O preço da palavra

O silenciamento político não é um acaso histórico. Entre tantos outros, Lincoln foi assassinado em 1865; Abe tombou em Nara, em 2022; entre nós, o caso de Sá Carneiro, em 1980, deixou marcas profundas.

Charlie Kirk foi abatido numa universidade, quando desafiava os seus opositores a refutarem, com argumentos, as suas ideias. A argumentação do assassino não foi com palavras. Este ato não é apenas um crime, é a intolerância levada ao extremo, um atentado direto à liberdade de expressão, a bala a substituir o argumento.

O atentado contra Kirk é, antes de mais, um ataque ao direito de errar, de convencer e ser convencido, sem medo. John Stuart Mill, em On Liberty, recordou que quem cala uma voz dissidente rouba algo à humanidade, presente e futura. A palavra livre é uma instituição moral que antecede a política e lhe dá legitimidade.

Quando George Floyd morreu, várias cidades arderam: negócios pilhados, propriedades vandalizadas, lojas saqueadas, pessoas privadas dos seus direitos de circulação, trabalho e segurança. Tudo sob uma fachada de justiça moral, onde os fins justificavam os meios. Agora, perante o caso de Kirk, vemos vigílias, orações e apelos à justiça. A paz em oposição à violência.

A esquerda proclama superioridade ética, mas silencia quem discorda, respondendo com violência sempre que a considera justificada, sem qualquer reserva moral. É fácil defender a democracia quando há consenso, difícil é respeitar a divergência. A violência marca o limite extremo dessa intolerância.

Quando a palavra é atacada, não se trata apenas de uma disputa política, mas de uma ameaça à própria estrutura da sociedade. A escolha está sempre entre o diálogo e a imposição, entre a palavra e a força. O debate não pode ser entulho que se empilha, mas cimento de uma comunidade livre.

Como Mill escreveu: “Se toda a humanidade menos um fosse de uma opinião, não teria mais justificação para silenciar essa única pessoa… do que ela, se pudesse, teria para silenciar a humanidade”.

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