“Se houver seres humanos infetados, potencialmente existe o risco de introdução da dengue em Portugal continental, o que ainda não se registou”, disse o investigador do Instituto de Higiene e Medicina Tropical (IHMT) à Lusa, a propósito do elevado número de infeções que se regista no Brasil, que este ano já ultrapassou os dois milhões de casos, um número recorde.
Marcelo Urbano Ferreira indicou que o número de casos registados em Portugal continental – todos importados – não ultrapassa uma dúzia por ano e referem-se “a viajantes que, de alguma maneira, se expuseram à transmissão fora do país”.
O risco, contudo, está presente através de “pessoas infetadas e condições climáticas ou ambientais para a proliferação de mosquitos capazes de transmitir o vírus da dengue. Nesse caso, infelizmente não só Portugal, mas vários países do sul da Europa já têm vetores potenciais da dengue adaptados às condições locais”.
“O risco existe e de dois tipos. Temos brasileiros que vivem em Portugal, indo ao Brasil e retornando eventualmente infetados e portugueses que, por turismo ou outros motivos, se deslocam a áreas de alta transmissão”, acrescentou.
O investigador considera que “o que ajuda Portugal e outros países do hemisfério norte é que, no momento em que há os grandes surtos no hemisfério sul, a abundância de mosquitos aqui [em Portugal] – por ser uma época mais fria do ano – é menor. Isso ajuda muito, mas a transmissão de dengue não está restrita ao hemisfério sul, muito pelo contrário; temos vários países da Ásia, no hemisfério norte, com grande quantidade de casos de dengue”.
“Claro que no caso de Portugal chama muito a atenção o que se passa na América latina e particularmente no Brasil por causa dos laços e da mobilidade frequente da população entre estas duas regiões, mas existe uma quantidade relativamente grande de portugueses que vão em negócios ou em turismo para países do sudeste asiático, do sul da Ásia, países onde existe a transmissão de dengue na época correspondente ao verão em Portugal, o verão do hemisfério norte”, acrescentou.
O especialista defende, como prevenção individual, a vacina que já está disponível desde o final do ano passado e que é “a arma mais recente”.
E sugere outras medidas, como o uso de repelentes e de roupas com mangas compridas para evitar as picadas dos mosquitos que, neste caso, têm hábitos diurnos.