O estertor do moribundo socialismo na Europa

O socialismo, como ideologia política, foi um dos pilares centrais das políticas públicas e das disputas ideológicas ao longo do século XX na Europa. Na Europa movimentos e partidos socialistas desempenharam papéis cruciais em momentos históricos, desde a reconstrução pós-guerra até a luta contra a austeridade e a desigualdade. No entanto, nas últimas décadas, o socialismo nestes países tem demonstrado sinais claros de desgaste, com o que se pode chamar de seu “estertor”, um declínio visível que reflete tanto mudanças globais quanto o fracasso de projetos sociais mais radicais. A seguir, analisamos como esse processo tem se manifestado nos principais países europeus.

A Alemanha, reunificada em 1990 após décadas de divisão, viu a extinção do Partido Socialista Unificado da Alemanha (SED) da antiga Alemanha Oriental, que governava sob a égide do socialismo de Estado. A queda do Muro de Berlim e o colapso do regime soviético levaram a uma redefinição drástica do socialismo no país. O Partido Social-Democrata da Alemanha (SPD), que sempre foi uma das maiores forças da esquerda alemã, passou por um processo de modernização e adaptação às novas realidades económicas e políticas, especialmente durante o governo de Gerhard Schröder (1998-2005).

Portugal oferece um dos exemplos mais interessantes de resistência do socialismo europeu. Em grande parte do século XX, o país foi governado por regimes autoritários e anticomunistas, com o Estado Novo e sua política conservadora e corporativista.

No entanto, o “estertor” do socialismo português ganhou visibilidade nas últimas duas décadas, particularmente após a crise financeira de 2008, quando o país foi forçado a aceitar um programa de resgate da Troika (União Europeia, Banco Central Europeu e Fundo Monetário Internacional), que impôs medidas de austeridade severas. As reformas neoliberais que acompanharam esse pacote minaram a base de apoio do Partido Socialista, que passou a ser visto como um defensor de políticas de austeridade, contrariando os princípios de justiça social que historicamente marcaram a sua plataforma.

Em Espanha, o Partido Socialista Obrero Español (PSOE) tem sido uma força dominante desde a Transição à democracia pós-Franco, mas também enfrenta um declínio da popularidade nos últimos anos, especialmente em face da ascensão de novos movimentos políticos. O governo socialista de José Luis Rodríguez Zapatero, entre 2004 e 2011, foi marcado por políticas progressistas, como a legalização do casamento entre pessoas do mesmo sexo e a despenalização do aborto, mas também pela crise financeira global, que afetou severamente a economia espanhola e minou o apoio popular ao PSOE.

Em França, o socialismo vive uma decadência visível desde a década de 1980, quando François Mitterrand, presidente socialista, implementou políticas de nacionalização e bem-estar social. Durante sua presidência, o Partido Socialista (PS) foi uma força hegemónica, representando uma plataforma de modernização do país com foco na justiça social e no Estado de bem-estar. No entanto, nas últimas décadas, o PS foi perdendo terreno, especialmente após as crises económicas, a crescente insatisfação com a classe política tradicional e a ascensão de novas alternativas políticas.

Tanto na Alemanha, Portugal, Espanha e França o socialismo está em um processo de declínio. A globalização, a crise económica e a ascensão de novas forças políticas de esquerda radical e de direita conservadora colocaram o socialismo tradicional em uma situação de “estertor”. Embora as formas mais radicais da ideologia continuem a ter algum impacto, a versão do socialismo que dominou o século XX já não é mais a força política hegemónica.

O socialismo está morto. Só falta o enterrar, antes que comece a cheirar. Esta “esquerda burguesa” está perdida nos seus dislates totalmente desfasados da realidade chocando, assim, com os anseios das populações. Os “ventos” mudaram, meus senhores.

 

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