O vice-presidente da Câmara Municipal do Porto, Filipe Araújo, publicou recentemente um artigo de opinião onde tenta atribuir toda a responsabilidade pelos problemas da expansão do Metro do Porto à empresa pública responsável pela obra, como se a autarquia fosse apenas uma mera espectadora. Mas este discurso levanta uma questão essencial: afinal, quem gere a cidade do Porto?
Se há algo que os portuenses sabem bem, é que as grandes obras públicas na cidade nunca são processos simples. No entanto, quando se trata de um projeto da magnitude da expansão do Metro do Porto, é inaceitável que a Câmara Municipal venha agora, de forma conveniente, distanciar-se das suas responsabilidades, como se fosse apenas uma entidade alheia a tudo o que aconteceu.
Podemos olhar para esta situação de duas formas. Se o executivo municipal estava a par dos problemas e nada fez para os evitar ou minimizar, então foi cúmplice do caos que se instalou na cidade e deve assumir essa responsabilidade. Se, por outro lado, não sabia, então isso só demonstra a sua total incompetência para gerir uma cidade da dimensão e importância do Porto. Nenhuma das hipóteses abona a favor do executivo, e ambas revelam uma preocupante falta de liderança na governação da cidade.
Curiosamente, em ano de eleições autárquicas, quando a contestação pública se intensifica e os eleitores começam a exigir explicações, o vice-presidente decide, finalmente, pronunciar-se. Mas, em vez de assumir responsabilidades ou apresentar soluções concretas, opta por empurrar as culpas para terceiros, numa tentativa desesperada de limpar a sua imagem antes das eleições. O executivo municipal tem um papel activo na gestão da cidade e não pode agora tentar lavar as mãos deste desastre. Se a autarquia teve força para impedir a destruição de árvores, como afirma no artigo, porque não teve a mesma determinação para travar os atrasos, os prejuízos aos comerciantes e os impactos negativos na mobilidade? Será que o destino das árvores era mais importante do que o bem-estar económico e social da cidade?
Basta ver o caso dos comerciantes das zonas afectadas, que estão entre os principais prejudicados por esta situação. Negócios que já enfrentavam dificuldades, principalmente devido às consequências económicas da pandemia e da inflação, foram agora sujeitos a um verdadeiro calvário de obras intermináveis, que afastam clientes e reduzem drasticamente a circulação nas áreas afectadas. Onde esteve a Câmara do Porto durante todo este tempo? O que fez o executivo municipal para minimizar estes impactos?
Talvez a grande diferença esteja mesmo neste pormenor: na tentativa de, em ano de eleições, controlar a narrativa sobre um tema que sabem ser do desagrado da maioria dos portuenses. Recorrendo àquilo que os Spin Doctors tanto gostam de apelidar de “paraverdades”, tentando dessa forma construir uma ilusão de inocência e afastar-se da responsabilidade. Mas a verdade é só uma: a Câmara do Porto ou foi conivente ou revelou uma completa incapacidade para governar.
Há um padrão claro nas decisões do executivo municipal: quando os projectos correm bem, os louros são automaticamente reivindicados pela autarquia. No entanto, quando surgem problemas, a culpa é rapidamente transferida para terceiros, sejam entidades públicas, empresas privadas ou o Estado Central. Este comportamento revela um défice de responsabilidade política e uma falta de compromisso com os cidadãos que realmente sofrem as consequências desta má gestão.
O “Mordomo de Gondor” da cidade do Porto?
No fundo, o executivo municipal do Porto parece comportar-se como um “Mordomo de Gondor”, tal como Denethor II na saga O Senhor dos Anéis. Governa a cidade como um mero zelador temporário, preocupado mais em proteger os interesses instalados e preservar o seu poder, do que em assumir verdadeiramente a liderança e defender os interesses dos portuenses. Tal como Denethor assistiu, impotente e resignado, à decadência de Gondor, também o executivo municipal parece assistir passivamente ao caos das obras do metro, sem qualquer estratégia, apenas tentando salvar a própria imagem.
A cidade do Porto tem uma história de resiliência, inovação e progresso. Os portuenses não precisam de uma liderança que se limite a gerir as aparências e a proteger os poderes instituídos com base em reacções tardias e tentativas de manipulação mediática para desviar atenções do verdadeiro problema. Precisam de soluções concretas, de uma governação eficaz e de uma autarquia que seja capaz de antecipar problemas, em vez de apenas reagir quando o dano já está feito. A incapacidade da autarquia para gerir esta situação demonstra falta de planeamento, de coordenação e de visão estratégica para o Porto.
A tentativa de afastar a culpa e de moldar a percepção pública sobre este caso não passa de uma estratégia eleitoral. Mas os portuenses não se deixam enganar por discursos cuidadosamente preparados para iludir a realidade. O Porto precisa de uma liderança firme, capaz de enfrentar os desafios da cidade com seriedade e responsabilidade, e não de políticos que só aparecem para justificar falhanços quando as eleições se aproximam.
Será que o executivo municipal do Porto se limita a ser um simples “Mordomo de Gondor”