Entre janeiro e maio de 2023, os venezuelanos realizaram 3.900 protestos, uma média de 26 por dia, principalmente para reivindicar direitos económicos, sociais, culturais e ambientais, segundo o Observatório Venezuelano de Conflitos Sociais (OVCS).
“Os venezuelanos estão diariamente a exigir os direitos nas ruas do país. O OVCS documentou, durante os primeiros cinco meses desde ano, 3.900 manifestações de cidadãos. Este é um dado importante para entender o contexto da Venezuela”, explicou o porta-voz do OVCS.
Marco Ponce falava num fórum virtual organizado pela Amnistia Internacional, durante o qual especificou que “86% das mobilizações têm a ver com a exigência de direitos económicos, sociais, culturais e ambientais”.
“Quando olhamos o epicentro dos conflitos sociais na Venezuela, neste contexto do país, vemos que são os direitos laborais os que motivam a maior quantidade (2.863) de manifestações”, disse.
Ponce explicou que o motivo principal tem a ver com “o salário mínimo oficial, que é equivalente a cinco dólares [4,59 euros] mensais”, questionando “em qual parte do mundo um trabalhador, uma família pode viver com esse rendimento”.
Por outro lado, precisou que há também a questão da segurança social, com os reformados e pensionistas a serem vítimas de uma política pública que não garante os seus direitos, o que levou a que participassem em 557 manifestações.
“Vimos ainda 340 manifestações muito habituais na Venezuela que têm a ver com o colapso dos serviços básicos, denuncias de falhas de eletricidade, água potável, gás doméstico e para reivindicar o direito a uma habitação digna”, explicou.
Segundo o OVCS “é importante destacar que as manifestações têm sido de caráter pacífico”, com os venezuelanos “a fazerem as suas exigências em frente a escritórios governamentais, de maneira muito cívica perante a intensificação da emergência humanitária complexa”.
Marco Ponce explicou que, no passado, os venezuelanos denunciavam e protestavam bloqueando ruas, mas agora concentram-se junto dos escritórios governamentais.
“As pessoas estão-se a organizar, chegando a acordo [entre elas], têm mais interesse nos assuntos públicos do país e em conjunto identificam quais os escritórios que podem resolver os problemas ou onde estão os responsáveis pela crise e é aí onde vão exigir os seus direitos”, disse.
Marco Ponce precisou que até tem havido união de setores de diferentes ideologias políticas, “para de uma maneira cívica exigir respostas democráticas das instituições”.
O porta-voz do OVCS insistiu que “os venezuelanos se têm mantido muito pacíficos”, tratando de “resistir aos ataques ao espaço cívico democrático” e que “infelizmente a resposta do Estado não tem sido a de resolver os problemas”, apesar de em alguns casos avançar com soluções parciais.
No entanto, segundo o OVCS, “a política de repressão, criminalização e judicialização da sociedade civil continua”, com 74 manifestações reprimidas nos primeiros cinco meses de 2023, durante as quais ocorreram detenções arbitrárias, de trabalhadores e líderes sindicais, que exigiam pacificamente resposta à crise laboral na Venezuela.