Joe Biden e Donald Trump abriram o seu primeiro debate presidencial de 2024 sem um aperto de mãos e foram diretos para as perguntas dos moderadores da CNN, com o democrata a revelar uma voz rouca – devido a uma gripe, segundo uma fonte próxima da campanha – o que ajudou a passar desde início uma imagem fragilizada, face a um adversário confiante.
Donald Trump encadeou afirmações com calma e confiança e Joe Biden, apesar de ofensivo na substância das suas respostas, mostrou-se confuso e com dificuldades de dicção em vários momentos do debate, durante o qual os rivais entraram em confronto em temas como inflação, imigração ou Ucrânia.
Ainda na primeira parte do debate, o democrata pareceu perder a linha de raciocínio, passando de uma resposta sobre política tributária para política de saúde, tendo mesmo chegado a ficar paralisado durante alguns segundos enquanto procurava a palavra certa a usar.
Por várias vezes Trump ouviu Biden com uma expressão confusa, mas raramente o tentou interromper, embora o seu microfone estivesse silenciado enquanto Biden falava.
A questão da idade dos candidatos – especialmente os 81 anos de Biden – tem estado em destaque nos últimos meses, com o atual chefe de Estado a ser alvo frequente de troça por parte do seu oponente de 78 anos.
Biden, que é o Presidente em exercício mais velho da história norte-americana, tinha o desafio de demonstrar durante o debate a sua capacidade física e mental para derrotar Trump e liderar o país por mais quatro anos.
Contudo, a tarefa mostrou-se difícil, perante um Trump contido e imperturbável.
Trump sugeriu que Biden estava a enfraquecer o programa de assistência social por causa da entrada ilegal de migrantes no país.
O tema da imigração serviu para Trump atacar fortemente Biden, num dos momentos mais acesos na primeira meia hora do debate.
“Eles (imigrantes) estão a morar em hotéis luxuosos na cidade de Nova Iorque e em outros lugares”, acrescentou Trump.
O debate evidenciou como ambos têm visões nitidamente diferentes sobre praticamente todas as questões fraturantes do país – o aborto, a economia e a política externa – e uma profunda hostilidade entre si.
Apesar de cada um dos candidatos ter sido relativamente comedido enquanto defendia o seu histórico e culpava o outro por prejudicar o país, a sua animosidade pessoal rapidamente veio à tona.
Biden entrou numa vertente mais pessoal ao evocar o seu filho, Beau, que serviu no Iraque antes de morrer de cancro no cérebro.
O Presidente criticou Trump por alegadamente chamar os norte-americanos que morreram em batalha de “parvos e perdedores”.
Num dos momentos mais tensos da noite, Biden disse a Trump: “O meu filho não era um perdedor, não era um parvo. Você é o parvo. Você é o perdedor”.
Trump negou ter feito essas declarações, que o seu ex-chefe de gabinete John Kelly assegurou ter feito.
Outra das afirmações feitas por Trump veio sobre a guerra na Ucrânia, com o magnata a acusar Biden de ter “encorajado” a Rússia a invadir o país vizinho.
O New York Times corrigiu rapidamente o republicano, recordando que a administração Biden enviou William J. Burns, o diretor da CIA, à Rússia em novembro de 2021 para dizer ao Presidente russo, Vladimir Putin, que os serviços de informações norte-americanos sabiam dos seus planos para invadir a Ucrânia e avisá-lo para não avançar.
“Este lugar, o mundo inteiro, está a explodir sob o comando dele (Biden)”, disse Trump. “Nunca ouvi tanta asneira em toda a minha vida”, respondeu Biden.
O atual Presidente e o seu antecessor não se falavam desde o último debate, realizado semanas antes da eleição presidencial de 2020.
Trump não compareceu à tomada de posse de Biden após liderar um esforço sem precedentes e mal-sucedido para reverter a sua derrota eleitoral, que culminou na insurreição do Capitólio em 06 de janeiro de 2021 pelos apoiantes do republicano.
Este primeiro debate presidencial de 2024 teve a duração de 90 minutos, com dois intervalos comerciais, e decorreu num estúdio do canal CNN em Atlanta, estado da Geórgia, com a moderação dos jornalistas Jake Tapper e Dana Bash.
O debate, que colocou frente-a-frente Biden e Trump pela primeira vez em quatro anos, aconteceu num momento em que as sondagens mostram uma disputa acirrada entre os dois candidatos e quando faltam menos de cinco meses para as eleições presidenciais.
Para evitar a repetição das cenas caóticas registadas em debates anteriores, foram ditadas regras incomuns, como um debate sem público, o silenciamento dos microfones quando o candidato rival estiver a falar ou a proibição dos candidatos trocarem ideias com a sua equipa durante os intervalos ou de levarem notas escritas para o palco.
Biden e Trump deverão voltar a enfrentar-se em 10 de setembro, num segundo debate organizado pela rede ABC News.