Portugal deve avançar com “projeto de computação quântica”

O presidente da IBM Portugal, Ricardo Martinho, defende, em entrevista à Lusa, que Portugal deve avançar com um projeto de computação quântica, para tirar as oportunidades disso e diz que tem de ser "global".

© D.R.

“A minha perspetiva, e estou a lutar, é um sonho que tenho, já estou a lutar há mais de um ano, antes deste novo Governo” para haver um “projeto de computação quântica em Portugal”, salienta o responsável.

Ricardo Martinho reforça que “gostava muito que se conseguisse ver antecipadamente as vantagens que esta tecnologia pode trazer para um país como Portugal”.

Para desta forma “começarmos a criar novos modelos, novos casos de uso que possamos, depois, amanhã, exportar e voltarmos outra vez a estar no mapa como tivemos há uns anos atrás”, defende.

Até porque “comparo um bocadinho a computação quântica com os Descobrimentos, um desconhecido muitíssimo grande, mas só que agora estas naus são umas naus mais estáveis e mais robustas e não há serpentes com sete cabeças à nossa espera”, ilustra o presidente da IBM Portugal.

“Há uma grande oportunidade que temos, com o mar que temos, com as cabeças e a inteligência que temos e que formamos”, e depois há a questão dos recursos que se vão todos embora e que não ficam cá”, prossegue.

Esta é “uma forma de conseguirmos criar coisas únicas para nós e para o mundo e conseguir captar estes grandes talentos e tirar o máximo daquilo que são os recursos que temos dentro do nosso país”, insiste.

Ricardo Martinho “gostava muito” que Portugal avançasse para um projeto próprio de computação quântica e diz que está “a trabalhar nesse sentido”.

“Acho que Portugal tem essa visão. Agora, tem que ser um projeto global”, diz.

Ou seja, “não é um projeto de uma empresa, se não já tínhamos feito”, até porque “temos várias empresas dispostas a fazer os investimentos que forem necessários para essas áreas, só que achamos que isso tira aquilo que é a génese de um projeto de computação quântica”.

No fundo, “não é dar vantagem a um contra os outros, mas é sim dar vantagem a todos perante aquilo que é o resto do mundo e, portanto, a nossa posição económica e de desenvolvimento comparativamente aos outros”, argumenta.

Nomeadamente quando há reforço das regras de cibersegurança, com a transposição da diretiva de segurança das redes e sistemas de informação [NIS2 – Network and Information Security].

“Toda a nossa tecnologia, já hoje, é toda ‘quantum random’ [que gera chaves criptográficas aleatórias]. E nós achamos que estas áreas de ‘quantum safe’ [segurança quântica] são fundamentais e ninguém está a olhar para isso, e já aqui está”, salienta.

A encriptação “como nós a conhecemos hoje vai ser posta em causa”, aponta, referindo que se estima ser necessário “100 mil anos” para se quebrar uma cadeia de encriptação.

“Há testes que demonstram que já se consegue fazer em poucas semanas. Vão ser minutos daqui a muito pouco tempo. E quando forem minutos para quebrar uma destas cadeias, as coisas ficam todas postas em causa. E se não temos mecanismos de ‘quantum safe’ vamos estar expostos”, adverte.

Para Ricardo Martinho, é preciso “pensar seriamente nisso” porque “vai ser muito mais rápido do que isso”.

A IBM anunciou, numa reunião do G7, que em parceria com as universidades de Chicago e do Japão iria construir um supercomputador quântico com 100.000 qubits (unidade de informação quântica) até 2030.

Neste momento, “abrimos o nosso centro de computação quântica na Europa, na Alemanha, junto com o que já tínhamos nos Estados Unidos, temos cerca de 30 máquinas disponíveis para a comunidade utilizar naquilo que nós chamamos a IBM Quantum Network. Portanto, há mais de 100 mil pessoas a trabalhar com o ‘quantum’ neste momento” e isto “não é ficção científica, é totalmente real, é há muitos casos de uso que estão a ser utilizados”, sublinha.

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