“Nós temos um projeto de investimento apoiado pelo Portugal 2030, de instalação de uma máquina de grandes dimensões de fabricação metálica aditiva, que seremos, a nível de ‘service provider’ [prestador de serviços], a empresa com maior capacidade a nível europeu”, disse à Lusa Afonso Nogueira, diretor-geral da HyperMetal, situada na zona industrial de São Caetano, em Vila Nova de Gaia (distrito do Porto).
Em causa está um projeto de 4,5 milhões de euros, dos quais 40% são financiados pelo programa de fundos europeus Portugal 2030, que está ameaçado pelas alterações que o consórcio AVAN Norte quer fazer ao traçado da linha de alta velocidade em Gaia, que prevê demolições na zona para construir uma estação em Vilar do Paraíso, em vez de Santo Ovídio, conforme está assinado no contrato de concessão.
“Nós temos duas hipóteses: uma é esperar, sem sabermos exatamente prazos exatos para avançar com o projeto, correndo o risco de não cumprir os prazos de Portugal 2030 e de não conseguir cumprir estes contratos em que estamos a começar. Por outro lado, também podemos avançar já com a instalação da máquina nestas instalações, sem sabermos o dia de amanhã e se eventualmente haverá uma deslocalização e uma interrupção desses contratos, que poderão ser críticos para a sobrevivência da empresa”, conta à Lusa o responsável.
O projeto é “único” na Europa porque, na área das empresas subcontratadas que fazem parte da linha de produção da fabricação de foguetões, a HyperMetal será “a segunda empresa” a ter uma máquina de tal capacidade, pois a outra “trabalha em exclusivo para outra empresa da Defesa”, ao passo que a empresa gaiense poderá fabricar, na Europa, motores “semelhantes aos Raptor”, da SpaceX.
A tecnologia em causa é a “Laser Power Bed Fusion, que é um tipo de fabricação metálica aditiva, ou impressão 3D de metal, e o que permite fazer é, de uma forma mais controlada e qualificada, peças de grandes dimensões”, pelo que se atualmente a HyperMetal já consegue “fazer motores para foguetões, lançadores para ‘low orbit’ [órbitas baixas]”, a nova máquina vai “permitir fazer para clientes que querem fazer motores até órbitas superiores”, algo que até já mereceu uma carta de recomendação da Agência Espacial Portuguesa, salienta Afonso Nogueira.
“Nós já confirmámos, estamos em fases finais da adjudicação do equipamento, e neste momento não podemos avançar com a adjudicação para colocar nestas instalações”, correndo “o risco de ter que deslocalizar”, o que “a nível de custo financeiro e custo de paragem de produção vai ser muito impactante negativamente (…) e coloca em risco os contratos grandes” nos quais a empresa está a trabalhar.
A HyperMetal, que faz parte da recentemente constituída Associação das Empresas da Zona Industrial de São Caetano, criada para contestar o traçado proposto pelo consórcio AVAN Norte (Mota-Engil, Teixeira Duarte, Alves Ribeiro, Casais, Conduril e Gabriel Couto), instalou-se ali há cerca de um ano e meio, “o projeto [aeroespacial] foi aprovado em setembro e cerca de duas semanas depois” a empresa foi abordada “por um elemento enviado pelo consórcio” com uma “atitude intimidatória”, dizendo que a empresa “teria que sair até dezembro”.
“Obviamente, nós não podemos deslocalizar a empresa tão rapidamente. Em Gaia, aqui nas redondezas, é difícil encontrar outras soluções de espaços que cumpram os nossos requisitos. O que é que isto leva? Poderá nos obrigar a ter que deslocar para outros concelhos, e isto tem sobretudo um impacto muito grande naquilo que são os nossos trabalhadores, que são trabalhadores altamente qualificados”, refere Afonso Nogueira.
Na semana passada, o porta-voz da Associação das Empresas da Zona Industrial de São Caetano denunciou à Lusa que o projeto da linha de alta velocidade “está repleto de opacidade”, instando o Governo a “assumir as suas responsabilidades” e concordando, numa audiência parlamentar, com a existência de “chantagem”.
O Relatório de Conformidade Ambiental do Projeto de Execução (RECAPE) do troço Porto – Oiã da linha de alta velocidade entrou em consulta pública na quarta-feira no portal participa.pt, estando esta disponível até 11 de novembro.
O número de demolições previstas no projeto da linha de alta velocidade entre o Porto e Oiã é de 236, das quais 185 habitações e 45 empresas, segundo o RECAPE.