regularizados, escritos em português e ucraniano. Foi positivo.
Infelizmente, os refugiados ucranianos não receberam quaisquer cartões de identificação. Houve situações em que, por qualquer razão, tiveram de regressar temporariamente às suas casas. Depois, eram impedidos de retornarem à União Europeia nas fronteiras polaca, checa, ou húngara, por falta de cartão! Sabendo disso, muitos evitam sair de Portugal com medo de não poderem regressar. Some-se a isto a extinção do SEF, e a criação da Agência para a Integração, Migrações e Asilo, e temos o caldo entornado!
Outro exemplo é a nossa incapacidade em receber as pessoas mais qualificadas. Conheço doutorados que trabalham em cozinhas a cortar legumes – e professores universitários, os sortudos, que conseguiram contratos em universidades portuguesas, mas apenas a tempo parcial! A Ordem dos Médicos registou 50 médicos ucranianos que chegaram a Portugal em março de 2022. Em 2023, apenas 1 passou no exame de língua portuguesa. Em abril de 2023, 19 ainda aguardavam a burocracia para concluir o seu processo de integração profissional.
Um aspeto chocante é o grau de infiltração russa no nosso país e noutros países europeus. O Kremlin tem utilizado as mesmas técnicas de propaganda desde os tempos do comunismo. Primeiro, negam-se os factos. Segundo, contam-se estórias sempre com o mesmo enredo: “A Rússia é vítima! Os russos são as vítimas! Nós apenas reagimos para nos defendermos das provocações dos capitalistas para proteger a nossa população.” É sempre a mesma lengalenga, só mudam as vítimas. No entanto, estas mentiras são úteis para serem repetidas (sem parar) pelos idiotas úteis da esquerda, pelos anticapitalistas, ou pelos antiocidentais. O objetivo é turvar as águas e gerar a discórdia na nossa sociedade. Sempre em prol do governo russo. É a velha técnica de dividir para reinar.
Espanta-me ver a simpatia de jornalistas, políticos, comentadores e até militares com o regime russo. Quem não se recorda ver generais portugueses a se babarem na televisão descrevendo a ofensiva sobre Odessa?
E lembrando as nossas forças armadas. Sim, enviámos sucata. Alguma quiçá, ainda da época colonial. Por incapacidade, incompetência e falta de investimento, temos umas forças armadas com equipamentos obsoletos e praticamente inúteis. Temos forças armadas inoperantes, e pouco estamos a fazer para a mudar a situação.
O que mais aprendi nestes 2 anos? Temos tanta gente boa em Portugal que não acredita na máquina do Estado, mas que todos os dias pratica a solidariedade. Fiquei comovido com colegas e amigos que vieram oferecer temporariamente as suas casas. Fiquei agradecido aos que esvaziaram seus guarda-roupas para vestir quem fugiu com as poucas posses que tinha. Fiquei tocado com todos gestos de diários de bondade que fui testemunhando.
Temos de nos recordar mais dessa gente boa. Temos de honrar mais essa nossa gente. A partir de 10 de março, é para elas que teremos de governar.