Destruir o Hamas é missão demorada

O ex-deputado israelita e especialista em espionagem Michael Bar-Zohar defende que será difícil a Israel alcançar o objetivo de destruir o movimento islamita palestiniano Hamas, mas que é possível​​​​​​​ a paz com os países árabes.

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Em entrevista à agência Lusa a propósito do seu livro “Não Há Missões Impossíveis”​​​​​​​ sobre as operações das forças especiais israelitas, Bar-Zohar considerou que “não há hipótese” de o governo israelita negociar com o Hamas, porque este movimento “não quer negociar”.

“É impossível aceitar o Hamas (…) que é uma organização terrorista em Gaza, que quer destruir Israel e matar-nos. Com eles, não podemos negociar”, afirmou o político e historiador de 85 anos​​​​​​​, biógrafo de grandes figuras israelitas como David Ben Gurion e Shimon Peres.

Para Bar-Zohar, “destruir o Hamas vai demorar algum tempo”.

“Há os fanáticos [islamitas] que querem conquistar o mundo e querem Israel, a Europa, a América, e dizem-no abertamente. (…) A Espanha era árabe no século XIV, e ainda está nos mapas, nos livros escolares. Vê-se o mapa dos países árabes, dos países muçulmanos e a Espanha está lá incluída”, frisou.

“Penso que o problema está nestas minorias, no Hamas, na Al-Qaeda, no Estado Islâmico, em todas estas organizações terroristas que estão a mudar o mundo de hoje”, acrescentou.

O ex-deputado trabalhista afirma que foi com o objetivo de “viver em paz​​​​” que Israel deixou há 20 anos a Faixa de Gaza, onde o Hamas viria a assumir o poder.

“Havia um exército israelita e cerca de 10.000 colonos de Israel dentro da Faixa de Gaza”, disse. O antigo primeiro-ministro, Shimon Peres, queria tornar Gaza na “nova Singapura, com turismo, com negócios” após a saída do exército israelita de Gaza.

“Em vez disso, [os grupos terroristas ali presentes] começaram a disparar foguetes contra nós e a dizer-nos: temos de vos destruir. Penso que esse foi um erro fatal, que nos custou muitas vidas”, afirmou.

Bar-Zohar acredita que a paz é possível entre Israel e a maioria dos países vizinhos, mas que a Cisjordânia continuará a ser um problema por motivos de segurança, tal como o Líbano pela presença da organização terrorista Hezbollah que mina a democracia no país.

“Fizemos a paz com a maioria dos nossos vizinhos. Fizemos a paz com o país árabe mais forte, que é o Egito, há muitos anos, em 1977. Fizemos a paz com a Jordânia, com Marrocos e com os emirados do Bahrein. Portanto, sim, a paz é possível na maioria dos nossos países”, afirmou. ​​​​​​​

Bar-Zohar nasceu na Bulgária em 30 de janeiro de 1938, e em 1948 mudou-se para Israel, onde cresceu. Participou na missão que atravessou o canal do Suez, na Guerra do Yom Kippur, no primeiro barco que atravessou o canal em direção ao Egito.

O antigo militar é um dos maiores especialistas israelitas em espionagem, foi membro do Knesset (parlamento), representante do país no Conselho da Europa e conselheiro para a comunicação social de Moshe Dayan, antigo ministro da Defesa de Israel.

O autor relatou que o ataque do Hamas em 07 de outubro foi uma surpresa, porque os israelitas pensavam viver uma espécie de calma com Gaza. O ataque fez mais de duas centenas de reféns e matou mais de 1.200 pessoas, o que desencadeou uma guerra entre Israel e o Hamas, que controla a Faixa de Gaza desde 2007.

“Todos os dias, 18.000 trabalhadores vinham de Gaza para Israel para trabalhar e cerca de duas semanas antes da guerra, autorizámos a vinda de mais 2.000. Portanto, tínhamos a sensação de que a situação era muito calma, muito pacífica”, continuou.

“Além disso, em todos os ‘kibbutz’, que ficam ao longo da fronteira de Gaza, as pessoas estavam muito satisfeitas, viviam muito bem, e não era suposto acontecer nada. Não havia tensão com Gaza”, recordou.

O antigo militar apontou ainda a dificuldade do exército israelita em combater em Gaza, por ser uma grande cidade e por existir no subsolo uma “espécie de cidade subterrânea, com cerca de 500 quilómetros de túneis”, por onde o Hamas se esconde.

“Muitos civis estão a ser mortos nesta guerra. As Nações Unidas também o dizem, que quando um exército ou um combatente está a usar civis como escudos humanos de defesa, eles podem ser feridos. É esse o problema”, disse.

“É por isso que queremos que tantos civis se desloquem, que não fiquem lá, porque há muitas pessoas que são mortas nesta guerra e isso é muito mau”, lamentou. “É preciso ir com muito cuidado e, por vezes, isso torna as coisas muito lentas”.

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