Luís Marques Mendes está na corrida a Belém com um currículo público vasto, mas também com um rasto empresarial e relacional que suscita interrogações legítimas. E os factos levantam perguntas que permanecem sem resposta.
Poucos meses antes de anunciar a candidatura à Presidência da República, a LS2MM — empresa familiar criada em 2014 por Marques Mendes e pela mulher, Rosa Sofia — foi dissolvida e encerrada, segundo registos oficiais consultados pelo PÁGINA UM. A decisão surge após uma alteração ao contrato de sociedade que, à primeira vista, apontava para continuidade e não para um fecho iminente: em dezembro do ano anterior, os três filhos do casal entraram no capital, ficando o casal com 70% e cada filho com 10%.
A atividade da LS2MM sempre foi discreta (sem site e com apenas um trabalhador), mas financeiramente relevante. Entre 2020 e 2025, a empresa registou cerca de 600 mil euros em prestações de serviços, com um pico de 157.500 euros em 2024 e uma quebra abrupta em 2025, ano da dissolução, quando faturou apenas 28 mil euros. No fecho, os sócios repartiram cerca de 290 mil euros, o que, após impostos, corresponde a aproximadamente 210 mil euros líquidos a distribuir.
“Um candidato a Presidente da República não pode esconder-se atrás do segredo profissional quando estão em causa potenciais conflitos de interesses. A transparência é um dever político, não uma opção”.
Apesar dos valores envolvidos, nunca foi tornada pública a lista de clientes da empresa, cujo objeto social era vastíssimo: da consultoria e comunicação ao planeamento estratégico e organização de eventos. O PÁGINA UM teve acesso a contratos entre a LS2MM e a Alberto Couto Alves, S.A., uma construtora com forte presença na contratação pública: 247 contratos com o Estado, num valor acumulado próximo de 742 milhões de euros, incluindo grandes empreitadas no Metro do Porto e outras obras estruturantes.
Em paralelo, a revista SÁBADO revelou que Marques Mendes recebeu 413.247,58 euros líquidos em 2023 e 296.309,37 euros em 2024 da Abreu Advogados, como “consultor externo” — cerca de 709 mil euros em dois anos.
Fontes do setor explicam à SÁBADO que este tipo de consultoria envolve frequentemente angariação de clientes e desbloqueio de contactos junto de entidades públicas e decisores políticos.
Para André Ventura, presidente do CHEGA e também candidato presidencial, “um candidato a Presidente da República não pode esconder-se atrás do segredo profissional quando estão em causa potenciais conflitos de interesses”, sublinhando que “a transparência é um dever político, não uma opção”. O líder do segundo maior partido acrescenta que “Portugal precisa de saber quem são os clientes, que contactos foram feitos e que portas foram abertas”, defendendo que “a Presidência não pode ser o culminar de uma carreira de influência opaca”.