Numa entrevista à TSF e ao Diário de Notícias, David Justino sugere ainda apoio de todos para um final de mandato com dignidade da Procuradora-Geral da República.
O subscritor do Manifesto dos 50, que pede uma reforma na Justiça, diz-se incomodado com o “silêncio ruidoso do PSD”, acrescentando: “Então que diga claramente que não concorda com aquilo que se pretende e que não está disponível para o fazer agora”.
“Confesso que fico triste. Pelo menos não me desiludo. Só posso desiludir-me quando estou previamente iludido e eu nunca estive iludido sobre isso, não é? Nomeadamente com a atual direção do PSD”, afirma David Justino, sublinhando: “A única coisa que eu estranho é, precisamente, este silêncio que é comprometedor, na minha opinião. E tenho pena”.
Diz que “começa a haver sobreposição excessiva” de posições que identifica ao nível do próprio sistema de justiça “com outras posições ao nível da extrema-direita” e defende que a Procuradora-Geral da República já deveria ter explicado alguns dos atos processuais mais polémicos.
“Deveria de haver uma preocupação pedagógica para poder chegar ao grande público, no sentido de esclarecer porque é que se fez assim e não se fez de outra maneira”, afirma.
Questionado sobre se acredita que as escutas dos processos criminais que têm maior visibilidade são libertadas intencionalmente para condicionar os próprios processos e mesmo para ter efeitos políticos, responde: “Há aquela velha frase se non è vero, è ben trovato”.
“Na verdade, eu julgo que já não são coincidências, porque não é um problema dos dois ou três últimos casos. É uma prática reiterada, já de há alguns bons anos para cá, de divulgação de escutas, divulgações oportunas em função de um determinado objetivo que se quer atingir. E esse objetivo tem a ver com a ação política. Portanto, a partir dessa altura, eu já não me ponho em dúvida sobre isso”, considera.
Diz que, neste momento, tem a certeza de que “tem havido uma agenda política com determinados fins”.
“Não sou ingénuo ao ponto de dizer que, no fundo, não há outras intenções que não sejam o querer fazer justiça”.
Defende que, na política, há gente corrupta, mas também gente séria e acrescenta: “Tal como eu separo as águas entre aquilo que são alguns setores do MP [Ministério Público] e aquilo que é, se calhar, a grande maioria dos magistrados do MP que fazem o seu trabalho como deve ser, que são competentes e que não tem preconceitos, faço o mesmo em relação aos políticos”.
Confrontado com o facto de esta ideia da generalização da corrupção na política ser muito alimentada por partidos de direita radical, afirma: “Esse é que é o problema. É que quando eu começo a ver um partido como o Chega a tomar determinadas posições, a defender determinado tipo de situações… é que parece que eles não são políticos, eles referem-se aos políticos como se fossem outros”.
Sobre o que defende o Manifesto dos 50, diz que os subscritores não confundem todos os 1.600 procuradores, mais os funcionários, com um setor muito específico do MP, mas sublinha que “há um conjunto de práticas, nomeadamente, ao nível da parte processual da área penal”, que “levantam sérias dúvidas”.
“Esta ideia de se querer transformar numa espécie de regulador ético moral da vida política. Eu acho que isto é uma ameaça. É grave que alguém, em vez de se basear em factos e em procedimentos legalmente consagrados se esteja a orientar por preconceitos de ordem ética ou moral”, conclui.