Que o jornalismo enfrenta uma grave crise financeira e de valores democráticos, não é novidade. A novidade agora é o ataque direto e hostil do Governo ao serviço público de televisão. O Executivo de Luís Montenegro apresentou, num evento organizado pelos meios de comunicação social privados, o chamado Plano de Ação para os Media. Ora, este plano apresenta um conjunto de 30 medidas para o setor, cada uma apresentada e explicada em metade de uma folha A4. Eu já vi trabalhos de alunos no Ensino Básico mais extensos e aprofundados do que este plano do Governo.
A medida que mais celeuma tem gerado prende-se com o fim da publicidade na RTP. Caros leitores, é importante que percebam o que está aqui em causa. A RTP é o grupo de media responsável por garantir o serviço público em Portugal e além-fronteiras, porque uma das prerrogativas do serviço público é garantir a coesão geográfica entre quem vive em Portugal e os milhões de portugueses que estão espalhados pelos quatro cantos do mundo.
O governo não explicou ainda qual será a fonte de financiamento que vai colmatar a receita publicitária que ronda 20 milhões de euros. E mais. Este Executivo disse ainda que as marcas que perderão lugar na RTP irão procurá-lo nas restantes televisões do setor privado.
Sucede, porém, que isto não é verdade. Tal como já avisou o setor publicitário, a publicidade vai transferir-se diretamente da RTP para as grandes empresas digitais, como a Google
ou a Meta e, com o financiamento drasticamente reduzido, o caminho será o da privatização, algo que o PSD persegue
há já alguns anos. Ora, com esta medida o governo do PSD pretende duas coisas. Primeiro, ajudar o grupo Impresa – que pertence a Pinto Balsemão, fundador do PSD… – e que está com a corda no pescoço devido ao passivo financeiro de 212 milhões de euros; por outro lado, ao ajudar o setor privado, este fica-lhe agradecido e, ao mesmo tempo, condicionado na sua liberdade editorial porque, vamos ser honestos, os media não vão morder a mão de quem lhes dá de comer.
E assim a liberdade de imprensa ficará ainda mais coartada, com os partidos do sistema a dominarem (mais ainda) jornais, rádios e televisões.