Estudo pede medidas urgentes para proteger saúde de cuidadores informais

Os cuidadores informais em Portugal enfrentam níveis muito elevados de exigência, falta de apoio e sinais preocupantes de desgaste físico e emocional, conclui um estudo hoje apresentado no VII Encontro Nacional de Cuidadores Informais, no Entroncamento.

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“Existem muitas exigências e poucos recursos para lhes fazer frente. É urgente apostar nos fatores de proteção e reduzir os fatores de risco para melhorar o bem-estar de quem cuida”, afirmou hoje à Lusa a coordenadora do estudo do Centro de Investigação e Intervenção Social do Iscte (CIS-Iscte), Ângela Romão.

A apresentação decorreu hoje de manhã no Cine-Teatro São João, no Entroncamento, distrito de Santarém, no âmbito do VII Encontro Nacional de Cuidadores Informais, promovido pela Associação Nacional de Cuidadores Informais (ANCI) e pelo Centro de Ensino e Recuperação do Entroncamento (CERE), sob o tema ‘Dar voz aos Cuidadores Informais: Legislação e Medidas por Implementar’.

O estudo, desenvolvido pelo CIS-Iscte em colaboração com a ANCI durante cerca de um ano, em período de pandemia, e que envolveu cerca de 200 cuidadores, teve como objetivo analisar os fatores psicossociais de risco e de proteção associados à prestação de cuidados informais.

Em declarações à Lusa, Ângela Romão explicou que o estudo procurou “avaliar os fatores psicossociais que caracterizam o ambiente de trabalho dos cuidadores informais e compreender o seu impacto na saúde e bem-estar”.

“Achamos que o cuidado informal é visto como uma forma de trabalho, apesar de não ser reconhecido formalmente como tal. Queríamos investigar características relacionadas com o trabalho que influenciam a saúde e o bem-estar, e o que vimos foi que existem fatores protetores e fatores de risco – e que predominam claramente os de risco”, referiu a investigadora.

Entre os principais fatores de risco identificados estão as exigências quantitativas e emocionais, traduzidas em muitas horas de trabalho, exposição constante ao sofrimento da pessoa cuidada e falta de apoio e reconhecimento, nomeadamente por parte do Estado, declarou.

“A maioria dos cuidadores refere falta de apoio, falta de reconhecimento e sente-se injustiçada por representar um trabalho tão importante e pouco valorizado. Sentem-se invisíveis”, disse, apontando a um “desequilíbrio” funcional.

“Existe um desequilíbrio: muitas exigências e poucos recursos para as combater. O que podemos fazer é apostar nos fatores de proteção e reduzir as exigências para que os cuidadores tenham melhor bem-estar e se sintam mais reconhecidos”, acrescentou.

A investigadora salientou ainda que, “em termos de carga de trabalho e carga emocional, é como se quem cuida estivesse sempre em contexto de pandemia”, dado que os níveis de pressão e cansaço se mantêm constantes mesmo fora de períodos de crise.

O estudo, conduzido por Ângela Romão e Isabel Correia, do CIS-Iscte, aplicou o COPSOQ II, uma ferramenta internacionalmente usada para avaliar riscos psicossociais em contextos laborais, adaptada ao contexto dos cuidados informais.

Os resultados apontam para exigências cognitivas e emocionais muito elevadas, escassez de recursos pessoais e institucionais, e baixa perceção de justiça e reconhecimento por parte do Estado.

Os cuidadores informais reportam falta de tempo, apoio e orientação, trabalhando frequentemente sem remuneração, formação adequada ou descanso, o que se reflete negativamente na sua saúde física e mental.

Segundo o estudo, a previsibilidade das tarefas, a transparência do papel desempenhado e a confiança nas instituições emergem como fatores protetores, mas ainda insuficientes.

“Responder às crescentes necessidades de cuidado de uma população envelhecida só será possível se se reconhecer e valorizar o papel insubstituível de milhares de cuidadores informais em Portugal”, concluiu Ângela Romão.

O estudo foi realizado no contexto da pandemia de Covid-19, período em que os dados mostraram uma maior degradação da saúde mental dos cuidadores face à população geral.

Contudo, a carga de trabalho manteve-se semelhante à de períodos anteriores, sugerindo uma pressão constante sobre quem presta cuidados.

De acordo com a PORDATA, Portugal registava em 2024 o segundo índice de envelhecimento mais elevado da União Europeia, com 192,4 idosos por cada 100 jovens, e mais de metade dos cuidadores informais encontram-se em sobrecarga, segundo dados do Instituto da Segurança Social.

As investigadoras defendem a implementação urgente de medidas concretas que reduzam as exigências e aumentem os recursos disponíveis, nomeadamente através da aplicação efetiva do Estatuto do Cuidador Informal, aprovado mas ainda com execução limitada.

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