Em declarações à Lusa, António Mendonça considera que as consequências da atual crise política “não poderão deixar de ser enormes e a todo os níveis”.
“Como costumamos dizer em economia, as externalidades negativas são enormes e terão efeitos diretos, indiretos e outros”, disse.
O bastonário dos economistas considera que as consequências económicas do atual contexto serão “importantes, particularmente num contexto de desaceleração económica e de ameaça de recessão, tal como sinalizam os últimos dados conhecidos”.
A confiança dos agentes económicos “será seriamente afetada com consequências sobre as decisões de investir ou de gastar. A tendência para procrastinar decisões que tem caracterizado o país nos últimos anos ou mesmo décadas, encontrará um novo pretexto para continuar”, refere.
Para António Mendonça, “o curto prazo continuará a ser o horizonte de referência e os resultados eleitorais poderão contribuir ainda mais para a afirmação desta cultura, com a abertura de um período – que poderá ser longo – de instabilidade política, de fragmentação e de sucessão de ciclos curtos de governação, uma situação para a qual o próprio Presidente da República já havia alertado, na sua intervenção no recente Congresso da Ordem dos Economistas”.
O bastonário adverte ainda que “as consequências sobre a imagem externa do país poderão ser dramáticas”, quer “no plano das instituições europeias e da credibilidade com que encaram as relações com Portugal”, quer no “plano da confiança dos investidores estrangeiros que terão tendência a rever ou a adiar as suas decisões”.
“Nestas situações é fundamental haver responsabilidade por parte de todos os agentes, políticos e económicos, em particular, e, sobretudo, bom senso”, defende.
António Mendonça considera que “o modo como a crise política se desencadeou é de uma gravidade extrema” e que é “absolutamente essencial que a justiça atue, com isenção, rapidez e eficácia” e “que todos os factos e as respetivas responsabilidades sejam apurados, com objetividade e em toda a sua extensão e profundidade”.
Para o economista “é importante que se comece a pensar em termos de limitação dos danos”, desde logo, “no plano político, com a possibilidade real de alteração radical do quadro político do país, seja a nível de governo, seja a nível das relações de força entre os partidos, seja dentro de cada partido, com particular relevância, como é óbvio, para o partido da maioria parlamentar”.
O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, anunciou na quinta-feira que vai dissolver a Assembleia da República e convocar eleições antecipadas para 10 de março de 2024.
Contudo, irá adiar a publicação do decreto de dissolução, permitindo a votação final global do Orçamento do Estado para 2024 (OE2024), marcada para 29 de novembro, que tem aprovação garantida devido à maioria absoluta do PS.
O primeiro-ministro, António Costa, pediu na terça-feira a demissão ao Presidente da República.
António Costa é alvo de uma investigação do Ministério Público no Supremo Tribunal de Justiça, após suspeitos num processo relacionado com negócios sobre o lítio, o hidrogénio verde e o ‘data center’ de Sines terem invocado o seu nome como tendo intervindo para desbloquear procedimentos.
No dia da demissão, António Costa recusou a prática “de qualquer ato ilícito ou censurável” e manifestou total disponibilidade para colaborar com a justiça.