A partir de Nova Iorque, o autor do recém-editado livro sobre o regime norte-coreano “A Irmã” recordou como entre dezembro de 2017 e maio de 2019 Pyongyang promoveu reuniões com a Coreia do Sul, enviou Kim Yo-jong aos Jogos Olímpicos de Inverno e concretizou encontros com o então presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, “mas a partir de meados de 2019 voltou à provocação”.
Assim, os mísseis disparados recentemente visam também “mostrar aos EUA e também à União Europeia” que há uma proximidade com a Rússia.
“Sabemos que Putin precisa de Kim. Kim precisa de Putin. Putin quer a artilharia norte-coreana, munições, mísseis balísticos de curto alcance. Sabemos que Kim quer de Putin tecnologia militar de ponta, como satélites e submarinos com propulsão nuclear”, resumiu Sung-Yoon Lee.
A invasão russa da Ucrânia “criou uma atmosfera, uma espécie de realidade que infelizmente conduz à antiga Guerra Fria”, com a Rússia e a Coreia do Norte a tentar “aumentar a sua própria influência, mesmo em relação à China”, projetando uma imagem de “parceira militar mais forte”.
O especialista previu que continuem as “provocações”, que podem até incluir um “teste nuclear”, o que não acontece desde setembro de 2017. ou “talvez até um ataque controlado, letal, em pequena escala, mas letal, à Coreia do Sul”.
Nada de inédito, já que nos últimos 70 anos têm sido lançados milhares de ataques em pequena escala que mataram muitos militares sul coreanos e cerca de 100 soldados norte-americanos, sem que a resposta fosse uma “verdadeira retaliação militar”, disse à Lusa.
Quando Seul se prepara para as legislativas de abril e os norte-americanos para as presidenciais de novembro, Sung-Yoon Lee notou como a Coreia do Norte “gosta de criar tensão durante um ano eleitoral” sobretudo para que o inquilino da Casa Branca se lembre que o regime “pode criar muitas dores de cabeça e, portanto, estará mais propenso a aceitar o próximo esforço diplomático norte-coreano”.
Para o investigador e autor do livro focado na irmã de Kim jong-un, o regime norte-coreano é uma “estranha mistura de costumes medievais” e que funciona por “ciclos de escalada, de provocação e, depois, com ciclos de pós provocação, de alcance diplomático e estratégia de paz”.
Para o estudioso da Coreia do Norte há 25 anos, o regime de Kim enquanto “ditadura hiper inflacionada e ultra militarizada” aumenta a sua posição e influência ao “exportar insegurança, criando problemas de segurança para a Coreia do Sul, para o Japão, as duas democracias da região e para o apoiante e aliado destes, os Estados Unidos”.
O provável candidato presidencial republicano Donald Trump “pode ser mais atraente para Kim e a sua irmã” por poder estar mais “propenso e talvez a ser mais imprudente e exagerado para tentar fazer história, e talvez tornar-se no primeiro presidente norte-americano a visitar realmente Pyongyang”, disse.
No caso de o atual Presidente, Joe Biden, ser reeleito, também tem “incentivo extra” para deixar um “legado de sucesso político” naquele que seria o seu último mandato.
Na Coreia do Norte como “monarquia absoluta de estilo medieval, com um ditador vitalício” há certeza de o tempo correr a seu favor, segundo o especialista.
Kim Jong-un a mostrar a filha com frequência é uma “mensagem” de como perpetua a dinastia e as armas nucleares, considera.
Quanto à mensagem para Sul, o especialista lembra como os norte-coreanos justificam as suas ações como resposta a “provocações”, pelo que os sul-coreanos tendem a desvalorizar os feitos dos seus ‘vizinhos’ e até apoiam governos de Seul que “fazem muitas concessões”, incluindo apoios financeiros como aconteceu com administrações progressivas sul-coreanas.