Carta Aberta ao Sr. Presidente da República Portuguesa – Marcelo Rebelo de Sousa

Exmo. Sr. Presidente Marcelo Rebelo de Sousa,

Dedico-lhe esta carta, com a forte intenção de revelar o meu descontentamento, decerto a uma escala parcialmente coletiva, mantendo, no entanto, a base do respeito como pilar fundamental desta missiva.

Esta reação resulta das alegações quanto a possíveis ações de reparação provenientes da era colonial.
Caro Sr. Presidente, somos todos portugueses, somos todos, ainda que minimamente, responsáveis pelas ações dos nossos antepassados, sejam elas boas ou más, todos temos portanto, uma participação passiva no que concerne à História de Portugal. Fomos um dos territórios mais extensos do mundo, foi suado e sangrento, é verdade, mas de que outra maneira seria possível naquele tempo em que tais práticas estavam subjugadas aquele contexto? Escravizámos? Sim! Mas se bem me recordo também fomos o país pioneiro do abolicionismo, datado de 1761. Na minha modesta opinião, as declarações em questão, podem ser equiparadas à imagem de Joacine Katar Moreira, ainda enquanto deputada, a qual idealiza o “teatro colonial” (referindo-se ao padrão dos descobrimentos) a descolar do solo, ou seja, propondo o “desaparecimento” do mesmo. Bem como o artigo do deputado socialista Ascenso Simões, em 2021, o qual sugeriu a destruição deste monumento e com ele, em análise paralela, a morte das figuras mais emblemáticas da nossa nação, acabava-se desta forma por exemplo com Luís de Camões e os Lusíadas, o Vasco da Gama deixaria de ser recordado, bem como Pedro Álvares Cabral. Toda a matéria escolar sobre o tema sofreria alterações, pois como vem sendo prática comum em Portugal, a História seria apagada.

Ora se apagarmos a história dos descobrimentos, o que temos então para vangloriar a nossa nação? Qual o mérito que podemos prestar aos nossos arrojados antepassados por terem embarcado em caravelas toscas e sem destino, entregando assim de forma audaz e irreversível, as suas almas à causa da pátria: Os Descobrimentos!

Sr. Presidente, todos sabemos que as suas alegações podem ter sido proferidas no embalo do sentimento melancólico dos 50 anos do 25 de Abril, mas nunca se pode esquecer que, na qualidade de presidente de Portugal, quaisquer palavras são vinculativas, abarcando todo o povo português, em especial os que não se reveem em tais ideais. As suas palavras são tão vinculativas, ao ponto de no mesmo dia, a ministra da igualdade racial do Brasil, sem qualquer embaraço ou constrangimento, pedir “ações concretas”. Neste momento o Brasil esfrega as mãos e espera por mais umas “borlinhas” enquanto o povo português freneticamente espera pelo veredito de tais ações.

Senhor presidente, estas alegações vêm mesmo a calhar, pois aproveito para perguntar, embora seja um caso isolado, se o Brasil vai pagar pelos 4 milhões despendidos de forma ilegal às gémeas brasileiras. Será que ao Brasil não chega

Portugal acolher os seus cidadãos, brasileiros, com as mesmas condições do que o povo português ao abrigo da igualdade? Existem imensos tratados entre Portugal e Brasil, os quais servem para, acima de tudo, favorecer a posição do povo brasileiro em Portugal. O nosso país, para além da cidadania, proporciona ao mesmo tempo o estatuto europeu, o que o torna uma “porta de entrada para a Europa”, como todos sabemos, mas ainda assim continuamos a ceder às mesmas facilidades, independentemente da imagem que passamos para as restantes nações da união europeia. Será que estas condições não reparam o passado? A meu ver, já tudo foi feito para reparar todos e quaisquer abusos da era colonial, a nossa dívida está, há muito, saldada para com todas as ex-colónias!

Por fim, só tenho mais um pedido para fazer a vossa Exa. Sr. Presidente Marcelo Rebelo de Sousa: não queira agradar a gregos e a troianos, não coloque Portugal em mais um problema, para além do colapso político eminente que estamos a viver, precisamos de estabilidade e não de mais uma “bota para descalçar”. Por favor contenha-se, faça o seu papel e por favor, reitero, não volte a colocar em causa a História de Portugal, a história dos nossos antepassados, A NOSSA HISTÓRIA!

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