A invasão da Ucrânia pela Rússia, veio acelerar de forma clara o processo de transformação geopolítica a que assistimos hoje em toda a Europa. A iniciativa e liderança de países como a Polónia e os países bálticos, no apoio à Ucrânia, não só veio reforçar o crescente peso político e económico da Europa Central e de Leste no continente, mas veio também reanimar os esforços e opiniões favoráveis ao alargamento da União Europeia aos Balcãs, Ucrânia e Moldávia.
Nesta perspetiva, o caso da Polónia merece uma especial atenção. O ano passado, Varsóvia anunciou que iria investir 120.000 milhões de euros nas suas Forças Armadas até 2035. 366 carros de combate norte-americanos M1A1 Abrams, 980 K2 Black Panther sul-coreanos, 1400 Veículos de Combate de Infantaria (VCI) de fabrico local Borsuk, 648 bocas-de-fogo autopropulsadas sul coreanas de 155/52mm K9, 18 lançadores múltiplos de foguetes norte-americanos HIMARS, 289 lançadores do mesmo tipo sul-coreanos K239 Chunmoo, caças norte-americanos F-35 entre outros sistemas, farão nos próximos anos da Polónia uma das principais potências militares do continente.
Mas enquanto os países de leste reforçam a sua liderança política e moral, pelo seu apoio decidido e sem hesitações à Ucrânia contra a barbárie russa, o eixo franco-alemão, a “velha Europa”, mostra evidentes sinais de insucessos, contradições e até rutura. Para além das diferenças mais do que evidentes no campo energético, onde a Alemanha abdicou do nuclear, ao contrário da França, as diferenças do ponto de vista económico também são já indisfarçáveis, com Berlim a reforçar os laços com os países do grupo de Visegrado, onde aliás, já deslocou uma boa parte da sua indústria.
Por outro lado, a Alemanha também falhou ao colocar-se completamente dependente do ponto de vista energético da Rússia, assim como ao negligenciar o investimento nas suas Forças Armadas. A França, por sua vez, falhou na sua política de segurança europeia, onde preconizava uma maior autonomia face aos EUA e ao fazer da Rússia parte dela, não contra ela.
Prova desta viragem do peso político da Europa para leste, foi a recente visita do Presidente dos Estados Unidos ao velho continente, onde reuniu com o grupo “Bucareste 9” (Polónia, Roménia, Bulgária, República Checa, Estónia, Hungria, Letónia, Lituânia e Eslováquia) e ignorou quase completamente a Alemanha e a França. Curiosamente, e numa mostra de realpolitik, com um especial destaque para a Polónia, Joe Biden reforça na Europa os laços com países governados por partidos e ideologias muito próximos do partido Republicano (e do CHEGA), precisamente aquelas que combate dentro de portas (Department of State Rules, Stupid!).
Para Portugal no geral e para o CHEGA em particular, esta mudança geopolítica afigura-se como um desafio com grandes oportunidades. Se do ponto de vista económico, esta transição político-económica pode desviar fundos europeus para o leste, uma mudança política em Portugal protagonizada pelo CHEGA, pode fazer a ponte para uma aproximação estratégica a esse bloco de países governados por partidos ideologicamente conservadores (incluindo a Ucrânia), ao mesmo tempo que é garantida e reforçada a nossa vocação atlântica com uma ainda maior aproximação aos Estados Unidos e ao próprio Reino Unido.
Com o aumento crescente da influência das políticas e dos políticos conservadores, tanto no leste europeu como nos Estados Unidos, mas também na Europa Ocidental, como mostra o caso da Itália, o CHEGA terá todas as condições político-ideológicas para liderar, ajudado pelo exemplo dos seus congéneres do leste europeu e norte-americanos, à tão necessária mudança de paradigma político de que Portugal tanto precisa.