Numa ação inédita, tendo em conta que a associação que representa os oficiais da Guarda Nacional Republicana nunca participou num protesto e manteve sempre uma posição de reserva, o presidente da ANOG, Tiago Gonçalves Silva, disse à Lusa que o “descontentamento vai desde as altas patentes até ao guarda”.
Tiago Silva avançou que a ANOG está a apelar a todos os militares da GNR para que “haja uma concentração de descontentamento” a realizar nos próximos dias junto à Assembleia da República com o objetivo de pressionar a ministra da Administração Interna para que reúna com as associações da Guarda ainda este mês de setembro e que inclua nas negociações o cálculo da pensão de reforma, uma situação que é “muito urgente” resolver.
“Queremos reunir o mais depressa possível para que o cálculo da pensão de reforma seja discutido em sede de Orçamento do Estado”, disse, frisando que o Governo não tenciona resolver os problemas na corporação.
O Ministério da Administração Interna (MAI) convocou esta semana as cinco associações da GNR e os sete sindicatos da PSP com direito a negociar com o Governo para reuniões que começam a 06 de outubro e terminam a 24 de novembro, estando entre os temas a ser debatidos as tabelas remuneratórias, carreiras e revisão dos suplementos.
Na convocatória, o MAI refere que o objetivo é retomar o processo negocial que tinha ficado acordado em julho de 2024 quando ficou estabelecido o aumento faseado do suplemento de risco em 300 euros até 2026.
O presidente da ANOG contestou o calendário das reuniões, uma vez que a ministra Maria Lúcia Amaral tinha indicado que as negociações começavam em setembro.
“O agendamento para data tardia, contrariamente ao que a ministra indicou, vem demonstrar uma manobra dilatória que pretende que este assunto não seja discutido no próximo Orçamento do Estado e por isso permitirá que em janeiro de 2026 haja um corte de mais de 30% no cálculo da pensão de reforma”, sustentou.
Tiago Gonçalves Silva lamentou também que o cálculo da pensão de reforma não esteja entre os pontos a discutir na reunião, sublinhando que “não se compreende o motivo da retirada deste ponto importantíssimo para a valorização da carreira dos militares da GNR”.
Segundo o presidente a associação que representa os oficiais da Guarda, os militares da GNR estão “a ser muito prejudicados quando comparados com as outras carreiras especiais da administração pública”, como médicos, juízes e inspetores da Policia Judiciaria, o que está a gerar “um forte descontentamento”.
O mesmo responsável disse que este problema é transversal a todas as classes.
Também os sindicatos da PSP já manifestaram que estão contra o calendário negocial proposto pelo MAI, considerando que a organização das reuniões demonstra “pouca vontade” em querer resolver os problemas da polícia, e o Sindicato Nacional da Polícia (Sinapol) anunciou protestos para outubro.