“O Secretariado tem a obrigação de avaliar politicamente estas situações e aprender com os erros. Em vez de entrar em guerras de números deve perceber que é preciso fazer mudanças. Em vez de desvalorizar as demissões ou tentar justificá-las deve retirar lições sobre a degradação da democracia interna e o centralismo autocrático que despreza as organizações regionais e a base do partido”, lê-se num comunicado enviado à imprensa pelos membros da oposição interna do BE, que subscreveram nas duas últimas convenções a moção ‘E’, cujo porta-voz foi Pedro Soares.
O comunicado, no qual é feito um apelo “ao debate democrático” e são rejeitados “ataques pessoais e falsidades”, surge depois de a Comissão Política do BE ter acusado estes críticos de uma “ofensiva comunicacional”, num e-mail enviado aos militantes e divulgado hoje pelo jornal Público.
Na terça-feira, um comunicado ao qual a Lusa teve acesso, referia a saída de mais de setenta militantes do partido do distrito de Portalegre. Contudo, a Comissão Política do BE afirma que, nesta lista, foram colocados nomes de pessoas “contra a sua vontade”, acrescentando que nenhum dos cerca de 70 aderentes tinha pago quotas em 2024, a maioria não respondeu ao contacto telefónico e, do total, “cinco dos aderentes negaram a intenção de sair” e uma das pessoas “faleceu há mais de um ano”.
Questionada na terça-feira, a coordenadora BE, Mariana Mortágua, disse encarar “com naturalidade” a situação, associando as saídas a uma “tendência organizada” que tem manifestado divergências relacionadas com a posição bloquista sobre o conflito na Ucrânia.
Estes críticos – que decidiram não apresentar moção na próxima Convenção Nacional – consideram que “aproveitar esta crise para atirar a acusação sobre a Moção ‘E’ de um apoio a Putin na guerra da Ucrânia só pode ser sintoma de desorientação”.
“Trata-se de um argumento falso, facilmente desmentido pela posição assumida e apresentada na XIII Convenção, onde foi defendido o foco num processo de paz e «Putin fora da Ucrânia, NATO fora da Europa», ao contrário do Secretariado que alinhou com a estratégia do eixo euro-atlântico de «prolongar a guerra até à derrota da Rússia» e de privilegiar o armamentismo em vez da prioridade absoluta à paz. As consequências estão agora evidentes, em prejuízo da Ucrânia e a favor das intenções predatórias de Putin e Trump”, criticam.
Para estes bloquistas, a direção do partido “não consegue iludir que quer evitar assumir responsabilidades na vaga de demissões” com uma “fuga para a frente e um ataque infundado e desmesurado” aos bloquistas desta moção, “como se fossem os culpados da crise que se vive, das sucessivas derrotas eleitorais, dos casos inexplicáveis, da perda de militantes e dos atropelos à democracia e ao pluralismo”.
“Para o secretariado, seria desejável manter o debate político fechado e à margem da opinião pública, sem alternativas, como se de uma seita se tratasse, mas essa é uma impossibilidade”, lê-se no texto.
Os subscritores da moção ‘E’ dizem rejeitar qualquer “convite” para sair do partido e lamentam “não poder amenizar o desespero do secretariado”, a quem pedem, “a bem de um são debate interno”, que “não procure extremar o sectarismo no relacionamento entre militantes com inverdades ou torneando a realidade como começa a ser hábito”.
A XIV Convenção Nacional está agendada para 31 de maio e 01 de junho. Foram apresentadas duas moções de orientação: a ‘A’, cuja primeira subscritora é Mariana Mortágua, e a ‘S’, subscrita por um grupo de críticos da direção do BE, que inclui dirigentes que integraram a lista encabeçada por Mortágua na última convenção.