“Vire à Direita e saia na única saída”

Seria cómico, se não fosse trágico, observar a curiosa jornada de certas almas rumo à esquerda política. É um caminho pavimentado, ao que parece, com as mais nobres intenções e as mais ingénuas fantasias. Permitam-me, com um sorriso de escárnio no canto da boca, desvendar os meandros dessa peregrinação ideológica.

Comecemos pelo ponto de partida. Muitas vezes, a guinada à esquerda parece ter o seu início numa revelação epifânica: a descoberta de que o mundo, vejam só, é injusto. Uma constatação chocante para quem, até então, acreditava que a meritocracia era mais do que uma palavra bonita. De repente, o sucesso alheio não é fruto do esforço ou do talento, mas sim de privilégios e opressões. E, claro, a própria condição do neófito é, invariavelmente, a de vítima. Uma vítima do capitalismo selvagem, do patriarcado opressor, do racismo estrutural (mesmo que nunca tenha sofrido racismo), ou de qualquer outra mazela social que os departamentos de humanidades, tão generosamente, oferecem no seu cardápio de flagelos.
Essa vitimização, no entanto, não é um fardo, mas uma carteira de identidade que confere um status moral superior, um passe livre para a indignação perpétua. E com essa indignação, vem a sedução da colectividade.

A esquerda, na sua infinita sabedoria, oferece o consolo de que todos os problemas individuais são, na verdade, problemas estruturais. Não é a falta de iniciativa, meu caro, é o sistema! Essa é uma mensagem irresistível para quem prefere a abolição da responsabilidade individual em troca da ilusão de um Éden colectivo, onde todos são iguais na miséria ou na prosperidade, desde que a segunda seja distribuída por decreto.

Outro motor potente dessa migração ideológica é a busca por um propósito. Num mundo que exige iniciativa, pensamento crítico e, pasmem, a capacidade de se sustentar, muitos encontram na militância de esquerda uma espécie de salvação vicária. Em vez de construir algo de valor, de inovar, de empreender, a pessoa pode dedicar-se a desconstruir, a criticar e a apontar o dedo. É um trabalho muito menos árduo e, curiosamente, muito mais gratificante para o ego, pois coloca-o na posição de arauto da justiça social.

E não nos esqueçamos do medo da liberdade. A liberdade, afinal, é um fardo pesado que exige escolhas, riscos e aceitação de consequências. A esquerda, por sua vez, oferece a doce miragem da segurança. Aquela Segurança provida pelo Estado, que se torna numa espécie de pai omnisciente e omnipotente, presente cuidador, desde o berço até o túmulo. Em troca de um pouco de autonomia, obtém-se a promessa de que não será preciso pensar demais. Uma verdadeira benção para aqueles que encaram a vida como um constante exame ao qual temem ser reprovados.

Por fim, há um inegável apelo estético. A esquerda, convenhamos, tem uma aura de rebeldia repleta de camisolas com frases de efeito e manifestações cheias de paixão (e, por vezes, vândalos). Todo este aparato decorativo oferece-nos a sensação de fazer parte de algo “maior” que desafia o status quo. Presenteia-nos um tipo de inconformismo que raramente exige sacrifício real, mas que permite aos seus adeptos sentirem-se na vanguarda de uma revolução que, na maioria das vezes, acontece apenas em posts de redes sociais ou em debates acalorados em cafés.

A escolha pela esquerda, portanto, pode ser vista como uma fuga. Uma fuga da responsabilidade individual, da complexidade do mundo real, do desconforto da liberdade e da árdua tarefa de construir uma vida com base no próprio mérito. É mais fácil, afinal, abraçar a narrativa de que o mundo está errado, e que a solução reside em desmantelar tudo para, então, erguer uma utopia colectiva, supervisionada pela iluminada elite que sabe exactamente o que é melhor para todos. E assim, com um sorriso afectado de superioridade moral, essas almas prosseguem a sua marcha, convencidas de que estão a mudar o mundo, quando na verdade, estão apenas confortadas no aconchego do idealismo conveniente.

A questão que se levanta, então, é: essa jornada é realmente uma escolha consciente, ou apenas um atalho para a validação social e a fuga das responsabilidades que a verdadeira vida cívica e em comunidade impõe?

Depois de tamanha digressão sobre os caminhos sinuosos que levam almas incautas para a margem esquerda do espectro político, seria de esperar que a surpresa fosse mínima ao observarmos o movimento inverso. No entanto, o espanto, a incredulidade e até mesmo um certo desespero parecem tomar conta dos “iluminados” quando os portugueses, em número crescente, decidem virar à direita. É como se a plebe, de repente, tivesse ousado pensar por si mesma, contrariando o guião pré-estabelecido pelos mestres da consciência social.

Por que será que o povo luso, com o seu proverbial apego ao fado e à saudade, decide afinal, abraçar ideias que, até há pouco tempo, eram pintadas como arcaicas, desumanas ou, na pior das hipóteses, fascistas? A resposta, meus caros, é de uma simplicidade que desarma a mais complexa das teses marxistas: a realidade bate à porta.
Enquanto a esquerda prometia um paraíso de igualdade e benevolência estatal, a realidade teimava em apresentar filas nos hospitais, burocracias sufocantes, impostos esmagadores e uma crescente sensação de que o mérito individual era visto com desconfiança, enquanto a mediocridade colectiva era celebrada. Aquele paraíso, tão bem-vindo nos discursos inflamados e nas teses universitárias, revelou-se um purgatório de ineficiência e, paradoxalmente, de novas desigualdades, criadas não pela “opulência capitalista”, mas pela penúria estatal.
Os portugueses, outrora seduzidos pela promessa de que o Estado cuidaria de tudo e com generosidade ilimitada, começaram a perceber que essa generosidade tinha um preço. Uma factura paga com o seu próprio esforço, com a sua liberdade de escolha, e com a capacidade de construir um futuro sem a tutela constante de um Leviatã benevolente.

Além disso, a exaustão com as guerras de género (e com o género), com as bandeiras multicores hasteadas a cada nova minoria (real ou imaginada), começou a pesar. Enquanto se debatia a neutralidade de género dos unicórnios, os problemas reais como o custo de vida, a segurança e a degradação dos serviços públicos eram deixados de lado; ou então convenientemente atribuídos ao “neoliberalismo selvagem” , essa entidade tão abstrata na retórica de esquerda.
A retórica de que tudo é opressão e todos são vítimas soou bem por um tempo, mas depois começou a cansar. As pessoas, afinal, querem soluções, não desculpas. Querem oportunidades, não paternalismos. E, acima de tudo, querem a liberdade de ser quem são, sem ter de se enquadrar em categorias pré-definidas ou de pedir permissão para existirem.

A “direita”, que antes era sinónimo de atraso e egoísmo, começou a ser vista como a voz do senso comum. A voz que fala de responsabilidade, de mérito, de liberdade económica e de uma ordem social que não está constantemente a ser desconstruída em nome de um ideal utópico. Não é uma adesão cega à ideologia, mas um reconhecimento pragmático de que algumas ideias, por mais antiquadas que pareçam aos olhos dos progressistas, simplesmente funcionam.

É compreensível que os arautos da esquerda se sintam traídos por esta viragem. Afinal, dedicaram as suas vidas a educar, a catequizar (sem Deus) e a mostrar o “caminho certo”. E agora, o povo, esse mesmo povo que eles tanto defendem nos seus discursos, ousa contrariá-los. É um choque ver a realidade desmentir as projecções dos seus modelos teóricos, e a verdade é que o povo português, cada vez mais, tem demonstrado que prefere a liberdade de errar por si mesmo a ser “salvo” por aqueles que, com as melhores intenções, parecem ter esquecido como se vive no mundo real.
Afinal, para quem vive na torre de marfim da ideologia, o chão firme da realidade pode ser um lugar bastante desconfortável. E essa é, talvez, a razão de tanto espanto.
Será que a esquerda portuguesa conseguirá algum dia compreender que o seu próprio discurso e as consequências das suas políticas são os principais catalisadores desta viragem, ou continuará a culpar factores externos e a “falta de consciência” do povo?

Se até agora nos deleitámos com a constatação do óbvio, de que a realidade, essa velha rabugenta, insiste em desmentir as fantasias esquerdistas, é também tempo de elevar o olhar para além da mera observação. A viragem à direita em Portugal não deve ser apenas um sintoma de desencanto, mas um despertar. Um despertar da alma nacional, que, por demasiado tempo, esteve adormecida sob o manto cinzento de ideologias importadas e da vergonha autoimposta pela nossa própria história.

Não nos iludamos, porém. Uma parte desta viragem é, obviamente, um voto de protesto. Um grito à ineficiência e à agenda globalista que tanto tem corroído os alicerces da nossa sociedade. Mas há algo mais profundo a germinar. Há um anseio de identidade, de pertença, de um Portugal que se reconhece em si mesmo, nas suas tradições, na sua soberania e no seu destino singular.
A direita, a verdadeira direita, aquela que ama a Pátria acima de todas as abstrações e que defende o que é nosso com a força da convicção, tem agora uma responsabilidade histórica. Não basta ser a antítese da esquerda. É preciso ser a alternativa construtiva, o farol que guia a Nação para um futuro de prosperidade e orgulho.

Para que esta viragem não seja um mero interregno, mas o início de uma nova era, há muito a fazer.

Primeiro, é imperativo reafirmar a nossa soberania. Não apenas no discurso, mas na prática. Isto significa defender as nossas fronteiras, proteger os nossos interesses económicos e culturais, e dizer um claro “não” a qualquer tentativa de diluir a nossa identidade num caldeirão globalista sem alma. Portugal é uma nação com uma história milenar, e não um mero apêndice de burocracias supranacionais.

Em segundo lugar, impõe-se a valorização do mérito e do trabalho. É fundamental desmantelar a cultura da subsidiodependência e do assistencialismo que tanto fragilizou o espírito empreendedor português. O Estado deve ser um facilitador, não um entrave. Que se premeie quem produz, quem inova, quem arrisca, e não quem nivela por baixo em nome de uma igualdade utópica que só gera miséria e ressentimento.

Terceiro, é crucial reerguer as nossas instituições com base nos valores que nos definem: a família, a comunidade, a ordem e o respeito pela autoridade. A dissolução moral e social que observamos é o resultado directo de décadas de ataque sistemático a esses pilares. A direita deve ser a guardiã desses valores, promovendo uma educação que inculque o amor à Pátria, o sentido do dever e a excelência individual.

Finalmente, é preciso comunicar sem medo. A esquerda dominou o discurso público, estigmatizando qualquer voz dissonante. É hora de romper com essa hegemonia cultural, de levar as nossas ideias a todos os cantos, de mostrar que ser português, ser patriota e defender os nossos interesses não é extremismo, mas sim amor à nossa terra. A batalha cultural é tão vital quanto a batalha eleitoral.

A direita portuguesa tem uma oportunidade ímpar. Será capaz de ir além do lamento e da crítica, e erguer-se como a força motriz de um Portugal forte, próspero e, acima de tudo, soberano? O futuro da Nação depende da resposta.

Artigos do mesmo autor

Inaugurado em 22 de Junho de 2018, no seio de uma antiga fábrica de cortiça, o Mercado da Romeira é hoje um vibrante food court. Abre todos os dias, com balcões de restauração, bar até às 2h, música ao vivo semanal, e eventos temáticos ao longo do ano. A zona da Romeira é um exemplo […]

Portugal tem uma qualidade rara, consegue viver no eterno “déjà-vu” político. A cada verão, a história repete-se com a disciplina de um relógio suíço: o sol aparece, a floresta seca, o país arde… e os governantes aparecem nas televisões a prometer que “desta vez será diferente”. Nunca é. O PS, durante anos, tratou os fogos […]

Ser de Direita, tornou-se hoje quase um acto de resistência estética. Quando a vulgaridade do discurso dominante se transveste de virtude, manter a compostura, é já de si, um gesto revolucionário. Gritar não é mais autêntico do que pensar; facto que nos remete para um desafio: permanecer firmes, convictos, até provocadores, sem cair na armadilha […]