Mais de 100 municípios ainda em estado de emergência seis meses após inundações em Espanha

Seis meses após as inundações de 29 de outubro de 2024 no leste de Espanha, em que morreram mais de 220 pessoas, 103 dos 337 municípios afetados em Valência permanecem em estado de emergência, segundo as autoridades regionais.

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O governo autonómico da Comunidade Valenciana divulgou no início de abril um “relatório de diagnóstico” sobre as inundações no qual revela que 337 municípios, com uma área de 14.760 quilómetros quadrados, foram afetados pelas cheias e que 103 (5.646 quilómetros quadrados) permanecem em “estado de emergência”, todos eles na província de Valência, nos arredores da cidade capital da região.

Segundo o documento, as inundações afetaram mais de 306 mil pessoas, sendo que nos dias posteriores à catástrofe 117 mil receberam cuidados médicos e 37 mil foram resgatadas por equipas de locais inundados ou isolados pelas águas. Estão confirmados oficialmente 224 mortos e três desaparecidos na Comunidade Valenciana.

As autoridades realçam o impacto da catástrofe em grupos como os idosos ou os imigrantes, destacando dois números: 100 mil das 306 mil pessoas afetadas eram idosas e 60 mil eram migrantes.

As cheias causaram danos em 11.242 habitações calculados em 475 milhões de euros. Perto de 1.500 casas foram declaradas “inabitáveis” e há seis mil elevadores que continuam “fora de serviço”, impedindo idosos e outras pessoas com problemas de mobilidade de sair de casa seis meses após as inundações.

A situação dos elevadores merece destaque no documento, por a reparação total (estimada em 160 milhões de euros) poder levar ainda nove meses, uma vez que falta mão-de-obra qualificada para atender a tantos pedidos.

Outro destaque do documento são os 141 mil carros que ficaram danificados, 120 mil dos quais de forma irremediável.

Os carros empilhados em torres ou montanhas de automóveis nas ruas, depois de arrastados pelas águas, transformaram-se numa das imagens mais simbólicas destas inundações e obrigaram a uma das primeiras respostas no terreno, para desimpedir acessos e para procurar desaparecidos.

Transformaram-se também num problema ambiental, com as autoridades a optarem por criar cemitérios de automóveis em terrenos descampados onde no início de abril, segundo o relatório do governo regional, permaneciam “ainda dezenas de milhar”, por incapacidade de resposta dos centros de desmantelamento e abate.

A necessidade de reposição do parque automóvel da região de Valência, como assumiu o Governo central de Espanha, levou o executivo nacional a criar um programa específico de ajuda com este objetivo. O Governo espanhol aprovou até agora pacotes de ajudas às populações, empresas e municípios num valor de 16.600 milhões de euros e acionou o Fundo de Solidariedade da União Europeia, que já desbloqueou 100 milhões de euros.

Segundo o relatório do governo autonómico, as cheias causaram danos de pelo menos 17.800 milhões de euros em habitações, infraestruturas de abastecimento e transporte, parques naturais e zonas protegidas, escolas, centros de saúde, equipamentos sociais e culturais ou 64.100 empresas, entre outros setores.

A estimativa é que a catástrofe tenha um impacto de entre 0,1 e 0,6 pontos percentuais no Produto Interno Bruto de Espanha, segundo o mesmo relatório, que cita diversos estudos.

Seis meses após as inundações, Valência prepara-se para, na segunda-feira, ser palco da sétima manifestação de protesto pela gestão política da catástrofe.

As manifestações têm sido convocadas por uma plataforma de duas centenas de associações e outras entidades e têm tido como lema “Mazón, dimisión”, (“Mazón, demissão”), referindo-se ao presidente do governo regional, Carlos Mazón, do Partido Popular (PP, direita).

Mazón e o seu governo são sobretudo criticados desde 29 de outubro pelos alertas tardios à população em relação ao temporal, apesar de os serviços meteorológicos espanhóis terem emitido um aviso vermelho horas antes das chuvas e das cheias.

Segundo o primeiro relatório da investigação judicial aberta para apurar eventuais responsabilidades políticas na morte de mais de 220 pessoas, a maioria das vítimas morreu antes de ter sido enviado o alerta da proteção civil para os telemóveis.

As manifestações anteriores mobilizaram centenas de milhares de pessoas: 130 mil em 09 de novembro, 100 mil em 30 de novembro, 80 mil em 29 de dezembro, 25 mil em 01 de fevereiro, 30 mil em 01 de março e 25 mil em 29 de março.

A manifestação de segunda-feira não será porém a única desta semana em Valência por causa das cheias, estando convocada uma outra para terça-feira, num dos locais em que se realiza o congresso do Partido Popular Europeu (PPE), que levará à cidade a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen.

Para além da manifestação, representantes das vítimas pediram um encontro à líder do executivo europeu, numa carta enviada na semana passada em que escreveram que “muitas famílias continuam sem recursos para reconstruir as suas casas, negócios ou projetos de vida”, em que denunciam “o silêncio das instituições” e em que criticam a falta de “explicações conviventes” de Mazón, um dos anfitriões do congresso do PPE.

Os representantes das vítimas lamentaram, por outro lado, que em seis meses nenhum representante da Comissão tenha visitado a zona afetada por estas cheias, uma das mais catastróficas registadas na Europa nas últimas décadas.

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