O Sr. António tem 60 anos. Sempre foi uma pessoa muito ativa e considera-se um grande socialista. Desde muito jovem que desafia as convenções sociais. Considerava- se um ativista político. Chegou a militar na JS. Formou-se em História na Clássica e até hoje continua a fazer o que mais gosta. Dar aulas aos mais novos.
Hoje é dia de folga e por isso, o sr. António e a da Luísa podem aproveitar o fresco da manhã para ir tomar a sua bica. Fazia um mês que haviam perdido o seu primeiro neto. Ainda custava a acreditar, que o seu menino, com apenas onze meses, havia morrido por falta de cuidados hospitalares. Questionavam todos os dias, “como é que é possível um país como Portugal, do dito primeiro mundo, deixar uma criança morrer à espera de uma transferência para o Hospital?”. Eles ainda não acreditavam, julgavam que seria algo impensável, algo que só poderia acontecer num qualquer país africano. Mas não, havia-lhes acontecido, logo a eles, e no seu próprio país.
Ao tomarem o café, o sr. António, que nunca deixa escapar as notícias da CNN, pediu à Adelaide, dona do café onde vão, para ligar a televisão: “A televisão deve estar sempre ligada. Temos de estar atentos ao que se passa ao redor do mundo”, disse com um vigor, que não durou muito tempo. Ficou chocado. “Ataque em França! Refugiado esfaqueia 4 crianças”, ‘Meu Deus. Mais um ataque na Europa?’, Nem queria acreditar. Sentia o chão a desabar. O rol de notícias trazia desgraças umas atrás das outras. Era o SIS, que considerava “uma vergonha”; era a CPI da TAP ou a Mouraria que se tinha tornado “o Indostão”; Bem, estava a começar a ficar farto. Farto de tudo. Farto de governantes não querem saber das crianças, dos trabalhadores, dos pais e dos mais velhos.
Entre lamentos e reclamações lá se levantam e vão de encontro ao Rui, seu afilhado. Este jovem, com 26 anos, acabara de concluir medicina. Todavia, estava numa encruzilhada. Ser médico no seu país, ou emigrar para Inglaterra. Por lá, o Rui conseguiria seguir o seu sonho de vida, com boas condições e um salário chorudo, que em Portugal, infelizmente, nunca conseguiria alcançar. A escolha era difícil. Largar tudo e ir para fora ou ficar a trabalhar com poucas condições e com um salário precário. A da Luísa, direta como sempre, não hesitou e disse logo “estás a ver António? Como é que podes continuar a apoiar um governo que em tudo destrói uma sociedade? Foi a nossa família, é o teu salário congelado há anos e agora o nosso Rui? Está na altura de acordares!” Chega!
Muito indignado, o António nem queria acreditar. Não bastava toda a situação, ainda levava com a mulher a fazer apologias àquele “partido populista e oportunista”, que “queria destruir o regime de abril”.
Chateado, ao chegar a casa, depara-se com um montão de câmaras e jornalistas. Ao longe, vê várias crianças a passarem por ele e a gritar “é ele!”, “é o Ventura!”, “temos de tirar uma foto! Corram!”. Era só o que faltava agora; apeteceu-lhe fugir, como o diabo da cruz. Mas não, decidiu-se antes em ir espreitar o que dizia. Ao chegar ao pé daquele homem, viu o que nunca imaginou. As crianças e jovens saltarem para cima
daquele político, completamente eufóricos. “Queremos uma foto contigo”, “a minha professora não gosta de ti, mas eu adoro-te ver no Tiktok”, “os meus pais votaram em si”.
Ao escutar as declarações aos jornalistas, com respostas precisas, verdadeiras e carismáticas – dá por si a pensar “estive eu errado ao longo deste tempo todo?”, “afinal o Ventura não é o que eu pensava?”
“António” é uma personagem fictícia. A história que acabo de narrar é uma caricatura do mundo de hoje. Vivemos tempos em que as instituições não funcionam, o povo está farto de promessas vãs, a comunicação social empenha-se em desgastar um político que dá todos os dias a sua vida por Portugal e o governo socialista que vive num autêntico game of thrones a céu aberto. Antónios existem muitos. Felizmente, começaram a abrir os olhos e a perceber que foram enganados. Esperança só existe uma. E essa esperança é o CHEGA e André Ventura.