Por que razão se candidata à presidência da Câmara?
“Nasci e vivo em Castelo Branco. Depois de ver o nosso concelho a enveredar por um caminho de inverno demográfico, falta de ambição e estagnação económica, sinto-me na obrigação de ajudar a devolver a Castelo Branco a centralidade distrital que merece. Preocupa-me o futuro do nosso concelho e a sua capacidade para competir com outros municípios do país. Não podemos continuar a aceitar que Castelo Branco seja apenas mais um concelho do interior perdido na desertificação e no abandono económico.
Quais são, no seu entender, os problemas estruturais do concelho?
Castelo Branco é o terceiro maior concelho do país em área, mas sofre de um desequilíbrio grave entre cidade e zonas rurais. A cidade cresceu em população nos últimos 30 anos, mas à custa do êxodo rural das aldeias do concelho e até de concelhos vizinhos, tornando o saldo demográfico negativo. Deixou-se de investir em vias de comunicação, cobertura de rede móvel, serviços públicos e transportes. Isto cria um círculo vicioso: quem fica nas aldeias enfrenta isolamento, menor acesso a serviços, aumenta o risco de fogos florestais e perde o interesse em continuar a viver nessas zonas.
Estes são os problemas das zonas rurais. E os da cidade?
Os empregos criados têm, na sua maioria, salários baixos e elevada instabilidade. Um exemplo são os call centers, muitas vezes envolvidos em polémicas nacionais, como o da Segurança Social aqui em Castelo Branco. Mais recentemente, a imigração descontrolada trouxe desafios ao nível da habitação e gerou um sentimento crescente de insegurança. Muitos imóveis estão devolutos, alguns pertencentes à própria Câmara. É necessário levantar a situação de todos os imóveis, recuperar os degradados e controlar a sua atribuição de forma eficiente e transparente.
Se for eleito, quais são as medidas que considera como prioritárias?
Caso seja eleito, uma das primeiras medidas a colocar em prática vai ser a de uma auditoria às contas da Câmara dos últimos 20 anos. Não nos podemos esquecer que, no mandato anterior, o presidente da Câmara do Partido Socialista perdeu o cargo por ordem judicial, sendo substituído pelo vice-presidente, que é agora candidato do PSD/CDS. Existem rumores de situações menos claras na Câmara, mas ninguém teve coragem de auditar. Nós teremos essa coragem, porque os cidadãos têm o direito a saber o que se passou e onde foram aplicados os recursos públicos. Só assim podemos corrigir falhas históricas e construir um futuro melhor.
Atualmente, o João é deputado municipal. Como descreve a sua atuação neste mandato que agora termina?
Creio que foi uma atuação positiva. Consegui aprovar propostas importantes, como a colocação da bandeira de Portugal e da cidade no nosso concelho, a isenção da taxa de esplanadas no pós-COVID-19, a obrigação de o executivo defender o traçado de autoestrada do IC31 e lançar o estudo para a construção de um parque TIR. Fui o segundo deputado municipal com mais tempo de intervenção, alguns nunca falaram ao longo do mandato. Concorro para ganhar, mas se não for eleito, continuarei a lutar pelo melhor para a nossa terra.
Considera que a desertificação do interior é uma inevitabilidade?
Não, de todo. A qualidade de vida no interior é muito superior à do litoral. É possível ter uma vida tranquila, sem a azáfama das grandes cidades. O problema é que as oportunidades laborais e culturais ainda são limitadas. Com as ferramentas de trabalho atuais, podemos trabalhar a partir de qualquer ponto do mundo, desde que haja uma boa ligação à rede. Os territórios de baixa densidade têm enorme potencial de crescimento e são essenciais para a coesão e sustentabilidade do país. É preciso é investir e olhar para o interior como um ativo importante para o país, o que não tem sido feito ao longo das últimas décadas.
Qual é a sua visão para o concelho daqui a dez anos?
Daqui a 10 anos quero ver as aldeias novamente povoadas, uma rede ciclável e pedonal a ligar todas as freguesias, cobertura móvel completa, transportes públicos acessíveis e serviços de saúde, educação e habitação que não discriminem quem vive na cidade ou na aldeia mais isolada. E, claro, uma gestão rigorosa da habitação social. Todos os imóveis da Câmara serão mantidos, recuperados e atribuídos de forma controlada. A cidade de Castelo Branco voltará a ser a verdadeira capital de distrito
Atualmente é deputado à Assembleia da República. Se for eleito Presidente da Câmara, por qual mandato vai optar?
Ser deputado é uma honra, e tenho defendido o distrito ao longo do mandato. Mas o poder legislativo não é tão entusiasmante quanto o poder executivo local. Na Câmara, vemos a transformação acontecer à nossa frente. A minha cadeira de sonho é ser presidente da Câmara de Castelo Branco e fazer a diferença.