Eram 9h34 da manhã de quarta-feira e ainda faltavam contar cerca de 151 mil votos de cidadãos portugueses residentes no estrangeiro, recebidos por via postal em Lisboa. O último dia da operação de contagem decorreu nas instalações da Feira Internacional de Lisboa (FIL), no Parque das Nações, com 150 mesas montadas para o efeito. Em algumas mesas, o CHEGA surgia já em vantagem.
Olga Teixeira, presidente de uma das mesas de contagem dos votos oriundos do Brasil, afirmou à RTP que, no círculo Fora da Europa, o CHEGA reunia cerca de 300 votos em 700 contabilizados — uma vantagem considerável naquela secção.
Segundo o canal NOW, àquela hora ainda não havia registo oficial de votos nulos contabilizados. Contudo, reportavam-se várias mesas em que os votos rejeitados chegavam a ultrapassar os 50%. Num caso concreto, relativo a votos vindos do Canadá, aproximadamente 60% foram considerados inválidos por falta da fotocópia do documento de identificação, obrigatória por lei.
Nos primeiros dias de contagem, os da-dos indicavam uma vantagem do CHEGA nas cidades europeias, enquanto a coligação Aliança Democrática (AD) liderava fora da Europa. Segundo o NOW, na noite de terça-feira, o CHEGA registava cerca de 6.000 votos fora da Europa, contra 4.500 do PS. Já no círculo da Europa, o CHEGA contabilizava aproximadamente 35 mil votos, valor semelhante ao total obtido na eleição anterior. A AD surgia com cerca de 17 mil votos e o PS com 15 mil. Ainda assim, com parte dos votos por apurar, o resultado final permanecia em aberto.
Por volta das 15h00, com 350 mil votos já contabilizados e uma taxa de nulos a rondar os 30%, a comunicação social reportava um empate técnico entre o CHEGA e a AD fora da Europa, e apontava para a possibilidade de o partido liderado por André Ventura se tornar a segunda maior força política em número de votos nesse círculo.
Apesar de os votos da emigração ainda não estarem oficialmente concluídos, o presidente do Partido Socialista, Carlos César, admitia nas redes sociais a ultrapassagem pelo CHEGA: “Tal como já se esperava após conhecidos os resultados no território nacional, o PS deverá passar a ser a terceira maior força política em número de deputados, depois de apurados os votos das comunidades na Europa e fora da Europa.”
Entretanto, o líder do CHEGA denunciava alegadas falhas no processo de recolha de votos nos consulados. Em conferência de imprensa, André Ventura afirmou ter recebido “centenas ou milhares de reclamações” de cidadãos portugueses que se deslocaram a órgãos consulares e os encontraram “encerrados ou sem capacidade para recolher votos”. “Recebemos muitas denúncias de emigrantes que não conseguiram exercer o seu direito de voto”, declarou Ventura na terça-feira, na Assembleia da República.
No discurso da noite eleitoral, proferido no Hotel SANA Malhoa, em Lisboa, Ventura afirmou que “este é um dia histórico para o CHEGA e para os portugueses espalhados pelo mundo”. O partido elegeu dois deputados pelos círculos da emigração: Manuel Magno, fora da Europa, e José Dias Fernandes, na Europa.
“Hoje, o CHEGA ganhou as eleições e acabou com o bipartidarismo. Conseguimos eleger dois deputados – um sinal claro de confiança dos emigrantes no nosso projeto político”, disse Ventura, considerando os resultados um reflexo de descontentamento face aos partidos tradicionais. “Assisti com naturalidade a esta vitória, por saber que os nossos emigrantes que partiram para uma vida melhor, saíram não zangados com o CHEGA, mas zangados com 50 anos de corrupção de PS e PSD”, salientou.
Com estes dois mandatos, o CHEGA passou a contar com 60 deputados, superando o PS, que não obteve eleitos nos círculos da emigração.
Em países com fortes comunidades portuguesas, como França, Suíça, Reino Unido e Luxemburgo, o partido obteve votações expressivas. Em França, o CHEGA foi o partido mais votado, com 28,85%, ultrapassando o PS (14,41%) e a coligação PSD/CDS (12,81%). Na Suíça, reforçou a sua posição, com 45,72% dos votos, face aos 32,62% registados em 2024. No Reino Unido, obteve 16%, superando o PS (13,21%) e a AD (13,07%).
No Luxemburgo, o partido alcançou 31,27%, também melhorando em relação às eleições anteriores.
Ventura afirmou ainda que os resultados demonstram que o CHEGA “está a crescer dentro e fora do país” e reforçou o compromisso do partido em representar os emigrantes na Assembleia da República.
Por entre canções, gritos e bater palmas, a sala no piso -1 do hotel SANA Malhoa estava cheia. Palavras como “Ventura”, “Vitória” e “CHEGA”, André Ventura não deixou de deixar claro que o partido “não se esquece das suas raízes”, pois foi criado “na rua” e com estes resultados não se tornou mais “burguês”.
“Quando se assume uma vitória, deve-se perceber esses resultados. Não queremos vencer PS e PSD, nós queremos vencer por homens e mulheres por este mundo inteiro que queiram voltar novamente para o nosso país”, vincou.