O secretário de Estado da Agricultura, João Moura, está debaixo de fogo. A Polícia Judiciária investiga o governante por suspeitas graves de corrupção e branqueamento de capitais, num processo que já abalou os corredores do poder e promete não ficar por aqui. A denúncia partiu do Correio da Manhã, nesta segunda-feira, que avançou em primeira mão os contornos do caso, com indícios de movimentações financeiras suspeitas entre as empresas detidas por Moura e pela sua esposa.
Em causa está sobretudo a empresa Quadrado ao Metro, sediada na Golegã, onde o secretário de Estado terá investido cerca de 600 mil euros num imóvel de luxo, levantando dúvidas sobre a origem dos fundos utilizados. Além desta, João Moura declarou ser ainda sócio da Metric Memory, uma sociedade multifacetada que abarca desde turismo rural até à importação e exportação de produtos alimentares, vestuário, calçado, restauração, consultoria e exploração agrícola e animal. Ambas as empresas são detidas em partes iguais por Moura e pela sua mulher.
Face à gravidade das suspeitas, o CHEGA não perdeu tempo e exigiu esclarecimentos imediatos, tendo já enviado um requerimento à comissão parlamentar de Agricultura e Pescas a pedir a audição urgente do secretário de Estado. Para o partido liderado por André Ventura, este é mais um episódio que revela o “estado de podridão moral que continua a contaminar a política portuguesa”.
“O povo português está farto de escândalos e de governantes que se julgam acima da lei. Se o senhor João Moura nada tem a esconder, então que venha ao Parlamento explicar-se. Se não o fizer, deve ser demitido com urgência. Não podemos permitir que a corrupção continue a ser abafada dentro do próprio Governo”, declarou André Ventura.
A exigência do CHEGA surge numa altura em que o primeiro-ministro, Luís Montenegro, tentou desvalorizar o caso, dizendo desconhecer qualquer investigação em curso. “Não temos nenhuma informação sobre isso. Se há alguma coisa a investigar, que seja investigada”, afirmou o chefe do Governo. Montenegro foi mais longe e deixou críticas ao que apelidou de “sistema baseado em denúncias anónimas”, recusando comentar a continuidade de João Moura no cargo com base nas notícias.
Mas para o CHEGA, o silêncio do primeiro-ministro é ensurdecedor e representa uma tentativa de encobrimento. “Montenegro pode fingir que não sabe, mas o país está atento. E o CHEGA estará sempre na linha da frente para denunciar e exigir responsabilidades a todos, sem exceção”, reforçou Ventura.
Além das suspeitas financeiras, o passado empresarial de João Moura também levanta dúvidas. O agora secretário de Estado esteve ligado ao empresário João Gama Leão, um dos maiores devedores do Novo Banco e figura central no escândalo do Grupo Prebuild, tendo sido acionista de uma sociedade offshore sediada em Malta – a Legomix Trading Limited. Esta ligação foi denunciada em 2017, numa audição parlamentar conduzida pelo então deputado do PSD, Hugo Carneiro.
Com todos estes dados em cima da mesa, o CHEGA considera inaceitável que um governante sob investigação judicial continue a exercer funções públicas sem prestar contas à Assembleia da República e, sobretudo, ao povo português.
“A Justiça deve seguir o seu curso, mas a política não pode ficar à espera. Um secretário de Estado com este tipo de suspeitas não pode manter-se no cargo como se nada se passasse. É por isso que o CHEGA exige total transparência”, concluiu André Ventura.
A pressão está agora do lado do Governo. A PJ avança com a investigação. E o país observa. O CHEGA promete não largar o caso e manter a vigilância sobre todos os que colocam os seus interesses pessoais acima dos interesses de Portugal.
PS e PSD travam audição urgente
O CHEGA exigiu a audição urgente de João Moura no Parlamento para prestar esclarecimentos. No entanto, o pedido foi chumbado com os votos contra do PS e do PSD, numa decisão que o partido liderado por André Ventura considera “inaceitável e reveladora de um conluio político que continua a proteger os de sempre”.
“Foi uma discussão acesa. Dissemos olhos nos olhos ao PS e ao PSD que estão a proteger os negócios uns dos outros. Recusam-se a permitir o apuramento da verdade porque têm receio de que o caso João Moura seja apenas a ponta do icebergue. Isto é um escândalo político de grandes proporções”, acusou o deputado Pedro Frazão, em declarações ao Folha Nacional, logo após a reunião.
A proposta do CHEGA foi apenas apoiada pelo PAN, com a ausência de todos os restantes partidos, o que, para Ventura, representa “um silêncio cúmplice e uma tentativa clara de silenciar o escrutínio público sobre os negócios das elites políticas”.
“O que vimos hoje no Parlamento foi um bloqueio claro à verdade. PS e PSD estão juntos nisto. Estão a proteger mais um dos seus e, com isso, a trair o povo português. O CHEGA não se cala. Vamos continuar a lutar para que João Moura venha ao Parlamento dar explicações. E se não vier, deve ser afastado imediatamente do cargo”, disparou o líder da oposição.