“Decidi continuar. E continuar com mais força, se é possível, à frente do Governo de Espanha”, afirmou.
Sánchez revelou que ponderava demitir-se na quarta-feira passada, no dia em que um tribunal de Madrid confirmou a abertura de um “inquérito preliminar” por alegado tráfico de influências e corrupção da sua mulher, Begoña Gomez, na sequência de uma queixa de uma organização conotada com a direita radical baseada em alegações e artigos publicados em páginas na Internet e meios de comunicação digitais.
O Ministério Público pediu no dia seguinte o arquivamento da queixa, por considerar não haver indícios de delito que justifiquem a abertura de um procedimento penal.
O líder do Partido Socialista espanhol (PSOE) e do Governo de Madrid reiterou hoje que ele próprio e a família estão há anos a ser vítimas de “um assédio” e uma “campanha de descrédito” dos seus aniversários políticos, com base em boatos e mentiras que são levadas para o debate político, e apelou à reflexão sobre a “degradação da vida pública” em Espanha e à mobilização social “pela dignidade” e contra “a política da vergonha”.
“Andamos há demasiado tempo a deixar que o lodo colonize impunemente a vida política e a vida pública, contaminando-nos de práticas tóxicas”, afirmou.
Sánchez defendeu que não se pode permitir que “as mentiras mais grosseiras substituam o debate com respeito baseado em evidências”.
“Ou dizemos ‘basta’ ou esta degradação da vida pública vai determinar o nosso futuro condenando-nos como país”, afirmou.
O líder do Governo espanhol sublinhou que não está em “o legítimo debate sobre opções políticas”, mas “as regras do jogo”.
“Se consentirmos que os boatos deliberados dirijam o debate político isso causará um dano irreparável à democracia”, afirmou.
“Assumo o meu compromisso de trabalhar sem descanso, com firmeza e com serenidade pela regeneração pendente da nossa democracia e pelo avanço e consolidação de direitos e liberdades”, acrescentou.
Sánchez admitiu que o texto que publicou na quarta-feira na rede social X, em que assumiu que ponderava demitir-se, causou desconcerto e garantiu que “não obedeceu a nenhum cálculo político”.
“Precisava de parar e refletir sobre tudo isto”, afirmou, reconhecendo que se moveu por “motivos pessoais” e que expôs publicamente “sentimentos que em política não costumam ser admissíveis” num texto em que disse que muitas vezes se esquece que atrás de um político está uma pessoa e que é um homem “profundamente apaixonado” pela mulher, um alvo de ataques pessoais permanente.
“Dói viver esta situação e não a desejo a ninguém”, afirmou hoje.
Sánchez agradeceu as manifestações públicas de apoio e “a mobilização social” dos últimos cinco dias, reconhecendo que foram determinantes para tomar a decisão de continuar no cargo de primeiro-ministro.
Insistindo em que está em causa “decidir que tipo de sociedade” Espanha quer ser e “não o destino de um dirigente”, considerou que “só há uma maneira de reverter a situação”: que “a maioria social, como nestes cinco dias, se mobilize pela dignidade e senso comum travando a política de vergonha” e “que se abra caminho ao jogo limpo”.
Mais de 12 mil pessoas no sábado e outras cinco mil no domingo, segundo as autoridades locais, manifestaram-se nas ruas de Madrid no domingo em apoio a Sánchez, com pedidos par anão se demitir, juntando-se a apelos de presidentes regionais, autarcas e outros dirigentes socialistas.
Sánchez recebeu também manifestações de solidariedade da maioria dos partidos da “geringonça” parlamentar que apoia o Governo, que integra forças de esquerda e direita, nacionalistas e independentistas.
Já o Partido Popular (PP, direita) e o Vox (direita radical) acusaram Sánchez de estar a vitimizar-se e a fazer “um espetáculo” para desviar as atenções de suspeitas de corrupção e para fazer campanha em véspera de diversas eleições (regionais na Catalunha e europeias em junho).