Miguel Castro nasceu em Janeiro de 1973. Natural de Porto Santo, é funcionário público, integrado nos quadros do Instituto das Florestas e Conservação da Natureza, mas também empresário no sector da restauração. Casado e pai de dois filhos, Miguel Castro é o presidente do CHEGA – Madeira, região autónoma que terá eleições entre setembro e outubro deste ano.
Quais os principais problemas e desafios que os madeirenses enfrentam no presente?
Existem três questões que merecem especial atenção. A primeira é o agravamento das disparidades económicas, reflectido no aumento da pobreza (incluindo a escondida), na perda de qualidade de vida e na perda do poder de compra. A segunda é o aprofundamento das redes de corrupção e de interesses que condicionam severamente a acção política, comprometem a sobriedade das políticas públicas e estão a converter a Madeira e o Porto Santo em regiões onde os que têm ligações ao poder singram, mas os demais lutam para sobreviver. A terceira é a instabilidade social, desde a crise na habitação à falta de segurança, sendo o aumento nos sem-abrigo, o agravo na criminalidade e a proliferação no consumo de drogas a sua faceta mais perturbante.
A Região Autónoma da Madeira é governada pelo PSD desde o 25 de Abril. Como classifica este legado de quase 50 anos de governação PSD?
Ninguém duvida que o PSD de Alberto João Jardim deu um contributo importante para o desenvolvimento infraestrutural da Região, o qual foi beneficiado pelos muitos apoios recebidos da União Europeia. Porém, é igualmente claro que a governação social-democrata falhou em duas áreas fundamentais.
Por um lado, não soube estabelecer um modelo de crescimento que fosse além das obras públicas e da dependência dos mercados externos, incluindo por via do turismo e não soube autonomizar a Região do ponto de vista económico ou fiscal.
Por outro lado, a ascensão política do PSD está associada à afirmação de certos grupos económicos dos quais aquele partido nunca se quis afastar. Como resultado, o PSD, e, por arrasto, a Madeira, estão reféns dos ditames desses grupos, que continuam a ter uma influência sinistra na governação. As ditas ‘obras inventadas’ são um exemplo disso, mas existem muitos outros.
Não é raro ouvir acusações de ‘défice democrático’ na política madeirense. Como é ser oposição na região autónoma?
A Democracia não diz apenas respeito aos processos institucionais da governação, mas exige, também, Justiça Social e respeito pelas oposições.
No caso específico da Madeira, ninguém duvida que a faceta processual da Democracia está estabelecida, porém somos ainda uma sociedade que não atingiu a Justiça Social plena.
A juntar a isto, muitos dos agentes políticos têm dificuldade em conviver com aqueles que têm uma opinião diferente da sua, o que é preocupante, pois a maturidade democrática exige a salutar convivência de visões distintas. Na Madeira, o partido dominante a pessoaliza o combate político, e, à falta de argumentos, ataca a pessoa, a família da pessoa, o carácter do adversário e não hesitam em usar o aparelho da governação para condicionar e até incomodar a vida daquelas que ousam apresentar caminhos alternativos.
As eleições para o Governo Regional da Madeira são já após o verão. Quais as espectativas do CHEGA para estas eleições?
Internamente temos objectivos específicos que nos exigirão empenho, mobilização e capacidade de diálogo com a população, no sentido de sermos merecedores da sua confiança. Externamente o nosso propósito é afirmarmo-nos como uma organização reformista (que quer mudar o sistema político), humanista (que quer colocar as pessoas e a sua identidade no centro da acção política) e de combate à corrupção (nas suas muitas expressões, pois são as principais responsáveis pela menorização do Bem Comum e da Justiça Social).
Pode falar-nos um pouco sobre as propostas que o CHEGA Madeira tem para a Região Autónoma?
O nosso programa está assente em dois pilares, nomeadamente a reforma do sistema político e o combate à corrupção. Por reforma do sistema político entendemos a humanização do processo governativo, isto é, fazer das pessoas o centro e o fim de toda a acção política, pois a defesa da sociedade não pode ser feita com desrespeito pelas pessoas, pois careceria de sentido e de legitimidade. Por combate à corrupção entendemos a luta contra o compadrio, o favoritismo e as ligações pérfidas que existem entre certos detentores de cargos públicos e certos interesses privados que condicionam severamente a política e que agravam as injustiças.
Como se verá no programa que iremos trazer a público, estas duas noções são vertidas em propostas que estão afectas a doze áreas já identificadas, desde a reforma da administração pública, reforço da Autonomia, defesa da Identidade Cultural e reforma das ligações aéreas e marítimas à valorização do sector primário, reforço da coesão social, dignificação da Saúde e dinamização da Economia, passando pela valorização da Educação, reforço das condições de protecção social e defesa do ambiente.
O CHEGA Madeira aceitaria entra num governo de coligação ou apoiar uma solução governativa no parlamento regional?
Não estamos na política à procura de benesses, e, como tal, não trocamos a nossa identidade por qualquer posição ou promessa de poder. Sabemos o que queremos, onde queremos chegar e estamos conscientes que o caminho é feito com trabalho sincero em prol da população. Não queremos vias-rápidas para o poder, pois as mesmas só nos tornariam reféns dos interesses de outrem. Assim, não estamos disponíveis para quaisquer coligações, pois os nossos objectivos são reformar o sistema político e combater a corrupção que alastra e asfixia a Causa Pública. Dito isto, a acção do CHEGA estará sempre em sintonia com o desejo dos madeirenses e portosantenses, na certeza de que, se formos eleitos, seremos parte da solução e não do problema, nunca defraudando os interesses daqueles que em nós confiarem.