MELONI E O PRESÉPIO QUE CADA VEZ MAIS NOS ESQUECEMOS DE CONSTRUIR

Quando estamos a um passo do Natal, os corações, mesmo os mais empedernidos, parecem amolecer. As lembranças vêm-nos à mente, as lágrimas aos olhos e aquele sentimento de participação e dádiva parece renascer a cada ano que passa. “Devia haver mais Natais por ano” ou o acreditar naquela do “Natal é todos os dias”, são sentimentos demasiado voláteis que nos atravessam, mas que, curiosamente ou talvez não, vêm e partem sem que de tal tenhamos consciência. Como se uma data, um simples anotar do tempo que passa, tivesse o condão de nos despertar para obrigações que, vivendo dentro de nós, precisassem do calendário e não da fé, para nos chamar à razão.

E aí vem outro Natal.

Dois bons amigos, o Zé e o Carlos, enviaram-me um vídeo com uma senhora que, a seu lado tinha um enorme conjunto de figurinhas de louça e barro em cenas do dia a dia, pequenas construções em miniatura, musgo e cor, escadinhas e arcadas e moinhos com mós movidas a água. Ao meio uma vaca, um jumento e um cordeiro de olhos fixos numa velha manjedoura de um estábulo onde o conforto era feito de palha, calor único das figuras que tremiam ao frio. Imagine isto tudo numa noite aberta de inverno onde uma estrela, um cometa ou o que quiserem crer, iluminando a cena, indicava o Caminho, a Rota a seguir pelos que acreditavam.

Não faltava o pastor e muito menos o Anjo, indicando que Deus estava presente. O nosso querido Deus, sob o mando do qual, construímos este Portugal que adoramos.

Bem no meio da manjedoura acomodado na palha, um menino nu estendia os braços ao mundo. E sorria. Bem juntas, figurinhas de Maria e José olhavam-no encantados. À sua frente, Gaspar, Baltazar e Melchior seguravam presentes e admiravam aquele a quem chamavam o Messias, o ungido, o Cristo, pelos cristãos considerado o Filho de Deus.

Outras tantas figuras, feitas à vontade dos seus criadores, ornamentavam um presépio que ainda há bem pouco tempo, animavam os lares cristãos do meu querido Portugal. Havia para aí desafios vários e disputas pelo mais lindo, pelo que continha mais figuras, pela beleza e até movimentos criados pelo passar das águas moviam os moinhos e não só, enfim, todos celebrando o nascer do Nazareno por quem chamamos várias vezes na vida. E sempre que estamos aflitos. Tudo autos de Fé de crentes que paralelamente a outras gentes que trazem outros valores e ideologias, brandem a ideia e a obrigação de um confuso laicismo aberto a todas as religiões mesmo àquelas que não nos querem bem, nem nunca vêm em paz.

Há muito que não vejo presépios. Como se os tivessem condenado e lamento a falta de crença e de lembrança deste povo. Outros interesses? Porque não dão audiências? O que se passa Deus meu? Como pode a fé desaparecer assim de repente? Que é da rota que os mais velhos diziam Deus ter traçado para este povo?

O que vemos é um Papa que, ao ter a noção da grave quebra do cristianismo, se multiplica por mil viagens em desesperadas tentativas tal como um pastor atrás do seu rebanho tresmalhado, mas parece não ter forças ou credibilidade para nos guiar a nós cristãos. Está velho e metendo-se em assuntos que não lhe dizem respeito, dispersa-se por outros que não são exemplos e que afastam gente de dúvida e fracos de fé.

Por mim que tenho respeito e só respeito pela figura, procuro como outros, dentro de mim, a verdadeira fé. Aquela que sempre guiou os cristãos, os seus sentimentos e me ensinou, a afastar outros acima das ideologias e da discussão perene sobre quem somos.

E lembro a chamada de atenção dos meus amigos Zé e Carlos e as palavras limpas de preconceitos e de intensões maléfica. Falavam-me eles do presépio de Georgia Meloni, a primeira-ministra italiana.

Alguns dos que me leem imaginam de imediato outras ligações ou ideologias das quais, acreditem, não estou imbuído neste momento e creiam mesmo que o que agora escrevo é sob o imaginário manto de luz que a todos quer chegar, nem que seja só neste quadro natalício.

Dizia a senhora Meloni que de arborista se tornava presepista, num mundo que já não quer fazer presépios e dizendo que nas escolas não o fazem porque ofende as crenças e os valores de outra cultura. Pergunta como pode um menino nascido numa manjedoura ofender seja quem for? E como pode alguém sentir-se ofendido por quem só prega entendimento e amor? Como se pode na realidade ofender alguém com estes valores básicos de uma sociedade como a nossa e como podem sentir-se ofendidos os que vêm em paz e gozam, tal como todos nós, a liberdade de celebrar as suas crenças? Afinal, como se pode contribuir para a negação da fé quando se pretende celebrar o nascimento de Jesus? É que aquilo que os que acreditam são, está resumido afinal, como ela bem diz, neste símbolo de paz que é o presépio.

Façamos o nosso como se voltássemos 30 anos ou 40 anos atrás e os nossos filhos voltassem a nascer. Façamos o presépio lembrando a sociedade que sempre fomos e onde o entendimento e a solidariedade tinham tal força que não permitiam a desunião atual. Façamos um presépio igual ao antigo quadro de Alenquer que encosta acima, deslumbrava os que por lá passavam na antiga estrada nacional número 1. Eu, no meu caminho para a Base Aérea 2 na OTA, lembro aquilo que considerava a 8ª maravilha do mundo, uma luz que me guiava, aquecia e abençoava ajudando-me a enfrentar os desafios de um aviador. Fiquei grato para toda a vida. E tenho esta saudade que me assalta e comove, abrindo este velho coração uma vez em cada ano.

É só por isso que sinto esta irresistível vontade de escrever a todos os que acreditam e pedir que façam todos o seu presépio como se de uma revolução se tratasse. A revolução do presépio como diz a primeira-ministra de Itália, que nos pode voltar a unir quando o mundo lá fora e cá por dentro, parece num constante desabar de crenças, valores e esperança.

Um Santo e Feliz Natal para todos os portugueses.

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