As eleições regionais de domingo na Baviera e no Hesse, estados do centro e sul da Alemanha que, em conjunto, representam cerca de um quarto da população alemã, demonstraram que o Alternativa para a Alemanha está a alargar a sua base de apoio, que já não está circunscrita apenas ao Leste (antiga República Democrática Alemã), ‘confirmando’ a tendência das sondagens que lhe atribuem atualmente o segundo lugar nas intenções de voto a nível nacional, apenas atrás dos conservadores (CDU/CSU).
Aquele que é considerado o partido de direita radical de maior sucesso desde o partido nazi, e que há poucos anos gozava de popularidade sobretudo nos estados mais pobres da antiga RDA, conseguiu superiorizar-se às três forças políticas que compõem o governo federal – socialistas do SPD, Verdes e Partido Democrático Liberal (FDP) — em dois estados ‘ricos’, que representam mais de um quarto da produção económica alemã, e onde se localizam Munique (capital da Baviera) e o centro financeiro da Alemanha, Frankfurt (Hesse).
A nove meses das eleições europeias, que decorrerão entre 06 e 09 de junho do próximo ano, o AfD ‘promete’ obter um grande resultado, até porque, concordam os analistas, jogará num terreno que lhe é particularmente propício, dada o crescente descontentamento da sociedade alemã com a União Europeia (UE), designadamente em matérias como a política migratória, energética (os custos da transição energética) e económica.
Veit Medick, chefe da secção de política da revista Stern, observa que, embora ainda seja cedo para projetar as eleições europeias, “efetivamente o AfD está com um enorme ímpeto” e nota que “as eleições europeias são tradicionalmente boas para os partidos de protesto”, como o Alternativa para a Alemanha.
“Se Scholz conseguir, pelo menos, resolver a luta por novas regras de migração, isso poderá ajudar a reduzir a atração da AfD. Mas a UE está a tornar-se cada vez mais impopular na Alemanha e, por isso, as eleições europeias podem muito bem ser as próximas de admoestação para a «coligação semáforo»”, diz à Lusa.
Martin Schmidt, especialista de Política da estação ARD, comenta que “se os partidos tradicionais não encontrarem forma de recuperar a confiança dos eleitores e de fazer face aos problemas que o país enfrenta, designadamente a nível da economia e das migrações, os números do AfD podem subir ainda mais”.
“Atualmente, há preconceitos contra a UE profundamente enraizados na sociedade alemã”, e disso poderá tirar partido o AfD, pois apresenta “respostas fáceis para questões complexas” e a Alemanha “já não está imune ao fenómeno de crescimento do populismo”, acrescenta, em declarações à Lusa.
Para Nina Haase, editora de política da estação Deutsche Welle (DW), “as eleições europeias vão ser um grande teste para o governo nacional em Berlim”, que terá de “mudar de estilo”.
“Se não acabarem com as lutas internas e não forem capazes de implementar e comunicar bem prioridades conjuntas, então o AfD poderá obter grandes ganhos nas eleições europeias, o que também lhes daria um impulso para as importantes eleições regionais de 2024 no leste do país”, onde o partido de direita radical surge já à frente nas sondagens, afirma.
Também Nadine to Roxel, chefe de reportagem política da estação televisiva RTL em Berlim e que acompanha a Chancelaria Federal, considera que só uma grande mudança na política do governo federal pode evitar que nas eleições europeias também a Alemanha assista à subida da direita radical, “um fenómeno que se está a verificar à escala europeia”.
“Depende da resposta que o governo der nos próximos meses a questões como a migração, a inflação, a transição energética. Se não conseguirem apresentar soluções e [os partidos da coligação] não deixarem de estar constantemente a discutir entre si, então a AfD pode muito bem ter um grande resultado”, diz.