Nessa carta, à qual a Lusa teve acesso, Ana Jorge começa por dizer que recebeu “com surpresa” a decisão de exoneração por parte do Governo de Luís Montenegro — a dois dias de completar um ano à frente da instituição — sublinhando que “foi uma honra” servir a SCML.
“O comunicado emitido pelo Ministério do Trabalho é, pela forma rude, sobranceira e caluniosa com que justifica a minha exoneração, motivo para me sentir desiludida”, lê-se na carta.
A ex-provedora da Santa Casa assume que “foram onze meses muito duros”, em que, defende, a equipa trabalhou “rumo à sustentabilidade financeira, à motivação dos colaboradores” e em prol do compromisso social assumido com “milhares de pessoas”.
“É por isso – pelo tanto trabalho, desenvolvido em tão pouco tempo e pelo plano de reestruturação sólido que desenhámos e que queríamos implementar – que hoje não me sinto tão triste. Por isto, só por isto”, refere.
Sublinha que sempre entendeu, “e hoje mais do que nunca”, que “em política, tal como na vida, não vale tudo” e deixa a garantia de que “a seu tempo e em sede própria” contará a sua verdade em relação ao que se passou.
“É a verdade de quem serviu a SCML com a mesma entrega e espírito de missão com que desempenhei as várias funções públicas e cívicas ao longo da minha vida”, salienta.
No final, deixa “uma última palavra” para todos os trabalhadores da instituição para que “não desistam da SCML”, defendendo que a instituição precisa de cada um deles para cumprir “a sua ação junto dos mais vulneráveis”.
O Governo exonerou hoje a provedora e os elementos da Mesa, com efeitos imediatos, e justificou a decisão com “atuações gravemente negligentes” que afetaram a gestão da instituição.
Segundo a informação disponível no despacho, o Governo entende que falta “um plano de reestruturação financeira, tendo em conta o desequilíbrio de contas entre a estrutura corrente e de capital” e que Ana Jorge não conseguiu apresentar esse plano “desde que tomou posse até agora”.
Ana Jorge tomou posse em 02 de maio de 2023, escolhida pelo anterior Governo socialista de António Costa, e herdou uma instituição com graves dificuldades financeiras, depois dos anos de pandemia e de um processo de internacionalização dos jogos sociais, levado a cabo pela administração do provedor Edmundo Martinho, que poderá ter causado prejuízos na ordem dos 50 milhões de euros.