PR ruandês acusa comunidade internacional de abandono

A comunidade internacional “abandonou-nos a todos” durante o massacre dos Tutsi, afirmou hoje o presidente ruandês Paul Kagame, no arranque das cerimónias evocativas dos 30 anos do genocídio do Ruanda.

© Facebook de Paul Kagame

As cerimónias oficiais tiveram início hoje, dia em que se assinalam as primeiras mortes naquele que se tornaria o último genocídio do século XX, no qual morreram cerca de 800 mil pessoas, sobretudo da minoria étnica Tutsi, mas também Hutu moderados.

Hoje, Kagame recordou criticamente a inação da comunidade internacional na altura.

“Foi a comunidade internacional que nos abandonou a todos, seja por desprezo ou por cobardia”, disse Paul Kagame, no discurso proferido perante milhares de pessoas na BK Arena, uma sala multiusos ultramoderna na capital Kigali.

“Ninguém, ninguém, nem sequer a União Africana (UA) pode desculpar-se da sua inação perante a crónica de um genocídio anunciado. Tenhamos a coragem de o reconhecer e de o assumir”, disse, por seu lado, o presidente da comissão da UA, Moussa Faki Mahamat.

Numa declaração oficial publicada hoje na página da Casa Branca, o presidente norte-americano Joe Biden assinalou os 30 anos do genocídio, “uma campanha de matança brutal e sistemática” e um “metódico extermínio em massa, que virou vizinhos contra vizinhos e cujas repercussões, décadas depois, ainda são sentidas no Ruanda e em todo o mundo”.

“Nunca esqueceremos os horrores daqueles 100 dias, a dor e perda sofridas pelo povo do Ruanda, ou a humanidade partilhada que nos liga a todos e que o ódio nunca pode vencer”, afirmou o presidente dos EUA.

Biden afirmou que os Estados Unidos se colocam ao lado “do povo do Ruanda na sua dor”, no dia em que se dá início ao Kwibuka, o período anual de recordação do genocídio, homenageando as vítimas que “morreram sem qualquer sentido e os sobreviventes que corajosamente reconstruíram as suas vidas”.

Nas cerimónias no Ruanda vão marcar presença o ex-presidente dos Estados Unidos, Bill Clinton, à frente da Casa Branca na altura do genocídio, o ministro francês dos Negócios Estrangeiros Stéphane Séjourné, e a secretária de Estado do Mar do executivo francês, Hervé Berville, nascida naquele país africano.

Para assinalar o 30º aniversário do genocídio no Ruanda, o presidente francês Emmanuel Macron, que já reconheceu em 2021 as “responsabilidades” de França no genocídio de 1994, deu mais um passo, afirmando que Paris, “que poderia ter travado o genocídio com os seus aliados ocidentais e africanos, não teve vontade”, de acordo com comentários divulgados pelo Eliseu na quinta-feira.

Macron deverá falar hoje através de um vídeo publicado nas redes sociais, segundo adiantou a presidência francesa.

Para assinalar a data, a União Europeia (UE) reafirmou hoje o seu “compromisso inquebrantável com a prevenção do genocídio e de qualquer crime contra a humanidade em todo o mundo”, assim como o “compromisso de garantir a total prestação de contas”, expressou o alto representante do bloco comunitário para os Assuntos Exteriores, Josep Borrell, em comunicado assinado em nome de todos os Estados-membros.

O massacre da primavera de 1994 foi desencadeado no dia seguinte ao atentado contra o avião do presidente Hutu Juvénal Habyarimana, no meio de um ambiente de ódio crescente alimentado por uma virulenta campanha anti-Tutsi.

Durante três meses, o exército, as milícias Interahamwe (braço armado do regime genocida Hutu), mas também cidadãos comuns, com espingardas e machetes, massacraram os Tutsi – chamados pelos genocidas de ‘Inyenzi’ (baratas, na língua kinyarwanda) – mas também opositores Hutu.

O massacre terminou quando a rebelião Tutsi da FPR tomou Kigali a 04 de julho de 1994, levando à fuga de centenas de milhares de Hutu em direção ao vizinho Zaire, hoje República Democrática do Congo.

Trinta anos depois, continuam a ser encontradas valas comuns no país.

Últimas do Mundo

Um jovem russo a cumprir uma pena por ter alegadamente queimado o Corão foi condenado a 13 anos e meio de prisão por traição a favor da Ucrânia, anunciou hoje um tribunal regional russo.
O Presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, manifestou-se hoje favorável a uma mudança na estrutura militar do país, de forma a “reduzir a burocracia” e a facilitar a gestão das tropas envolvidas na guerra contra a Rússia.
O papa Francisco apelou hoje aos jovens do mundo para não se deixarem contagiar por a ânsia do reconhecimento ou o desejo de serem “estrelas por um dia” nas redes sociais, durante a missa.
Um suspeito foi morto e três polícias ficaram feridos num tiroteio ocorrido esta manhã perto da embaixada de Israel em Amã, capital da Jordânia, num incidente que as autoridades informaram estar controlado.
A Rússia avisou hoje a Coreia do Sul que o uso de armas fornecidas por Seul à Ucrânia para “matar cidadãos russos destruirá definitivamente” as relações entre os dois países.
Carlos Monjardino, presidente da Fundação Oriente, considera que se assiste nos últimos anos, sobretudo desde a chegada de Xi Jinping à presidência chinesa, a "uma certa vontade de acelerar o processo" de 'reunificação' de Macau à China.
O presidente eleito Donald Trump escolheu Russell Thurlow Vought, um dos 'arquitetos' do programa governamental ultraconservador Projeto 2025, para chefiar o Gabinete de Gestão e Orçamento do futuro Governo.
Os Estados-membros das Nações Unidas (ONU) adotaram hoje por consenso uma resolução que visa dar início a negociações formais para a criação de uma convenção sobre crimes contra a humanidade.
Pelo menos quatro pessoas morreram e 33 ficaram feridas num ataque, atribuído a Israel, que destruiu um edifício no centro de Beirute, noticiaram esta manhã os meios de comunicação do Líbano.
O Governo do Laos disse hoje estar "profundamente entristecido" pela morte de seis turistas ocidentais, alegadamente após terem bebido álcool adulterado com metanol em Vang Vieng, uma cidade do noroeste do país, popular entre mochileiros.