“A Hungria é uma ilha conservadora e patriótica num oceano extremamente liberal”, defendeu Péter Szijjártó, Ministro dos Negócios Estrangeiros e Comércio do país, na terceira Conferência de Acção Política Conservadora Americana (CPAC), no mês de Maio, na capital da Hungria. Posto isto, é de extrema relevância para o CHEGA, o estudo do seu modelo de governance.
Reavivemos assim a memória da primeira CPAC realizada em Budapeste, em 2022. Além da presença do apresentador Tucker Carlson, na altura na Fox News, estiveram presentes membros do Reassamblement National, do Vox ou dos Republicanos dos EUA. Nesta conferência, o primeiro-ministro da Hungria Viktor Orbán, apresentou um manual doutrinário com doze pontos¹, importantes pistas para a Direita soberanista europeia na luta pelo alcance/manutenção do poder, que relembro abaixo, enaltecendo os aspectos estrategicamente mais relevantes. As citações do político húngaro estão isoladas entre aspas.
- Jogar de acordo com as nossas próprias regras. Para Viktor Orbán a única forma de vencer é recusar as soluções e os caminhos oferecidos por terceiros. “É por isso que não devemos desencorajar por sermos difamados, por sermos rotulados como deploráveis, ou por sermos tratados no estrangeiro como desordeiros. Aqueles que seguem as regras dos seus adversários estão destinados a ser derrotados.”
- Implementar o conservadorismo-nacional na política interna. “A causa da Nação não é uma questão de ideologia, nem sequer de tradição. As igrejas e as famílias devem ser apoiadas porque são os alicerces de uma Nação. Isto também significa que se deve permanecer do lado dos eleitores.” De acordo com o primeiro-ministro magiar, o seu governo decidiu construir uma vedação na fronteira sul da Hungria, porque o povo húngaro manifestou não querer viver com imigrantes ilegais. Fê-lo em três meses.
- Defender o interesse nacional na política externa. Para os progressistas, a política externa é uma batalha de ideologias entre o bem e o mal. “A nossa resposta deve ser uma antítese clara e simples: A Nação Primeiro! A Hungria Primeiro! A América Primeiro! Precisamos de uma política externa baseada nos nossos interesses.” A título de ilustração e em relação ao conflito da Ucrânia, apesar da hospitalidade com que acolheram os refugiados em 2022, Órban assegura, que os húngaros “não querem pagar o preço da guerra, porque não é a sua guerra e não beneficiarão dela. O nosso objectivo é restaurar a paz, não continuar a guerra, porque é isso que é do nosso interesse nacional.” O realismo é a melhor via para a consecução do nacionalismo.
- Deter os nossos próprios meios de comunicação. Segundo Orbán, a opinião da esquerda só parece ser maioritária, porque os meios de comunicação social ajudam a amplificá-la. O problema é que os media ocidentais estão alinhados com a visão esquerdista. “Já alguma vez tentaram contar quantos meios de comunicação social servem o Partido Democrata [nos EUA] ? A CNN, o New York Times, e eu podia continuar a contar.” Este acrescentou ainda, que aqueles que ensinavam os jornalistas nas universidades, já professavam princípios progressistas de esquerda. A luta política é para o estadista húngaro, indissociável da luta cultural.
- Expor as verdadeiras intenções dos adversários. A existência de meios de comunicação de Direita é uma condição necessária, mas não suficiente para a vitória. “Também é preciso quebrar tabus. Aqui na Hungria, expomos o que os da esquerda estão a preparar, antes mesmos de eles agirem. Por exemplo, há a questão da propaganda LGBTQ+ dirigida às crianças. Isto ainda é uma coisa nova aqui, mas já a destruímos. Trouxemos a questão para a luz do dia e realizámos um referendo sobre ela. A esmagadora maioria dos húngaros rejeitou esta forma de sensibilização das crianças. Ao revelarmos numa fase inicial aquilo que a esquerda se preparava para fazer, pusemo-los na defensiva, e quando atacaram a nossa iniciativa, acabaram por ser forçados a admitir a realidade do seu plano.”
- Seguir políticas económicas que beneficiem mesmo aqueles que não votaram em nós. “As pessoas querem progredir na vida. Se um governo de Direita não conseguir fazer isso, está condenado ao fracasso”, afirmou o chefe de governo da Hungria. “As pessoas querem empregos, não teorias económicas.”
- Não ser arrastados para um extremo. Se a esquerda progressista vive em utopia, à Direita emergem de vez em quando “teorias da conspiração extremas”. “Podemos ganhar imensa popularidade nos fóruns da Internet promovendo teorias da conspiração – e, de facto, por vezes há nelas verdade; mas na realidade alienaremos uma grande parte do eleitorado e ver-nos-emos empurrados para as margens, e eventualmente perderemos. Se olharmos com atenção, veremos que as pessoas não querem ter nada a ver com elas.”
- Ler todos os dias. “Os livros são a melhor forma de compreender e comunicar coisas complexas. E o mundo está a ficar cada vez mais complicado, por isso é preciso dedicar algum tempo a compreendê-lo.” Mas não percamos nunca de vista o sentido prático dos nossos conhecimentos: “temos de traduzir tudo isto na linguagem da acção quotidiana e da comunicação política”, disse Viktor Orbán.
- Ter fé. “Se alguém não acredita no Juízo Final, pensa que pode fazer tudo o que estiver ao seu alcance. A sua falta de fé é, portanto, perigosa”, observou o líder da nação de Santo Estêvão. Já diz o provérbio: «mente vazia, oficina do diabo».
- Fazer amigos. “Os nossos adversários, os liberais progressistas e os neomarxistas, estão sempre unidos. Apoiam-se uns aos outros. Pelo contrário, nós, conservadores, somos capazes de discutir uns com os outros sobre a mais pequena questão.” O presidente do Fidesz alerta: “Se querem ser bem sucedidos na política, nunca olhem para o facto de discordarem de outra pessoa, mas procurem ver onde têm pontos em comum.”
- Construir comunidades. “Quanto menos comunidades existirem e quanto mais solitárias forem as pessoas, mais os eleitores se voltam para os liberais. Por outro lado, quanto mais comunidades existirem, mais votos obtemos.” O líder magiar assevera que “não há sucesso político conservador sem comunidades funcionais”.
- Construir instituições políticas. De acordo com Orbán, enquanto os políticos vêm e vão, as instituições permanecem connosco durante gerações. O primeiro-ministro defende a importância do estabelecimento de “grupos de reflexão, centros educativos, oficinas de talentos, institutos de relações externas, organizações de juventude”, e tendo sempre como objecto uma meta política. “As instituições, têm a capacidade de renovar intelectualmente a política. Novas ideias, novos pensamentos e novas pessoas são necessárias, uma e outra vez. Se elas se esgotarem ficaremos sem munições e o nosso adversário não mostrará misericórdia em nos derrubar.”