O plasma recolhido em Portugal é insuficiente para as necessidades, conclui um relatório hoje publicado, que alerta para a dependência nacional nesta área e aponta a necessidade de definir uma estratégia de incentivo à dádiva.
O documento, que vai ser hoje apresentado na Ordem dos Médicos, refere que, nos últimos anos, a média de plasma colhido em Portugal se tem mantido nos 60.000 litros por ano, um volume que “é insuficiente para as necessidades nacionais em medicamentos derivados do plasma”.
“É imperativo desenvolver estratégias que permitam aumentar, quer as doações de sangue total, quer a doação de plasma”, referem os peritos que elaboraram o relatório, lembrando que Portugal está longe de atingir a autossuficiência de medicamentos derivados do plasma.
O estatuto do dador de sangue “apresenta poucas compensações para os dadores, o que cria desincentivos à doação”, lembram os peritos, sublinhando que, em 2021, cerca de 30 mil pessoas registadas como dadores não efetuaram doação.
“Os países que apresentam compensações que mitigam as despesas do dador são os que têm maior número de doações”, insistem.
O documento, elaborado pela WISE Health Solutions – uma consultora na área da saúde – diz que tem aumentado o consumo de medicamentos derivados de plasma e que é previsível que este aumento se mantenha nos próximos anos, “devido à identificação de novas indicações terapêuticas e ao aumento do consumo por parte dos países emergentes”.
Alerta igualmente que a redução de preços pode levar à escassez de medicamentos derivados de plasma e sublinha que “Portugal tem dos preços mais baixos da Europa” nestes medicamentos.
O plasma é o principal constituinte do sangue, correspondendo a aproximadamente 55% do seu volume. É constituído por uma mistura de água, sais e proteínas. A albumina, as imunoglobulinas, os fatores de coagulação e o fibrinogénio são os principais elementos do plasma.
Os componentes do plasma têm múltiplas utilizações terapêuticas, nomeadamente, o tratamento de doenças da coagulação, doenças imunológicas e situações de trauma. Pode ser utilizado para transfusão ou como matéria-prima para o para fabrico de medicamentos.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) classifica o plasma e os derivados que resultam do seu processamento como medicamentos essenciais, o que significa que são necessários para satisfazer as necessidades prioritárias de saúde da população.
No relatório, os peritos lembram que o novo regulamento europeu para as substâncias de origem humana destaca a importância de os países europeus desenvolverem independência estratégica relativamente aos medicamentos derivados do plasma.
O documento, que será apresentado numa cerimónia que contará com a presença do ex-presidente do Infarmed Eurico Castro Alves e do ex-presidente do Instituto Português do Sangue e da Transplantação Álvaro Beleza, chama ainda a atenção para a necessidade de “flexibilizar os critérios de contração para o aproveitamento do plasma colhido em Portugal”
Recorda que, em Portugal, todo o plasma é obtido a partir da doação de sangue total, uma vez que não existem centros de plasmaférese – um processo extracorporal em que o sangue retirado do paciente é separado nos seus componentes plasma e elementos celulares – e sublinha que os países que mais se aproximam da autossuficiência são os que desenvolvem estratégias de colheita de plasma em centros públicos e/ou privados através desta técnica.
“A recente crise da covid-19 demonstrou a fragilidade dos mercados, sendo que vários países exportadores suspenderam ou condicionaram as exportações por forma a garantir que as suas necessidades estavam preenchidas”, sublinha.
O relatório diz ainda que, “apesar da execução do disposto nos diferentes planos estratégicos e da criação da REM [Reserva Estratégia do Medicamento], continua a não existir evidência da existência de uma reserva estratégica de plasma e de medicamentos derivados do plasma”.