Regras no crédito à habitação são para ser levadas “muito a sério” mesmo com garantia pública

O governador do Banco de Portugal disse hoje que os bancos não podem aliviar o cumprimento das regras de concessão de crédito à habitação, a propósito da medida do Governo de garantia pública à compra de primeira habitação por jovens.

© D.R.

“A recomendação macroprudencial é para ser levada muito a sério, mesmo muito a sério”, disse Centeno na conferência de imprensa de apresentação do Relatório de Estabilidade Financeira, na sede do Banco de Portugal (BdP), em Lisboa.

Segundo o ex-ministro das Finanças do PS (Governo de António Costa), foi “muito difícil” o trabalho feito para tornar mais sólido o sistema bancário e “uma vez conquistada essa posição não é prudente pôr em causa”. Além disso, afirmou, o excesso de endividamento esteve na origem da crise financeira pelo que “deve ser acautelado”.

“Todos os critérios na recomendação macroprudencial são para ser levados muito a sério”, vincou.

Sobre a isenção do IMT (Imposto Municipal Sobre as Transmissões Onerosas de Imóveis) na compra da primeira casa pelos jovens, Centeno disse que esta medida “tem impacto sistémico muito inferior” à medida da garantia pública pois “não há aumento do endividamento das famílias”.

Sobre o decreto-lei da garantia pública, afirmou que o Banco de Portugal não teve conhecimento antes deste ser aprovado mas que há um “trabalho contínuo” entre o Bdp e o Ministério das Finanças e que o processo legislativo não está concluído, sendo que é preciso conhecer a legislação para a analisar melhor.

O Governo anunciou uma garantia pública para facilitar a compra de casa por jovens (até 35 anos) recorrendo a crédito à habitação, sendo essa garantia de até 15% do valor de aquisição dos imóveis. O Estado atua com o papel de fiador, pelo que caso a pessoa incumpra o empréstimo o Estado assume.

O ministro da Presidência, Leitão Amaro, explicou esta segunda-feira que “a garantia existe até o jovem pagar os primeiros 15% [do empréstimo] ao banco”, precisando que quando estes 15% forem, pagos “o Estado sai da equação”.

A medida, que o Governo quer ter em vigor em 01 de agosto, destina-se a jovens entre os 18 e 35 anos, com rendimentos até ao 8.º escalão do IRS, ou seja, 81.199 euros de rendimento coletável anual.

As regras atualmente em vigor estabelecem que, em geral, o crédito à habitação não pode ir além de 90% do valor da habitação própria e permanente (sendo, para este feito, considerado o valor mais baixo entre o valor de aquisição e o valor da avaliação).

O relatório de acompanhamento das recomendações macroprudenciais no crédito, apresentado em março, indicava que o perfil de risco dos novos clientes de crédito à habitação melhorou em 2023, com 61% dos novos empréstimos (em que se incluem as transferências de créditos) a serem contraídos por clientes de baixo risco.

A maturidade média ponderada das novas operações de crédito à habitação foi de 30,6 anos em dezembro de 2023, pelo que — segundo o BdP — os bancos estão a cumprir a recomendação de fazer convergir a maturidade média para 30 anos.

Em 2023, face ao aumento das taxas de juro, o Banco de Portugal reduziu de 3% para 1,5% a taxa de esforço que os bancos têm de simular para facilitar o acesso a este crédito.

Últimas de Economia

Dez instituições sociais açorianas não vão pagar o subsídio de Natal aos trabalhadores por dificuldades financeiras devido a atrasos da República nas transferências e o Governo Regional disse hoje que está disponível para ajudar a ultrapassar o problema.
Metade dos pensionistas por velhice recebia uma pensão abaixo dos 462 euros, apesar de a média de 645 euros, segundo dados analisados por economistas do Banco de Portugal (BdP), que assinalam ainda as diferenças entre géneros.
O número de passageiros movimentados nos aeroportos nacionais aumentou 4,7% até outubro, face ao mesmo período de 2024, para 63,869 milhões, segundo dados divulgados hoje pelo Instituto Nacional de Estatística (INE).
Segundo um relatório do INE realizado em 2025 sobre rendimentos do ano anterior indicam que 15,4% das pessoas estavam em risco de pobreza em 2024, menos 1,2 pontos percentuais (p.p.) do que em 2023.
As exportações de bens caíram 5,2% e as importações recuaram 3% em outubro, em termos homólogos, sendo esta a primeira queda das importações desde junho de 2024, divulgou hoje o INE.
O número de trabalhadores efetivamente despedidos em processos de despedimentos coletivos aumentou 16,4% até outubro face ao período homólogo, totalizando os 5.774, superando o total de todo o ano passado, segundo os dados divulgados pela DGERT.
Os custos de construção de habitação nova aumentaram 4,5% em outubro face ao mesmo mês do ano passado, com a mão-de-obra a subir 8,3% e os materiais 1,3%, de acordo com dados hoje divulgados pelo INE.
Os consumidores em Portugal contrataram em outubro 855 milhões de euros em crédito ao consumo, numa subida homóloga acumulada de 11,3%, enquanto o número de novos contratos subiu 4%, para 157.367, divulgou hoje o Banco de Portugal (BdP).
O Governo reduziu o desconto em vigor no Imposto Sobre Produtos Petrolíferos (ISP), aplicável à gasolina sem chumbo e ao gasóleo rodoviário, anulando parte da descida do preço dos combustíveis prevista para a próxima semana.
Os pagamentos em atraso das entidades públicas situaram-se em 870,5 milhões de euros até outubro, com um aumento de 145,4 milhões de euros face ao mesmo período do ano anterior, segundo a síntese de execução orçamental.