O DIA EM QUE NASCI, MOURA E PEREÇA
NÃO O QUEIRA JAMAIS O TEMPO DAR
NÃO TORNE MAIS AO MUNDO E, SE TORNAR,
ECLIPSE NESSE PASSO O SOL PADEÇA.
Esta é a primeira estrofe do soneto de Luís Vaz de Camões que permite aos estudiosos e a investigadores ter, em conformidade com os dados e referências conhecidas, a noção nunca dantes tão próxima, da data de nascimento do enorme poeta e dramaturgo, homem de armas e que sem medo enfrentou perigos vários, amores mil, miséria e indigência sempre bendizendo o nome de Portugal e dos portugueses.
Agradeço aos extraordinários académicos o esforço e as suas descobertas sobre o autor de “OS LUSÍADAS” e o seu cuidado na definição da sua data de nascimento que deveria representar para este povo alguém que o cantou e contou como ninguém, a sua história.
A tese, debatida e defendida na Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra na tarde de terça-feira, dia 23 de janeiro, baseia-se em estudos astronómicos e na mais acurada interpretação da periodicidade dos eclipses solares.
Valeria a pena ter sabido mais do acontecido nem que o meu destino fosse ter ficado à porta da biblioteca plantado, tal o valor das informações e da história por lá falada? Mas quem sou eu? E que valor tenho senão o respeito e a consideração que dedico ao poeta e aos seus descobridores na procura que nunca cansa e tanto nos eleva? Obrigado, digo eu, pela procura!
O comprovado eclipse solar de 1525 “encaixa” na narrativa do último verso da primeira estrofe, permitindo supor, tal como outra referência confirma, que um ano antes do eclipse, a 23 de janeiro, teria sido dada ao mundo a sua vida, tal como descrito nos dois últimos versos da 4ª estrofe:
Ó gente temerosa, não te espantes,
Que este dia deitou ao mundo a vida
Mais desgraçada que jamais se viu.
Por certo que mais dados sobre esta tese virão ao mundo dos leigos no qual me incluo, daqui a uns tempos. Eu, porém, parto à frente. Não por qualquer privilégio ou conhecimento. Tão simplesmente porque quero acreditar e estar grato a quem dedica a sua atenção e tempo ao poeta dos poetas.
23 de janeiro passou sem que no país houvesse uma referência visível ao nascimento de Luís Vaz de Camões. Dizem que foi filho bastardo, criado por Bento de Camões, chanceler da Universidade e prior do mosteiro de Santa Cruz em Coimbra, que lhe incutiu o gosto pelas artes, a atração pelo latim, o respeito e a admiração pelos mais antigos que longe cantaram outras pátrias.
Chamavam-lhe o Trinca-Fortes, bem vestido, centro das atenções desde cedo, alvo de ciúmes tal a fama de mulherengo que nunca o largou, cantou os seus amores e os seus feitos por tabernas, locais vários e casas de fidalgos. Perdeu um olho aos 23 anos segundo consta numa batalha no norte de áfrica e por ter ferido um homem do paço numa vulgar escaramuça, foi deportado, vivendo com dificuldades na Índia e em Macau. Voltou a Lisboa e sentiu a peste, enchentes, incêndios e Alcácer-Quibir, a sua última esperança. Morreu pobre e indigente apesar da pensão que el-rei lhe concedeu em 1572 e que irónica e cinicamente, lhe terá chegado tarde às mãos.
Foi jogado a vala comum numa altura em que a peste aterrorizava Portugal. Alguns dos seus ossos enchem a honrosa campa de um português excecional. Descansa nos Jerónimos, mosteiro único de beleza e tamanho igual ao valor deste português que se foi da lei da morte libertando.
500 anos passaram e a lembrança é o que é. Pergunto porquê ao mesmo tempo que agradeço a quem nos lembra a figura maior, o passado e a glória? Não a vã dos fracos, mas aquela que nos enchia de orgulho e que hoje parece envergonhar-nos.
Camões, meu herói e minha admiração, serás sempre a figura do português comum e ao mesmo tempo o meu orgulho em ter nascido em Portugal. Gostava que este sentimento fosse comum a todos os portugueses, aos que sentem o que eu sinto e àqueles que, por ideologias e credos vários, têm outras figuras como heróis.
O resto são circunstâncias que envolvem tempos difíceis da nação.