Uma mulher de 27 anos, grávida de 40 semanas, perdeu o bebé no Hospital de Santa Maria, em Lisboa, após ter recorrido a cinco hospitais diferentes ao longo de 13 dias, acabando por ter um desfecho trágico. De acordo com a família, que contou o sucedido ao jornal Correio da Manhã, a mulher procurou assistência em várias unidades hospitalares devido a dores e sinais de trabalho de parto, mas não lhe foi garantida uma resposta adequada nem um internamento.
A primeira ida ao hospital ocorreu a 10 de junho, quando contactou a linha SNS24 devido a dores abdominais intensas e foi encaminhada para o Hospital de Setúbal onde lhe disseram que estava tudo bem.
Seis dias depois, a mulher voltou a sentir dores e foi ao Hospital do Barreiro, onde também lhe foi dito que estava tudo bem e, três dias depois, foi vista no Garcia de Orta, em Almada. A 21 de junho foi encaminhada para o Hospital de Cascais onde não havia vaga para internamento e, apenas após recusar regressar a casa, foi transportada de ambulância para o Hospital de Santa Maria, em Lisboa.
Nesse hospital, foi finalmente internada e teve o parto induzido, mas dois dias depois, os médicos optaram por realizar uma cesariana, devido a um crescimento intra-uterino inferior ao esperado. A bebé, que nasceu com 4,5 Kg, apresentou batimentos cardíacos fracos e sinais de sofrimento fetal, acabando por não resistir, como conta do CM.
O pai da bebé denunciou publicamente o caso, afirmando que “a mãe está destruída”. O caso reacendeu o debate sobre a sobrecarga do Serviço Nacional de Saúde (SNS), nomeadamente nas urgências materno-infantis. Em resposta, a ministra da Saúde, Ana Paula Martins, afirmou na terça-feira assumir “toda a responsabilidade política” pelo ocorrido, mas recusou demitir-se, declarando que estão em curso medidas para reforçar os cuidados obstétricos.
A Inspeção-Geral da Atividades em Saúde (IGAS) anunciou que vai acompanhar a avaliação dos cinco hospitais envolvidos na assistência prestada à grávida, acrescentando que as unidades hospitalares “estão a avaliar a situação, no âmbito das competências dos respetivos órgãos de gestão”.
André Ventura, Presidente do CHEGA, reagiu ao caso e às declarações da ministra da Saúde, afirmando que “a antiga ministra da Saúde se despediu por menos” e que “é uma vergonha o que está a acontecer”. “É tempo de a ministra da Saúde assumir a sua responsabilidade, porque já é constrangedor assistirmos diariamente a novas falhas na Saúde. A ministra devia sair e deixar alguém com capacidade governar o Ministério da Saúde. Não nos bastam palavras enquanto seres humanos continuam a morrer”, acrescentou.
Ventura criticou ainda o défice na saúde, que já ultrapassa os 1.300 milhões, conforme se lê na categoria País desta edição, questionando “para onde vai o dinheiro que gostamos com a saúde” quando continuam a existir falhas graves.