Um em cada três professores em Portugal queixa-se de indisciplina nas aulas

Um em cada três professores em Portugal queixa-se do ruído e desordem nas aulas, segundo um inquérito internacional que mostra que os docentes mais jovens e menos experientes ficam habitualmente com as turmas mais complicadas.

© D.R.

Estes são resultados do maior inquérito internacional realizado a professores do ensino obrigatório divulgado pela OCDE: A nova edição do Teaching and Learning International Survey – TALIS 2024 – contou com a participação de mais de 280 mil docentes de 55 sistemas de educação, incluindo Portugal.

Uma das revelações é que os professores perdem agora mais tempo a manter a disciplina dentro da sala de aula do que em 2018, quando se realizou o anterior inquérito. Em 2024, um em cada cinco professores dos países da OCDE admitiu haver problemas nas suas aulas.

O caso mais dramático vive-se no Brasil, com metade dos professores a relatar desafios, mas Portugal também aparece em destaque ao lado do Chile, Finlândia e África do Sul, onde mais de 33% dos docentes se queixam de indisciplina.

A situação tende a agravar-se quando à frente da turma estão professores mais novos e, segundo o TALIS, todos os países analisados têm mais turmas complicadas atribuídas a docentes menos experientes.

Aos mais novos calham habitualmente os estudantes mais problemáticos, mais mal comportados, com mais dificuldades de aprendizagem ou de linguagem, refere o inquérito, alertando para o perigo de tal situação levar os mais jovens a desistir da profissão.

Em Portugal, por exemplo, 27% dos professores com menos de 30 anos admite vir a deixar o magistério nos próximos cinco anos.

E Portugal é um dos países onde há mais casos de professores mais velhos com melhores turmas: “Em alguns sistemas educacionais, essas diferenças ultrapassam 15 a 20 pontos percentuais, incluindo Colômbia, Itália, Israel, Letónia, Nova Zelândia e Portugal”, apontam os investigadores.

Os professores usam agora com mais frequência práticas de gestão de sala de aula, como acalmar alunos que perturbam a aula, mas esta é uma tarefa mais fácil para quem tem mais experiência.

Curiosamente, 24% dos professores mais novos pediram mais formação para conseguir gerir o comportamento dentro da sala de aula.

A nível global, 84% dos inquiridos dizem-se capazes de acalmar alunos disruptivos e 67% sentem-se confiantes em motivar estudantes desinteressados.

Também se tornou mais habitual permitir aos alunos que pratiquem tarefas semelhantes até que todos tenham compreendido o assunto, um aumento que se registou de forma ainda mais expressiva em Portugal.

Num retrato sobre o que mudou nas escolas portuguesas, nota-se que há cada vez mais alunos estrangeiros e refugiados, mas menos alunos de famílias mais pobres.

Mais de 90% dos inquiridos relatam uma “satisfação geral com o trabalho”, mas 20% lamentou ter-se tornado professor. Para os investigadores, esta dualidade “sugere que o seu arrependimento pode refletir uma avaliação parcial das condições de trabalho atuais”.

A maioria está satisfeita com a profissão e com o ambiente de trabalho. Em Portugal, por exemplo, os professores dizem gostar mais de ensinar na sua escola atual, são mais os que não querem mudar para outra e a considerar a sua escola como um bom local para trabalhar.

Mas os portugueses são dos que mais se queixam de excesso de trabalho: Mais de metade fala em stress provocado pelo excesso de aulas, quando a média da OCDE é de 31%.

Os professores portugueses são dos mais velhos da OCDE e com mais anos de experiência, mas também são dos que têm mais formação académica: Mais de 90% têm pelo menos um mestrado, enquanto a média da OCDE é de apenas 57%.

O envelhecimento da classe docente e a dificuldade de atrair novos profissionais é um problema transversal e para os investigadores a remuneração “é crucial para atrair e reter professores”.

O estudo refere que “professores satisfeitos com os seus salários são 25% menos propensos a deixar a profissão nos próximos cinco anos”, mas defende que a satisfação com os termos de emprego, excluindo salários, é um preditor mais forte de intenções de carreira do que a satisfação salarial.

Os investigadores quiseram também perceber o que tinha ficado das práticas iniciadas com a covid-19 e se os professores usavam Inteligência Artificial (IA): Em Portugal, apenas 30% recorrem à IA (menos do que a média da OCDE), apontando como problemas a falta de conhecimentos e habilidade, mas também a inexistência de equipamentos nas escolas.

Por outro lado, 13% dos professores ensinam em escolas portuguesas onde pelo menos uma aula foi ministrada de forma híbrida ou online no mês anterior à realização do inquérito (a média da OCDE é de 16%).

Últimas do País

A nova funcionalidade do Instagram que permite descobrir conteúdos a partir da localização mais recente de amigos já está disponível em Portugal, embora represente um risco para a privacidade e segurança, alertam os responsáveis do projeto "Agarrados à Net".
Um em cada três professores em Portugal queixa-se do ruído e desordem nas aulas, segundo um inquérito internacional que mostra que os docentes mais jovens e menos experientes ficam habitualmente com as turmas mais complicadas.
A Associação Sindical dos Profissionais de Polícia (ASPP) teve hoje "uma reunião um pouco tensa" com a ministra da Administração Interna, que não garantiu "efeitos práticos" das negociações nos salários e carreiras já a 1 de janeiro de 2026.
O Tribunal Judicial de Leiria condenou hoje um arguido na pena única de sete anos de prisão por ter tentado matar três homens há precisamente um ano junto a um bar na cidade de Leiria.
Um em cada quatro alunos de instituições de ensino superior de Lisboa já ponderou abandonar os estudos por causa dos elevados custos do alojamento, segundo um inquérito realizado pela Federação Académica de Lisboa (FAL).
A Associação Sindical dos Juízes Portugueses (ASJP) alertou o Governo para o "perigo real" que as falhas e "processos artificiais" com origem na Agência para a Integração, Migrações e Asilo (AIMA) representam, rejeitando responsabilidades "por disfunções" do Estado.
A maioria das queixas ou pedidos de parecer foi iniciativa de cidadãos (442 casos), mas os partidos também contribuíram para esta contabilidade, com destaque para o PS, com 75 casos.
O Sindicato Nacional da Polícia (SINAPOL) vai realizar várias ações de protesto e sensibilização em Lisboa nos dias 21, 22, 23 e 24 deste mês para exigir a valorização salarial e da carreira dos polícias.
A Associação de Farmácias de Portugal (AFP) alertou hoje para a importância de qualquer alteração ao regime dos mínimos de serviços nas farmácias garantir o "beneficio efetivo" dos utentes e a viabilidade económica e operacional.
A Comissão para a Igualdade no Trabalho e no Emprego (CITE) recebeu em 2024 mais de 2.000 comunicações de empresas que não iriam renovar o contrato de trabalho a termo ou pretendiam despedir grávidas ou pessoas em licença parental.