Evocando Rodrigo da Fonseca Magalhães

Porquê? Porque RFM foi um exemplo de lucidez intelectual e de honestidade pessoal durante o dificílimo período do liberalismo português de oitocentos, dividido entre os radicais vintistas e o cartismo. Deu sempre mostras de autonomia, independência e nível intelectual. Homens como ele fazem hoje mais falta do que nunca. O que se vê hoje é precisamente o contrário ou seja, o que de pior a política portuguesa tem gerado nas últimas décadas fruto da falta de cultura e do oportunismo, por razões de ordem diversa, é verdade, mas consentâneas. Está á mostra o que de mais baixo e vulgar tem aparecido desde que a democracia política funciona no nosso país. Os líderes, por sua vez, nem são políticos mas apenas os patrões dos respectivos partidos.  

    Neste pântano político e ético medram os pequenos e médios intelectuais com acesso privilegiado aos jornais, alguns até jornalistas de profissão, normalmente esquerdistas, que aproveitam a ocasião eleitoral para vazarem a sua ignorância, estupidez e preconceitos. Escrevinhadores como eles estão perfeitamente à vontade neste pequeno e sujo meio porque é dele e para ele que vivem. Vem a propósito citar o célebre desabafo de RFM; «é triste nascer, viver e morrer entre brutos».

    Serão brutos os nossos heróis? São muito piores. O crescimento eleitoral do Chega faz perder aos jornalistas de serviço as mais elementares regras deontológicas. Em período eleitoral agridem em vez de informar, não raciocinam, insultam e deturpam em vez de esclarecer. Prestam um péssimo serviço à democracia portuguesa de que se dizem, imagine-se, arautos. Vassalos do PS como são, nada de admirar. Falar-lhes na formação de uma esfera pública esclarecida, base ética da vida democrática, nem vale a pena porque nem sabem o que é nem qual o seu papel. Uma sociedade civil próspera, independente do Estado e dinamizadora? Que horror.  

    Não percebem aquelas luminárias uma coisa elementar; a direita conservadora existiu sempre no nosso país e está de boa saúde. É dela que se alimenta o Chega. Desinteressada da política durante décadas, abstencionista com frequência e em largo número, refugiada na sua vida privada por não se rever no establishment político existente, renitente em se manifestar, salvo duas ou três circunstâncias históricas há muito passadas, aí está ela outra vez mas agora com voz, programa e líder. 

    Desorientados com o fenómeno, os escrevinhadores de serviço não o sabem ler. Inventam então a esmo epítetos idiotas como o populismo. Evidentemente que não sabem o que foi e o que é ainda hoje o populismo. O populismo nasceu na Rússia czarista e verificou-se em várias épocas históricas quer à esquerda quer á direita; vive da ligação directa entre um líder carismático sem programa político definido e as massas sem consciência democrática construída e sedimentada, mergulhadas na acção espontânea ou (quase sempre) provocada  Verificou-se na Alemanha de Weimar época em que a democracia política estava ainda pouco consolidada e os eleitores ficavam à mercê dos primeiros oportunistas como Rosa Luxemburgo, K. Liebknecht ou o sinistro A. Hitler. Chegou ao paroxismo na Itália fascista na Espanha falangista e na Rússia de Outubro de 1917, para não falar de outros casos menos conhecidos. Só há populismo se a democracia política não estiver amadurecida.  

    Mas numa democracia consolidada e adulta como a nossa falar em populismo é insultar o eleitor português. Não há hoje em dia populismo em Portugal nem condições para que ele pudesse vingar. Por muito que custe a compreender às luminárias que conspurcam alguns jornais, o eleitor português está bem esclarecido e é precisamente por isso que se revê cada vez menos em partidos políticos que vivem da delapidação dos recursos públicos sem fazerem as reformas necessárias na educação, na saúde, no emprego, na justiça e no funcionalismo público, insistindo sempre em alargar e aumentar a máquina estatal porque é precisamente dela e para ela que vivem. Sem o Estado nada são.     

    Conservadorismo moderado nos costumes, sem excessos e tolerante para com as diferenças e contando sempre com a presença do «outro» (Levinas), que é sempre o outro que não nós na sua integridade e dignidade, e sobretudo forte e esclarecido liberalismo na economia; é do que necessitamos no nosso país. É isto populismo oh zoilos? É o contrário.  

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