Num ‘resort’ de luxo em Maryland, às margens da Conferência da Ação Política dos Conservadores (CPAC, na sigla em inglês), o maior encontro anual da direita americana, Rennee, uma conservadora de 51 anos de Nova Jérsia, disse não ter dúvidas sobre o sufrágio de 2020 – no qual o magnata republicano saiu derrotado pelo atual chefe de Estado, o democrata Joe Biden.
“A eleição foi roubada em 2020 e há a possibilidade de ser roubada de novo em 2024”, afirmou.
“Realmente, tenho muito medo que os democratas roubem a nossa eleição novamente, mas temos de ter fé e esperança de que Trump vai ganhar e salvar o nosso país”, reforçou a norte-americana, que compareceu ao evento com várias peças de roupa e acessórios com o nome do empresário.
Thea, uma ex-bombeira já reformada de Connecticut, assumiu à Lusa “não ter a mínima dúvida de que os democratas tentarão roubar a próxima eleição”.
“Acredito que eles fizeram trapaça na eleição de 2020. Se isso faz de mim uma má pessoa? Bem, eu mantenho a minha posição e permanecerei, então, uma má pessoa, porque eu acredito em dizer a verdade. No meu coração, eu sei que eles cometeram fraude eleitoral”, advogou.
Com um chapéu estilo ‘cowboy’ na cabeça com o nome de Trump, Thea, de 50 anos, defendeu ainda o fim do voto eletrónico em prol da “integridade eleitoral”, argumentando, sem provas, que há imigrantes ilegais a votar nas eleições e “a roubar votos de cidadãos norte-americanos”
“Eu tenho medo que eles repitam a fraude, claro. E tenho a certeza que se eles puderem, eles vão roubar a eleição novamente. Pessoas que conseguem poder, normalmente não gostam de perder esse poder. E quanto mais poder têm, maior é a probabilidade de recorrerem a meios extremos para mantê-lo”, defendeu.
A teoria de que as presidenciais de 2020 foram alvo de fraude a favor de Joe Biden já foi amplamente rejeitada pelas autoridades eleitorais do país.
Contudo, Donald Trump – o candidato favorito dos eleitores republicanos para regressar à Casa Branca – há anos que vem difundido a falsa tese de que foi o justo vencedor dessa eleição, alegações repetidas pelos seus aliados e que levaram ao ataque ao Capitólio em janeiro de 2021, no qual cinco pessoas morreram.
Convidado da própria edição deste ano da CPAC, o ativista de direita radical Jack Posobiec defendeu publicamente o “fim da democracia” e apelou à continuidade daquilo que os apoiantes de Trump tentaram fazer no ataque ao Capitólio: impedir a confirmação da vitória de Biden.
“Bem-vindos ao fim da democracia. Estamos aqui para derrubá-la completamente”, disse, na quinta-feira, Posobiec durante um painel moderado por Steve Bannon, ex-conselheiro de Trump.
“Não chegámos lá no dia 06 de janeiro [de 2021], mas vamo-nos esforçar para nos livrar dela”, acrescentou o ativista, conhecido por difundir teorias da conspiração.
Na sexta-feira, também na CPAC, a congressista republicana Elise Stefanik alertou que os democratas tentarão “roubar a próxima eleição”.
“Quanto mais perto Trump chegar da vitória, mais ‘sujos’ ficarão os democratas, os seus estenógrafos na imprensa e os procuradores corruptos”, disse Stefanik, acrescentando: “Eles não vão parar por nada na sua tentativa de roubar as próximas eleições”.
Roger, um engenheiro de cibersegurança de 52 anos que viajou do Colorado até Maryland para ver Donald Trump discursar, disse à Lusa que os Estados Unidos têm de apostar tudo na “integridade eleitoral”, argumentando que isso passará por “ter a certeza que apenas pessoas qualificadas podem votar”.
“Neste momento, Trump está muito à frente de Joe Biden nas sondagens e os democratas terão de fazer algo muito drástico para conseguiu roubar esta eleição e acho que o povo norte-americano será capaz de ver isso”, sustentou.
A CPAC apresentou um desfile de políticos Republicanos e personalidades ultraconservadoras que ecoaram os ataques de Trump ao atual Governo e defenderam um regresso do magnata à Casa Branca.
Além disso, não faltou a narrativa de que as 91 acusações criminais que Trump enfrenta – incluindo conspirar para anular os resultados das presidenciais de 2020 – são uma tentativa da administração Biden de prejudicar a corrida do Republicano à Casa Branca, apesar da inexistência de provas nesse sentido.
A programação da CPAC contou com a participação de aspirantes Republicanos à vice-presidência, incluindo o ex-candidato Vivek Ramaswamy, assim como líderes estrangeiros, como o Presidente de El Salvador, Nayib Bukele, e o chefe de Estado da Argentina, Javier Milei.