“Partidos dali, houveram vista daquele grande e notável cabo, ao qual por causa dos perigos e tormentas em o dobrar lhe puseram o nome de Tormentoso, mas el-rei D. João II lhe chamou Cabo da Boa Esperança, por aquilo que prometia para o descobrimento da Índia tão desejada”.
Contrariamente a Dom João II, este governo começou por “dobrar” o Cabo da Boa Esperança com esta maioria absoluta, mas pelo seu desnorte e falta de saber navegar aproxima-se perigosamente, ou não, do cabo das Tormentas. Da Boa Esperança das contas certas, da Boa Esperança do fim da crise, dos milhões da Bazuca, do PRR, dos juros baixos, este Governo tem-nos presenteado com casos sobre casos de menor clareza política com consequências cada vez mais gravosas para a estabilidade e credibilidade governativas.
Para salvar a TAP, enterrou 3200 milhões do erário público, de todos nós, contrariando-se a si próprio, sendo contra a privatização da empresa, agora e depois deste desbaratar já se prefigura em privatizar. Meu Deus, que grande cabo das tormentas teve de passar o P(n)S na pessoa do Ministro responsável pelas infraestruturas e delfim possível do Costa. Com os gastos da TAP, por pano de fundo sempre em lastro de fundo, junta-se agora a menina Alexandra com a choruda indemnização de 500 mil euros. Como estamos todos ligados politicamente e quiçá familiarmente, nem o Ministro Medina, nem tão pouco o seu chefe e amigo António Costa saem bem desta situação de legalidade duvidosa e politicamente e eticamente reprováveis.
Esta bomba acabadinha de explodir, gera implosão num dos mais destacados membros da governação socialista, no mínimo os estilhaços já o atingiram, com o seu pedido de demissão e prontamente aceite pelo senhor Primeiro Ministro. Esta bomba de neutrões, invisível mas mortífera deixa marcas e consequências no Governo e seu chefe, pois a proximidade de ambos e a importância e consequências desta saída fragiliza, no mínimo todo o governo e sua luta por credibilidade e lutas pelo bem estar do povo, com medidas como esta boda aos pobres de 240 euros que suavizam quem precisa mas são uma miséria com os lucros extraordinários deste Governo de mais de 4 mil milhões de lucros excessivos pela carga fiscal em patamares nunca antes vistos e sentidos, foi mais um “melhoral” que não faz bem nem faz mal.
Com esta situação, o governo expõe o seu desnorte e falta de rumo, coerência e expõe perigosamente a sua sustentabilidade e integridade a médio prazo. Digo a médio prazo e não a prazo imediato, porque tem a sorte de um Presidente da República que há muito perdeu o P e é agora apenas um Residente. Sem coragem para enfrentar esta perigosa falta de funcionamento das instituições, mas com apoio parlamentar de maioria absoluta, apenas lhe resta este suporte político de poder absoluto que se esfuma em cada caso lamentável que nos chega pela comunicação social agora sem já poder suavizar nada, tal é a gravidade dos disparates e desnortes destes casos atrás de casos que dia após dia nos fazem desanimar da maioria socialista que em democracia se torna efêmera e insustentável, mesmo que politicamente suportada.
Penso ainda que, com mais a machadada da Moção de Censura a apresentar pela IL, teremos uma oportunidade política única de impor um cartão vermelho a esta maioria, assim haja coerência e responsabilidade do PSD e alguma postura dos ainda restantes BE e PCP.
A democracia sustenta-se no apoio político das eleições definidoras dum governo e este determina e sustenta o governo, mas chegamos a este Cabo da Boa Esperança que agora se transforma em Cabo das Tormentas pelo Rei Dom António Costa. O da Esperança levou-nos ao sucesso, este agora das Tormentas leva-nos-há à miséria, descredibilização e revolta.
Penso que este governo está no limite dele próprio e dando assim razão ao pedido corajoso de dissolução do parlamento por André Ventura. O caminho fica assim mais claro,ou seguimos para o cabo das Tormentas ou damos uma volta que a democracia permite e passaremos pelo caminho da Boa Esperança.Vamos lá ver se o Residente ainda volta do Brasil com esta situação invernosa de chuva e muita nebulosidade…
Fernando Duque
(Deputado na Assembleia Municipal de Coimbra)