50 Anos de Abril: Resgatemos a Liberdade da Nossa Terra!*

Num tempo em que a luz da Europa se vai desvanecendo e as civilizações mais crentes de si ganham terreno, Portugal, milenar Estado-Nação católico, mais do que um grave problema económico, enfrenta uma crise do espírito e do carácter, na última tarde de um processo niilista de desistência colectiva do que fomos e do que queremos ser. Afundamo-nos no pântano do relativismo moral, onde os átomos se multiplicam e as moléculas se desfazem, por rompimento das suas ligações covalentes, a nossa cultura comum, substituída aqui e além pelos dogmas do individualismo liberal e da cultura woke. Trocámos Deus e a Pátria, pela alienação do consumo, falso ambientalismo, drogas e credos new age. A falta de um sentido de destino, projectam os portugueses, outrora orgulhosos da sua gesta e pertença a uma entidade maior e mais duradoura que eles próprios, numa inconclusiva busca de propósito.

Vivemos anos decisivos. O português é uma espécie ameaçada. Com uma população envelhecida, um terço dos nossos jovens fora do torrão natal e uma triplicação do número de imigrantes em seis anos, o «País de Camões» caminha a passos largos para a dissolução da sua identidade. Não aceitemos a substituição daquilo que é a seiva da sua árvore pátria, o seu povo, como uma inevitabilidade histórica. A importação de turbas de culturas distantes, não adaptáveis aos nossos costumes, levará de forma inexorável aos mesmos problemas sociais com que hodiernamente se debatem as sociedades mais cosmopolitas do Velho Continente. Resolvamos o problemas demográfico de forma orgânica. Não tenhamos medo de ser poucos, mas sejamos nós: enquanto houver portugueses, poderá haver Portugal.

Asseverava José Hermano Saraiva, nosso eterno «contador de estórias da História»: “Nós nunca fomos muitos, mas enquanto soubemos ser todos, nós fomos sempre os bastantes.” 1

Se o pecúlio de Abril é uma «apagada e vil tristeza», é a hora da Restauração. Se a nossa personalidade colectiva resistiu a seis décadas de castelhanismo, podemos sobreviver a cinquenta anos de diktats de Bruxelas. Libertemo-nos das forças que nos sequestraram a soberania: o euro-federalismo e o capitalismo globalizado homogeneizante. 

(Re)activemos a indústria, enquanto abraçamos uma cosmovisão local e tradicional, ancorada na Nação, no Município, na Família, na PME, na Ecologia, na defesa da Vida, na (re)valorização da Língua Portuguesa, capital de valor inestimável na criação de novas rotas para o mundo.

Façamos a reconciliação com o regime anterior, desconstruindo negros mitos, úteis à casta política vigente, assombrada por comparações, e, edifiquemos uma memória histórica baseada na Verdade. Sejamos autênticos: procuremos doutrinas, autores e artistas dentro de portas. 

Criemos espaços de liberdade e instrumentos de luta política pela Direita: associações, tertúlias, revistas, livros, podcasts, jornais independentes. Usemos a tecnologia a nosso favor. Formaremos uma verdadeira elite de gente íntegra, patriota e politicamente capaz, para encimar uma cultura dissidente. Hoje somos poucos, amanhã seremos mais. “Cada época é salva por um pequeno punhado de homens que têm a coragem de não serem actuais.” 2 Não sejamos actuais. É tempo de preparar a sementeira para as uvas que o nossos filhos hão de vindimar. 

“Se a morte nos vencer a meio caminho, já contentes iremos deste mundo, tendo deixado à terra do nosso berço e da nossa sepultura um testamento de Esperança.” 3

Resgatemos a Liberdade da Nossa Terra!  

 

 

*capítulo de um texto do livro “Abril pelas Direitas”, uma antologia que reúne testemunhos e ensaios de 50 personalidades das várias Direitas portuguesas.

1 José Hermano Saraiva, discurso comemorativo dos 40 anos do 28 de Maio na Assembleia Nacional, gravação completa em  https://arquivos.rtp.pt/conteudos/discurso-de-jose-hermano-saraiva-na-assembleia-nacional-nos-40-anos-do-28-de-maio/, 1966.

2  frase atribuída ao filósofo e escritor inglês Gilbert Keith Chesterton (1874-1936)

3 José Hipólito Raposo, Aula Régia, Livraria Civilização, Porto: 1936, pág. 122. 

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