Será a segunda vez que um chefe do Governo de Espanha vai a uma comissão de inquérito parlamentar responder a deputados ou senadores, depois de em dezembro de 2004 José Luís Rodriguez Zapatero, também socialista, ter sido ouvido na comissão sobre os atentados terroristas de 11 de março do mesmo ano em Madrid.
Zapatero foi ouvido numa comissão do Congresso dos Deputados, a câmara baixa das Cortes espanholas e vulgarmente designado como parlamento.
Já Pedro Sánchez será na quinta-feira ouvido numa comissão de inquérito do Senado, a câmara alta das Cortes, onde atualmente o Partido Popular (PP, direita), na oposição, tem maioria absoluta, ao contrário do que acontece no Congresso dos Deputados.
O atual primeiro-ministro será ouvido na comissão sobre o “caso Koldo”, como é conhecido o caso de suspeitas de corrupção que envolve um ex-ministro dos Transportes de Sánchez e antigo membro da direção do PSOE, José Luis Ábalos; o homem que o substituiu na direção do partido, Santos Cerdán; e um assessor de Ábalos no Governo, Koldo Garcia.
Sánchez disse na semana passada que responderá aos senadores “com total transparência” e reiterou a correção das contas do PSOE, garantindo que não há financiamento ilegal do partido.
Para o PP, há um “imenso cheiro a financiamento ilegal” no PSOE que Sánchez tem de esclarecer na audição de quinta-feira, disse há poucos dias o dirigente do Partido Popular Elias Bendodo, que referiu informações da investigação judicial tornadas públicas.
Entre essas informações estão a entrega de envelopes com dinheiro a membros do PSOE, que o partido e o próprio Sánchez asseguram ser liquidação de despesas de deslocação ou representação e não pagamentos não declarados.
A suspeita de corrupção na cúpula do PSOE adensou-se em junho passado, quando Santos Cerdán, então ainda o “número 3” do partido, ficou em prisão preventiva depois de ouvido por um juiz.
Em causa estão alegadas comissões na adjudicação de obras públicas.
O ex-ministro José Luis Ábalos e o antigo assessor Koldo García começaram, porém, a ser investigados no ano passado pela suspeita de terem cobrado comissões pela venda a organismos públicos de material sanitário, incluindo máscaras, durante a pandemia da covid-19.
A investigação foi sendo alargada, à medida que foram recolhidas provas, documentos e testemunhos pela unidade da Guarda Civil espanhola com competências de investigação policial (conhecida como UCO) e acabou por atingir também Santos Cerdán.
Ábalos foi ministro entre 2018 e 2021 e, perante as suspeitas de corrupção, foi expulso do PSOE em 2024. Santos Cerdán foi o “número 3” do PSOE entre 2017 e junho passado.
Cerdán foi também o homem que negociou com os independentistas catalães a amnistia que assegurou a reeleição de Sánchez como primeiro-ministro em 2023.
O caso de Santos Cerdán abriu em junho passado uma crise em Espanha que analistas, dirigentes partidários e imprensa chegaram a considerar quase unanimemente que colocava em risco a sobrevivência política de Pedro Sánchez.
O primeiro-ministro e líder do PSOE reconheceu haver “indícios muito graves” de corrupção envolvendo Cerdán, um dos seus homens de confiança, e pediu desculpa e perdão aos espanhóis e aos militantes do partido, mas tem reiterado que o PSOE é “uma organização limpa” e que não há suspeitas de financiamento ilegal do partido.