O presidente do PSD corresponsabilizou hoje o BE pela governação do PS em áreas como a saúde e a habitação, enquanto a coordenadora bloquista defendeu que todas as soluções da AD para estes problemas passam por reforçar os privados.
Na fase inicial do debate, dedicada à saúde, a coordenadora bloquista acusou Montenegro de “copiar os programas extremistas de IL e Chega” e de “não fazer a mínima ideia como se resolvem os problemas” deste setor.
“Você é que faz, por isso é que há listas de espera e pessoas à porta das urgências. A Mariana Mortágua é corresponsável pelo pior desempenho na democracia portuguesa na gestão da saúde”, respondeu Montenegro.
Mas foi na fase dedicada à habitação que o tom do debate se tornou mais duro, com Mariana Mortágua a acusar o PSD de ter “expulsado os idosos” das cidades, recorrendo até ao exemplo de uma avó sua, e deixou outra acusação.
“Mandou uma equipa de ministros à Rússia para reunir com a oligarquia de Putin para vender vistos ‘gold’”, afirmou, dizendo que para Montenegro “o Estado só serve para garantir lucros para o privado e para a especulação”.
Na resposta, o líder da Aliança Democrática (coligação que integra PSD, CDS-PP e PPM) acusou o BE de querer transformar Portugal “numa nova Venezuela ou numa nova Cuba” com a proposta de tabelar rendas.
“Não há coisa mais extremista e radical do que pagar 1.500 euros por um T1 em Lisboa”, respondeu Mortágua, dizendo que em 13 países da União Europeia existem regras para as rendas.
Montenegro contrapôs que o BE “não tem propostas para baixar os preços na habitação, mas o sonho de os baixar por magia”.
“O BE e Mariana Mortágua estão sempre obcecados com o Estado, quando deviam estar preocupados com o cidadão. Como é possível olhar para a degradação dos últimos oito anos e dizer ao país que está tudo bem?”, criticou.
Montenegro anunciou ainda que a AD apresentará o seu programa eleitoral na próxima sexta-feira, depois de Mariana Mortágua por várias vezes o ter criticado por não ter divulgado esse documento antes dos debates televisivos.
Na fase inicial do debate, e questionado que garantias tem do líder do PSD/Açores de que governará sozinho a Região Autónoma, Montenegro considerou que José Manuel Bolieiro foi “muito inequívoco, muito claro” ao dizer que “estava disposto a governar com maioria relativa”.
“Só há uma forma de obstaculizar este Governo: se houver uma coligação do Chega com PS, aí haverá uma solução de Governo diferente”, disse.
Na saúde, Mortágua e Montenegro apresentaram soluções radicalmente distintas, com a líder bloquista a insistir na sua proposta de exclusividade dos médicos que estimou ter um custo de 500 milhões de euros, e disse que a intenção do PSD de atribuir cheques-cirurgia para os privados “que já existem há dez anos” e disse ser rejeitada por 88% dos utentes.
Montenegro ripostou que foi durante a governação socialista – “dois deles com apoio do BE” – que “mais pessoas tiveram necessidade de contratar seguros de saúde” e voltou a comprometer-se com um programa de emergência a apresentar nos primeiros dois meses de Governo para acabar com as listas de espera até final de 2025.
Os dois líderes partidários divergiram até sobre as auditorias do Tribunal de Contas sobre a eficácia das Parcerias Público-Privadas na saúde, com Mortágua a classificar algumas como “uma burla” e Montenegro a admitir “algumas desconformidades”, mas a defender que, onde existiRam, funcionavam melhor e com menos custos.
Na área da habitação, Mortágua sugeriu que se a Caixa Geral de Depósitos baixasse o ‘spread’ dos empréstimos em 1,5 pontos percentuais isso permitiria uma poupança de 1.600 euros para cada família anualmente.
“Já agora fechava os outros bancos e ficava só a Caixa, era tudo público”, ironizou Montenegro.
O líder do PSD aproveitou para criticar, sem o nomear, Pedro Nuno Santos, considerando que o atual líder do PS foi “responsável pelo falhanço total da política de habitação”, pasta que tutelou.
Na fase final do debate, os dois até concordaram com uma descida no IRS, mas numa escala muito diferente.
Mortágua contabilizou em 256 milhões a proposta do BE de baixa do imposto sobre o trabalho, mas dizendo que devem pagar mais impostos empresas como a EDP, as da zona franca da Madeira ou residentes não habituais, defendendo que “só com justiça fiscal é possível redistribuir riqueza”.
Montenegro contrapôs que a AD quer baixar o IRS em mil milhões de euros, considerando que o país só criará mais riqueza se for atrativo para o investimento estrangeiro, dando como exemplos países como Hungria e Polónia.
“O seu modelo económico já foi rejeitado historicamente no Leste da Europa. A sua intenção até pode ser muito boa, mas o resultado é o agravamento da pobreza”, criticou.